Depois dos paulistas invadirem as praias dos cariocas, pode ser a vez dos escorpiões do interior de São Paulo invadirem cidades do Rio de Janeiro. A ameaça ficou clara em um encontro de cientistas de diversas instituições, realizado no final do ano passado em São Paulo, para discutir a proliferação do aracnídeo no interior desse Estado. Os Tityus serrulatus ou escorpiões amarelos e os Tityus bahiensis, conhecidos como escorpiões marrons, que vivem na região Sudeste, provocam oito em cada dez casos de picadas no país.
Até recentemente, porém, eles se concentravam no Noroeste de São Paulo: a cidade de Sertãozinho, por exemplo, ganhou espaço nos jornais, em dezembro passado, porque em muitas casas se achavam dezenas de escorpiões. Há dezoito anos notamos que o crescimento urbano vem multiplicando o número de escorpiões, acusa a bióloga Vera ReginaVon Eickdsted, do Instituto Butantan, onde são preparadas, em média, 20 000 ampolas de sôro antiescorpiônico por ano, o único remédio contra o veneno do bicho. As pessoas produzem muito lixo e o escorpião, além de viver em entulhos, adora comer baratas. Eles também apreciam habitar em casas com tijolos furados.
Para esses animais, parece um bom negócio acompanhar o homem. A migração dos escorpiões vem preocupando os cientistas mais do que a suporta invasão de Sertãozinho. Pois, em cidades despreparadas, fora da região onde eles já eram esperados, é que ocorrem mais acidentes, incluindo Cruzeiro, quase na divisa com o Rio de Janeiro. As pessoas precisam tomar cuidados extras com a limpeza, adverte a médica Márcia Jones, do Centro de Zoonoses de São Paulo. As picadas costumam ser fatais em crianças, quando o socorro não é imediato.