Se o latim é uma língua morta, quando morreu?
Ele não tem atestado de óbito: a morte foi lenta, gradual.
A longa decadência do Império Romano do Ocidente, no século 5, marca o início do fim do latim. A partir de então, a língua entrou em um processo de transformação. “Não deixou de ser falado da noite para o dia,” diz Neiva Ferreira Pinto, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora.
O latim falado pela plebe – que nessa altura já era bem diferente do latim escrito da Igreja, da poesia épica e de documentos oficiais – se misturou cada vez mais às línguas das populações nativas (os “bárbaros” celtas, gêrmanicos, eslavos etc.) de cada território que costumava pertencer ao Império fragmentado.
Formaram-se vários dialetos, que depois seriam “promovidos”. Assim, nasceram línguas como francês, espanhol e o nosso português (que teve até influência árabe, graças à prolongada presença moura na Península Ibérica durante a Idade Média, para não falar nas contribuições dos escravizados africanos e dos indígenas no caso específico do português brasileiro).
Os linguistas sabem com exatidão as transformações pelas quais o vocabulário do latim passou conforme ele se tornava suas línguas-filhas. Palavras como securum em latim se tornaram “segurança” em português quandos o som duro da letra C foi substituído, aos poucos, pela letra G. Já palavras com F, como o latim fabulari, foram trocadas por H em espanhol (daí vem hablar, que é falar – o português preservou o F).
Por muito tempo, porém, o latim formal continuou sendo a língua oficial da Igreja Católica. A Bíblia não tinha tradução, e as missas eram rezadas como se ainda estivéssemos em Roma.
Hoje, o latim sobrevive no jargão jurídico e científico, mas não tem falantes nativos: muitas das culturas que derivam de Roma de alguma forma falam línguas que descendem do latim, mas não são latim.
Pergunta de Alexandre Moreno Rodrigues, Embu das Artes, SP.