Ovelhas reconhecem celebridades humanas com 80% de precisão
Ovelhas treinadas para identificar Emma Watson e Barack Obama conseguem reconhecê-los em fotos – uma capacidade bem mais sofisticada do que parece
Uma ovelha felpuda, dessas que parecem de pelúcia, está diante de duas telas. Em uma, há uma foto de Barack Obama, ex-presidente dos EUA. Na outra, uma pessoa que não é famosa. Ela olha, mastiga, olha mais um pouco. E aí decide andar até o político.
Até aí, tudo bem. Ele é mesmo um cara muito simpático – o tipo de cara que faria cafuné em uma ovelha.
Mas logo esse teste sem pé nem cabeça – feito por neurocientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e narrado em um artigo científico – começa a ficar muito, muito estranho. Outras ovelhas entram na jogada, e são expostas à mesma situação. Às vezes a personalidade é a atriz Emma Watson, às vezes é a apresentadora de TV Fiona Bruce (que você não conhece porque só é famosa na Inglaterra, mesmo).
Resultado? Elas escolhem as celebridades em 80% das vezes. “Nós sabíamos que as ovelhas eram capazes de reconhecer seus cuidadores, mas ainda estou impressionada que elas conseguiram fazer isso”, afirmou a bióloga Jenny Morton, que participou do estudo. “Reconhecimento facial é um processo sofisticado, mas elas têm cérebros grandes. Elas também conseguem reconhecer outras ovelhas do grupo.”
É claro que não é um milagre: as ovelhas não tinham o costume de assistir ao noticiário – ou aos filmes do Harry Potter –, e precisaram ser expostas com antecedência às imagens dos famosos para aprenderem a reconhecê-los (além de receber recompensas em forma de comida quando viam suas fotos). Esse condicionamento de estímulo e resposta, porém, não tira em nada o mérito dos animais. Afinal, o ser humano também só lembra do rosto de pessoas que já a viu em algum momento da vida – melhor ainda se elas forem importantes de alguma forma.
Em outras palavras, o que está em jogo aqui não é se a ovelha consegue adivinhar quem é ou não famoso – o que seria impossível para qualquer espécie. E sim se ela consegue, após ser treinada, diferenciar rostos humanos uns dos outros, o que por si só é uma capacidade fora de série.
Outro detalhe legal é que elas não caem em pegadinhas. Quando os pesquisadores mudaram as fotos utilizadas – colocando uma foto de Obama de perfil, e não de frente, por exemplo – 67% dos animais conseguem processar a mudança corretamente, e continuam escolhendo o político.
Legal. Mas como alguém nos comentários com certeza perguntará “mas para que serve isso?”, vou me adiantar e já dar a resposta: para descobrir possíveis tratamentos para a o mal de Huntington, uma doença neurológica degenerativa rara, famosa por causa da personagem 13, do seriado médico House.
A linhagem de ovelhas usada para os testes vive no campus de Cambridge e sofre com a doença. Os pesquisadores responsáveis estão desenvolvendo testes que permitam medir as capacidades cognitivas e motoras das felpudas em diversas situações – o que permitirá avaliar com precisão se tratamentos ainda em fase de testes estão mesmo funcionando, e aplicá-los futuramente em seres humanos.
Em outras palavras, se daqui algumas semanas você ler a manchete “ovelha com Huntington reconhece Obama”, não estranhe. É sinal de que o tratamento está dando certo. E isso pode ajudar muita gente.