Por que as grávidas têm desejo de comer coisas diferentes?
Depende. A vontade de comidas comuns tem a ver com flutuações hormonais. Mas se a gestante está a fim de bater um pratão de tijolo, a coisa muda de figura.
Não se sabe ao certo.
A resposta que você talvez já tenha ouvido é que os desejos seriam o corpo avisando de alguma deficiência nutricional. Não faltam listas na internet que associem as vontades aos supostos déficits: frutas para vitamina C, sorvete para cálcio, carne vermelha para ferro e por aí vaí.
Acontece que não há evidências científicas suficientes para dizer que essa é a causa – várias gestantes saudáveis, que estão com a nutrição em dia, ainda têm esses desejos. A única exceção notável é a da anemia, que de fato parece ser capaz de induzir comportamentos alimentares arriscadas em algumas pessoas (e que abordaremos mais adiante no texto).
Uma hipótese mais razoável é de que as vontades estejam ligadas às mudanças hormonais no corpo da mulher.
Durante a gravidez, os altos níveis de estrogênio e progesterona podem aumentar a sensibilidade das papilas gustativas. Essa oscilação no paladar faz com que certos sabores fiquem mais intensos e atraentes, enquanto outros se tornam repulsivos. E assim, a futura mãe começa a amar petiscos de que não gostava antes.
A reação em cadeia hormonal também dá um gás na produção de dopamina e grelina. A dopamina é o neurotransmissor associado à motivação e a vontade, e é a responsável por tornar satisfatório o momento em que você finalmente come uma refeição especial. Já a grelina é o hormônio da fome, responsável por regular o apetite.
Essas vontades “normais” – ou seja, de coisas que são realmente comestíveis – são as mais comuns. Aquelas realmente esquisitas, se forem recorrentes, podem caracterizar um caso de alotriofagia (também chamada de síndrome de pica).
Esse transtorno alimentar é caracterizado pelo impulso recorrente de comer coisas que não foram feitas para serem comidas, como terra, tijolo, bucha de pia, amido de milho, arroz cru…
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, a síndrome de pica é a ingestão persistente de substâncias não nutritivas por pelo menos um mês em uma idade em que isso é inadequado.
Então, não se preocupe: quando seu priminho comia giz de cera com um ano de idade, ou aquela única vez em que você mordeu o sabonete tutti-frutti, não são alotriofagia.
Algumas das causas da síndrome de pica são estresse e ansiedade exacerbados e deficiências nutricionais. Pessoas com a síndrome geralmente apresentam falta de minerais como ferro (anemia), cálcio e zinco.
Um estudo de revisão sistemática analisou vinte pesquisas feitas com pacientes com alotriofagia e apontou que, em todos os casos, todos os pacientes tiveram melhoras nos sintomas depois da suplementação de ferro.
Durante a gravidez, é comum que os níveis desse mineral caiam, já que o volume de sangue aumenta, causando uma forma moderada de anemia.
O problema: apenas um dos estudos analisados tinha uma paciente grávida. Seus sintomas melhoraram com a reposição do ferro, mas um caso não é o suficiente para cravar uma correlação. Mais estudos são necessários.
Além de variações hormonais para explicar casos comuns e do provável papel da anemia para explicar casos incomuns, há muitos fatores culturais envolvidos nas vontades de grávida.
Carregar um bebê é um momento cercado de superstições e pitacos de parentes. Tudo isso pode condicionar a gestante a manifestar certos comportamentos e desejos socialmente esperados.
Pergunta de @tohuvabohuo, via Instagram.