Qual peixe é a parte de baixo da sereia? Dá um bom sushi?
Os animais que costumavam ser confundidos com sereias nas Grandes Navegações, curiosamente, não eram peixes: eram peixes-boi e seus parentes.
O mito grego não determina uma espécie. E olha só: os animais que costumavam ser confundidos com sereias nas Grandes Navegações, quando essa história de sereia já era milenar, eram os peixes-boi e dugongos, mamíferos marinhos rechonchudos da ordem dos Sirênios (o nome não é coincidência).
Vistos de longe, eles passam por humanos razoáveis. A palavra “dugongo”, diga-se, vem do malaio duyung, que significa justamente sereia (ou, mais precisamente, “donzela do mar”).
Em um dia qualquer de janeiro de 1493, Colombo escreveu em seu diário: “No dia anterior, quando o almirante foi ao Rio do Ouro, no Haiti, ele diz ter visto três sereias (…) mas elas não são tão bonitas. Seus rostos têm traços masculinos.” O tal “ele” é um almirante de uma frota. E a tal sereia é um roliço peixe-boi. De fato, nada muito atraente.
Uma espécie de dugongo específica, chamada dugongo-de-Stellar, foi extinta apenas 27 anos após ser classificada pelo naturalista alemão Georg Steller, em 1741. Ele era imenso: alcançava 8 metros de comprimento e pesava algo entre 5 e 11 toneladas. Em 1755, as autoridades portuárias tentaram proibir sua caça para preservá-lo, mas era tarde demais.
Suas populações se concentravam no litoral do atual Alasca; embora exemplares pudessem ser observados mais ao sul, nas costas do Japão e da Califórnia. Eram animais sociáveis, que gostavam de nadar em bando e rondavam estuários de rios. Eram herbívoros, passavam o dia mascando algas.
Quanto ao gosto, era ótimo. A carne do dugongo-de-Steller é mais parecida com a de vaca. Crua, não rola no sushi, mas dá um bom carpaccio – com gosto de carne seca, por causa do sal. A gordura era excelente para acender lamparinas, e o leite, com gosto amendoado, era utilizado para fabricar uma excelente manteiga.
Pergunta de Ana Carolina Leonardi, São Paulo, SP.