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Por que as grávidas têm desejo de comer coisas diferentes?

Depende. A vontade de comidas comuns tem a ver com flutuações hormonais. Mas se a gestante está a fim de bater um pratão de tijolo, a coisa muda de figura.

Por Leo Caparroz
6 mar 2024, 09h32

Não se sabe ao certo. 

A resposta que você talvez já tenha ouvido é que os desejos seriam o corpo avisando de alguma deficiência nutricional. Não faltam listas na internet que associem as vontades aos supostos déficits: frutas para vitamina C, sorvete para cálcio, carne vermelha para ferro e por aí vaí.

Acontece que não há evidências científicas suficientes para dizer que essa é a causa – várias gestantes saudáveis, que estão com a nutrição em dia, ainda têm esses desejos. A única exceção notável é a da anemia, que de fato parece ser capaz de induzir comportamentos alimentares arriscadas em algumas pessoas (e que abordaremos mais adiante no texto). 

Uma hipótese mais razoável é de que as vontades estejam ligadas às mudanças hormonais no corpo da mulher.

Durante a gravidez, os altos níveis de estrogênio e progesterona podem aumentar a sensibilidade das papilas gustativas. Essa oscilação no paladar faz com que certos sabores fiquem mais intensos e atraentes, enquanto outros se tornam repulsivos. E assim, a futura mãe começa a amar petiscos de que não gostava antes.

A reação em cadeia hormonal também dá um gás na produção de dopamina e grelina. A dopamina é o neurotransmissor associado à motivação e a vontade, e é a responsável por tornar satisfatório o momento em que você finalmente come uma refeição especial. Já a grelina é o hormônio da fome, responsável por regular o apetite.

Essas vontades “normais” ou seja, de coisas que são realmente comestíveis são as mais comuns. Aquelas realmente esquisitas, se forem recorrentes, podem caracterizar um caso de alotriofagia (também chamada de síndrome de pica).

Esse transtorno alimentar é caracterizado pelo impulso recorrente de comer coisas que não foram feitas para serem comidas, como terra, tijolo, bucha de pia, amido de milho, arroz cru…

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, a síndrome de pica é a ingestão persistente de substâncias não nutritivas por pelo menos um mês em uma idade em que isso é inadequado.

Então, não se preocupe: quando seu priminho comia giz de cera com um ano de idade, ou aquela única vez em que você mordeu o sabonete tutti-frutti, não são alotriofagia.

Algumas das causas da síndrome de pica são estresse e ansiedade exacerbados e deficiências nutricionais. Pessoas com a síndrome geralmente apresentam falta de minerais como ferro (anemia), cálcio e zinco.

Um estudo de revisão sistemática analisou vinte pesquisas feitas com pacientes com alotriofagia e apontou que, em todos os casos, todos os pacientes tiveram melhoras nos sintomas depois da suplementação de ferro.

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Durante a gravidez, é comum que os níveis desse mineral caiam, já que o volume de sangue aumenta, causando uma forma moderada de anemia. 

O problema: apenas um dos estudos analisados tinha uma paciente grávida. Seus sintomas melhoraram com a reposição do ferro, mas um caso não é o suficiente para cravar uma correlação. Mais estudos são necessários.

Além de variações hormonais para explicar casos comuns e do provável papel da anemia para explicar casos incomuns, há muitos fatores culturais envolvidos nas vontades de grávida.

Carregar um bebê é um momento cercado de superstições e pitacos de parentes. Tudo isso pode condicionar a gestante a manifestar certos comportamentos e desejos socialmente esperados.

Pergunta de @tohuvabohuo, via Instagram.

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