OMS aconselhou Ucrânia a destruir vírus e bactérias usados em ‘biolaboratórios’
Medida visa a evitar o vazamento de patógenos perigosos, diz entidade; pelo menos um laboratório, em Odessa, foi construído e era operado com a ajuda dos EUA; Rússia diz que objetivo era o desenvolvimento de armas biológicas; caso irá ao Conselho de Segurança da ONU
Medida visa a evitar o vazamento de patógenos perigosos, diz entidade; pelo menos um laboratório, em Odessa, foi construído e era operado com a ajuda dos EUA; Rússia diz que objetivo era o desenvolvimento de armas biológicas; caso irá ao Conselho de Segurança da ONU
“A OMS recomendou fortemente que o Ministério da Saúde da Ucrânia e outros órgãos responsáveis destruam patógenos de alto risco para prevenir quaisquer possíveis vazamentos”, afirmou a entidade em nota enviada à agência de notícias Reuters. A OMS não diz quais patógenos seriam esses, nem quando recomendou ao governo ucraniano que eles fossem destruídos. Mas sua declaração coloca lenha na fogueira do caso, em que a Rússia tem acusado a Ucrânia de manter laboratórios para o desenvolvimento de armas biológicas.
Na última terça-feira (8), a subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, foi sabatinada pelo Congresso americano. Perguntada se a Ucrânia tem armas químicas ou biológicas, ela não confirmou nem negou: “A Ucrânia tem instalações de pesquisa biológica, com as quais nós estamos bastante preocupados, que tropas russas possam tentar assumir o controle delas. Nós estamos trabalhando com os ucranianos para impedir que esses materiais de pesquisa caiam nas mãos das forças russas.”
Os americanos financiam pesquisas biológicas na Ucrânia pelo menos desde o ano de 2005, quando os dois países assinaram um tratado a respeito. O documento prevê a realização de pesquisas do tipo – sob a supervisão dos EUA, que forneceriam “material (incluindo equipamentos, instrumentos e outros insumos), treinamento de pessoal e serviços”.
O objetivo, segundo o acordo, é “exclusivamente prevenir a proliferação da tecnologia, patógenos e expertise localizados em instalações na Ucrânia, e que poderiam ser usados no desenvolvimento de armas biológicas”. Em suma: o documento proíbe o uso de patógenos perigosos como armas, mas permite que eles sejam estudados em laboratório.
Em 2010, um laboratório de pesquisas biológicas foi construído em Odessa, a terceira maior cidade do país, com recursos do Cooperative Threat Reduction Program (CTR), um programa americano criado após o fim da URSS. Oficialmente, o CTR tem o objetivo de desmontar e controlar armas nucleares, químicas e biológicas que haviam sido desenvolvidas pela União Soviética.
O laboratório de Odessa possui certificação de biossegurança nível 3 (BSL-3), o segundo nível mais alto que existe. Os BSL-3 são aptos a trabalhar com patógenos letais e que se espalham pelo ar, como antraz, toxina botulínica, bactérias como a Y. pestis (que causa a peste negra) e a B. abortus (que causa a brucelose), bem como coronavírus e hantavírus.
A Rússia afirma que, além do centro de Odessa, a Ucrânia possui biolaboratórios em Kiev e Kharkov – e os três realizaram pesquisas com fins militares. Uma delas, segundo a Rússia, teria o objetivo de “estudar o espalhamento de infecções, como o vírus H1N1, por meio de aves migratórias”. O Ministério da Defesa russo apresentou supostas provas disso, mas não há como verificar sua autenticidade.
A Rússia pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta sexta-feira (11) para discutir o assunto. A China também se manifestou sobre o tema, acusando os EUA de manter 336 biolaboratórios em 30 países, incluindo a Ucrânia, e pedindo que as informações sobre eles sejam divulgadas. “As atividades biológicas com fins militares dos EUA na Ucrânia são apenas a ponta do iceberg”, disse Zhao Lijian, porta-voz do ministério das relações exteriores chinês.
Lijian não mencionou um caso célebre: o National Institutes of Health (NIH), do governo americano, financiava pesquisas com patógenos no Instituto de Virologia de Wuhan (WIV), até hoje envolto na polêmica sobre a origem do Sars-CoV-2.