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Música evoluiu a partir de mães cantando para filhos

Pesquisa propõe que cantar, na pré-História, permitia que os pais dessem atenção às crianças enquanto faziam outras atividades.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 abr 2017, 17h42

Bebês e crianças querem a atenção dos pais o tempo todo, não importa se eles estão dirigindo, comendo, vendo um filme ou dando uma entrevista à BBC.

Agora chegou a hora de agradecer os pequenos chorões do mundo todo pela carência. Segundo pesquisadores de Harvard, essa insistência toda foi responsável por dar ao ser humano uma das coisas que ele mais gosta: a música.

Pois é. As primeiras canções, ainda na pré-história, teriam sido uma estratégia de mães isoladas para manter seus filhos quietinhos sem precisar pegar eles no colo o tempo todo. O truque dava tão certo que essas mulheres específicas, com uma habilidade musical melhor que a média, também se deram melhor na seleção natural – e deixaram muitos descendentes cantores. As vantagens práticas disso são fáceis de entender: se você põe um bebê de lado para colher frutas ou cortar carne, é mais negócio acalmar o rebento com música do que deixar ele chorar em voz alta (e atrair predadores no processo, é claro).

A música sempre foi um desafio para psicólogos que adotam a teoria da evolução de Darwin para analisar o comportamento humano. Nós adoramos ver as pessoas cantarem, e também dedicamos muito tempo a aprender a tocar instrumentos que, na maior parte das vezes, não nos trarão nenhuma vantagem além da própria capacidade de ordenar sons no tempo. O trunfo dessa teoria é que ela confere à música uma utilidade clara em uma época em que mal existia cultura – e ajuda a explicar porque tantos povos, não importa o quão isolados estivessem um do outro do ponto de vista geográfico, desenvolveram suas próprias canções.

“No mundo dos nossos ancestrais, predadores e outros seres humanos ofereciam risco”, explicou Max Krasnow, um dos autores do estudo, à assessoria da universidade norte-americana. “As crianças não sabem quais comidas são venenosas e quais atividades são perigosas, então elas só pode se manter em segurança com pais atentos. Acontece que atenção era um recurso escasso.”

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A evolução, claro, não é boba: se os bebês chorassem a ponto de impedir que seus pais caçassem ou fossem atrás de frutas e hortaliças, a família inteira morreria de fome – o que teria eliminado o comportamento pouco vantajoso em dois tempos. Por outro lado, pais que não dessem atenção suficiente para seus filhos perderiam eles. A tendência é o meio-termo, e o meio-termo, nesse caso, foi mais eficiente com trilha sonora.

Cantar também preenche um pré-requisito importante: é simples o suficiente para permitir que algumas atividades sejam feitas de forma simultânea, mas também complicado o suficiente para impedir outras, como conversar ou correr – ou alguém aí consegue fazer a Galinha Pintadinha sem fôlego? Como a importância que alguém atribui a um estímulo é proporcional ao esforço empregado para produzi-lo – as provas de amor exageradas estão aí para corroborar – os bebês ficam satisfeitos com as mães e deixam elas em paz.

O estudo está disponível aqui, na íntegra, e já foi aprovado até pelo famoso psicólogo evolutivo e linguista Steven Pinker. “No passado, todo mundo ficava tão ansioso para encontrar uma explicação adaptativa para a música que surgiram teorias circulares, como a de que a música teria evoluído para unir grupos”, afirmou ele no site de Harvard. “Essa explicação é a primeira que se encaixa com a evolução, demonstrando como a música pode melhorar a sobrevivência e aptidão de uma espécie. Isso não basta para provar que é verdade, mas pelo menos faz sentido.”

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Dito isso, fiquem agora com Cry Baby, de Janis Joplin.

 

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