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Terapia genética conseguiu reverter cegueira em ratos

Um ano após o tratamento, eles se localizaram melhor no ambiente em que estavam e até conseguiram reconhecer objetos

Por Guilherme Eler
Atualizado em 11 mar 2024, 16h41 - Publicado em 3 out 2017, 18h43

Quem sofre de retinose pigmentar tem de se acostumar a ver o mundo através de uma luneta: a doença faz com que apenas uma pequena região no centro do olhar permaneça visível, enquanto todo o resto da cena fica escura [como você pode ver neste exemplo]. Isso acontece por causa da perda progressiva de milhões de fotorreceptores presentes no olho, especializados em capturar a luz do ambiente. A doença é a causa de cegueira mais comum entre os jovens, atingindo 1 em cada 4 mil pessoas ao redor do planeta – e era, até então, tida como irreversível.

Cientistas da Universidade de Oxford, no entanto, conseguiram recentemente solucionar o problema em ratos. Graças a terapia genética, foi possível reprogramar as células da visão que sobraram e aumentar a sensibilidade dos olhos das cobaias à luz. No estudo, publicado no jornal PNAS, os cientistas esperam que a técnica sirva para recuperar pacientes em estágios terminais de perda de visão.

“Os efeitos da retinose pigmentar para as famílias que têm de conviver com essa doença é devastador, e nós gastamos vários anos trabalhando em novas formas de reduzir as perdas e começar a restaurar sua visão”. Explicou Robert MacLaren, professor da Universidade de Oxford, em comunicado. “Essa nova técnica é promissora porque, ao usar uma proteína humana que está presente no próprio olho reduzimos as chances de causar uma resposta imune no organismo”.

Apesar dos fotorreceptores morrerem com o tempo(e é por isso que perdemos a visão com o passar da idade), as outras células da retina que não são sensíveis à luz permanecem intactas. O que os pesquisadores fizeram foi estimular essas células a “copiarem” a habilidade das irmãs falecidas.

Para isso, bastou injetar na retina das cobaias um vírus modificado, encarregado de despejar um de seus genes dentro das células remanescentes. Foi esse gene que permitiu às sobreviventes começarem a expressar a melanopsina, proteína sensível à luz. Assim, as células se tornaram capazes de responder os estímulos visuais e repassá-los ao cérebro – recuperando a visão dos ratos cegos.

Os cientistas acompanharam a resposta das cobaias à terapia durante um ano. Nesse período, os roedores melhoraram significativamente sua resposta a estímulos visuais. Eles se tornaram mais capazes de reconhecer objetos em seu ambiente e ficaram mais atentos a seus arredores, em comparação a ratos cegos que não passaram pelo tratamento.

“Há um grande número de pacientes nessa situação, e a possibilidade de devolver a eles ao menos parte dessa função – usando um procedimento genético simples – é animadora”, contou Samantha de Silva, que liderou o estudo. “Nosso próximo passo será dar início aos testes clínicos com pacientes humanos”, completa.

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