Meditação melhora relação entre consciente e subconsciente no seu cérebro
Quem tinha experiência com meditação mindfulness era capaz de antecipar melhor seus impulsos involuntários
A consciência humana é um dos grandes mistérios da ciência. Estamos de fato no controle das nossas escolhas? Nos anos 80, o médico Benjamin Libet realizou um experimento clássico que fundou a neurociência do livre arbítrio. Ele concluiu que mesmo as menores ações — como apertar um botão — têm influência de impulsos involuntários do cérebro. Trinta anos depois, pesquisadores da Universidade de Sussex acreditam que, através da meditação, podemos melhorar nossa compreensão dessas reações subconscientes.
Em 1985, Libet descobriu que apertar um botão ou flexionar um dedo são ações simples que passam por três etapas. Primeiro, o cérebro tem um pico de atividade elétrica. 350 millisegundos depois, o participante percebe que “tomou a decisão” de mover o dedo. Daí, ele leva mais alguns milissegundos para se mexer de fato. Ou seja: a primeira etapa é uma “decisão” involuntária, a segunda é a escolha consciente e a última é a ação em si. Antes de a pessoa decidir tomar uma ação (no caso, apertar o botão), o cérebro já decidiu sozinho.
Em 2016, cientistas ingleses fizeram um experimento parecido, mas só mediram a diferença de tempo entre a segunda e a terceira etapas: o momento em que a decisão se torna consciente e a ação. Fizeram o teste com dois tipos de voluntários: um praticava meditação mindfulness, modalidade que estimula a pessoa a se concentrar e estar presente no aqui e agora. O outro não tinha experiência de meditação.
O que eles perceberam é que quem meditava tomava consciência da decisão de se mover com mais antecedência, 124 milissegundos antes de apertarem o botão. Já nos não-meditadores, a antecedência era de apenas 68 milissegundos de antecedência.
A conclusão dos psicólogos é que a prática da meditação melhora a relação entre consciente e subconsciente — e, com isso, o impulso inconsciente se transforma em decisão voluntária de forma mais rápida.
Segundo disse um dos autores da pesquisa, Peter Lush, à revista New Scientist, os resultados são indícios científicos do que defende a tradição oriental da meditação — que a prática torna as pessoas mais conscientes dos seus processos corporais.