Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
Continua após publicidade

Morreu mais gente de Covid na zona leste de São Paulo do que na China

E nos países pobres a subnotificação segue gritante. Entenda o que isso pode significar pra o Brasil.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 mar 2021, 17h51 - Publicado em 19 mar 2021, 17h42

Um ano de pandemia. No dia 11 de março de 2020 a OMS declarou que, sim, a Covid-19 era mesmo uma doença infecciosa de alcance global. O número de mortos no Brasil naquele dia era zero. O primeiro óbito foi registrado na cidade de São Paulo. Na época, a Europa já era o epicentro da doença, mas a Covid, na cabeça das pessoas, ainda era sinônimo de China.

Um ano depois, e a cidade de São Paulo contava 19,1 mil óbitos. A China, 4,8 mil. É isso. Morreu mais gente na zona leste da capital paulista do que no país continental de 1,4 bilhão de habitantes onde o vírus surgiu. País contra país, é 0,35 morto para cada 100 mil habitantes na China versus 126 no Brasil. A primeira impressão diante desses números pode ser a de que a ditadura chinesa manipula dados. Mas seria uma visão simplista. A vizinha Taiwan é uma democracia, um país livre, bem menos propenso a uma eventual maquiagem de estatísticas, e a conta lá é ainda menor: 0,04 óbito por 100 mil pessoas. 88% menos que na China.

O fato é que os números são baixos em todo o Oriente. O país do extremo leste asiático com mais mortos por Covid é o Japão: 6 para cada 100 mil habitantes. Na Coreia do Sul, metade disso – e a do Norte não conta, pois jaz sob um regime mitômano, que insiste em dizer que o vírus não atravessou a zona desmilitarizada que separa as Coreias. Conta outra, Kim.

A explicação para a disparidade entre o Ocidente e o Oriente está na cultura. Os povos do Leste sempre praticaram um certo distanciamento social, com menos toques, beijos e abraços. E tem a parte da disciplina social. O hábito já era usar máscara em qualquer caso de resfriado, para poupar o próximo dos seus espirros contaminados. Os índices baixos do Oriente, então, são a grande prova empírica de que o distanciamento é a única medida preventiva que funciona.

Continua após a publicidade

Mas há outra excentricidade numérica, mais surpreendente. São as estatísticas altíssimas de mortalidade nos países ricos. Na conta por 100 mil habitantes, o número de mortos nos EUA (160) é 26% maior que o do Brasil; o do Reino Unido (187), 48%; o da Bélgica (194), 53%. Dos dez países com mais mortes por 100 mil habitantes, todos fazem parte da OCDE, o clube das nações desenvolvidas.

Entre os países pobres, acontece o oposto. O índice da Índia (11,6) é 90% menor que o nosso. O da Nigéria (1,0), 99%. Toda a África subsaariana, na verdade, apresenta índices menores que os do Japão. A única exceção é a África do Sul (87), justamente o país mais rico do continente.

Então ou o vírus gosta de dinheiro ou a subnotificação das mortes nas regiões mais pobres do planeta ainda é gritante. Desnecessário dizer qual é a alternativa mais científica.

Resta saber onde o Brasil se encaixa aí. Como bem definiu o economista Edmar Bacha, na década de 1970: somos uma Belíndia – uma rica Bélgica incrustada numa pobreza indiana. Dá para cravar que a subnotificação no Brasil não é aguda. Se fosse, não ocuparíamos o 24° lugar no ranking de mortes por 100 mil habitantes, uma posição que não é baixa. Por outro lado, também é impossível descartar que a subnotificação por aqui talvez seja maior do que nos países da OCDE, e que a situação esteja ainda mais grave. É a cara do Brasil, um país que sofre de transtorno bipolar, deitado eternamente no berço esplêndido da desigualdade.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.