Uma breve história do hambúrguer
O "bife de hamburgo" que chegou aos EUA no início do século 19 é primo do steak tar-tar, e tem um pouco do DNA Genghis Khan
O ano é 1904. Os Estados Unidos se transformam rapidamente na maior potência industrial do planeta. O novo século promete paz e prosperidade para os americanos.
Esse clima de afluência e otimismo vai se refletir na feira mundial de Saint Louis, capital do Missouri, no meio-oeste do país. Ali, multidões tomam contato pela primeira vez com uma iguaria chamada “hambúrguer”.
O hambúrguer descobriu a América na segunda metade do século 19, trazido pelas levas de imigrantes alemães embarcados no porto de Hamburgo, razão pela qual seu primeiro nome no Novo Mundo foi hamburg steak – “bife de hamburgo”.
Mas claro que os alemães não foram os inventores da carne moída. Ninguém foi. O hábito de triturar carne para torná-la digerível remonta aos nossos ancestrais mais remotos – provavelmente anteriores ao Homo erectus, de 2 milhões de anos atrás. É que sem o consumo de carne em grandes quantidades o grande cérebro do erectus, equivalente a 70% do nosso, não teria se desenvolvido.
A ideia de colocar carne moída cozida entre dois pedaços de pão também não é assim uma Teoria da Relatividade. Inventado o pão (há mais ou menos 13 mil anos), inventado estava o hambúrguer. A origem da versão atual, de qualquer forma, está ligada ao Império Mongol, fundado por Genghis Khan no século 12. No final do século 13, os domínios dos herdeiros de Genghis se estendiam da Península Coreana até o Leste Europeu. Eles tinham a tradição de moer carnes durar de roer (de cavalo e de camelo, por exemplo) para tornar a coisa mastigável, e a de adicionar leite ou ovo para dar liga).
Outro nome que a atual Mongólia, centro do império, tinha na época era “Tartária”. Provavelmente os mongóis, ou “tártaros”, se esmeraram tanto na produção desse tipo de carne que ela acabou se espalhando pela Europa com o nome de “bife tártaro” – denominação que segue viva no “steak tar-tar”, a carne crua moída dos restaurantes franceses e alemães.
A versão cozida e ensanduíchada dessa carne chegaria aos EUA via Hamburgo, a grande cidade portuária da Alemanha. E o grande salto do “bife de hamburgo” viria há quase cem anos. Foi em 1921. com o surgimento da primeira cadeia de lanchonetes do país, a White Castle. Vendia-se nelas um hambúrguer cozido no vapor e cheio de cebola.
O sanduíche talvez não fosse especialmente apetitoso, mas seu preço era: 70 centavos de dólar. 70 centavos de hoje.
O sanduíche talvez não fosse especialmente apetitoso, mas seu preço era: 70 centavos de dólar. 70 centavos de hoje. O preço nominal em 1921 era 5 centavos de dólar – mesmo com os mais de 1.300% de inflação que os EUA vivenciaram nos últimos 98 anos, o preço do hambúrguer da White Castle segue baratíssimo – o equivalente a menos de R$ 4. Pelo efeito laxativo, diga-se, os lanches ganharam o apelido de “escorregarores”.
As pequenas lanchonetes da época de 20 eram apenas lugares onde os fregueses sentavam ao balcão. Um ou dois funcionários faziam de tudo desde virar os hambúrgueres na chapa até registrar as vendas. Muito diferentes foram os drive-ins dos anos 30. Pátios de estacionamento grandes e de fácil acesso substituíram a pequena área de serviço na calçada, e garçonetes em tempo integral serviam os esfomeados motoristas. A idéia prosperou – garçonetes até foram substituídas por moças sobre patins.
Foi nessa época que o cartunista americano Elzie Segar (1894-1938) acrescentou mais um personagem a suas tiras do Popeye, o marinheiro que gostava de espinafre. J. Wellington Wimpy – “Dudu”, no Brasil – ficou famoso pelo seu insaciável apetite por hambúrgueres. Uma vez, Popeye ganhou US$ 20 mil apostando que Wimpy não agüentaria dez minutos com um hambúrguer na mão sem comê-lo.
Em 1937, os irmãos Richard e Maurice McDonald abriram um pequeno drive-in na cidade de San Bernardino na Califórna, e revolucionaram o mundo do fast-food. Como todos os outros, eles serviam lanches rápidos para clientes apressados. O drive-in era também o ponto de encontro dos adolescentes da cidade. Por causa dessa clientela, os drive-ins eram identificados como focos de confusão que afugentavam as famílias de respeito.
Para mudar essa imagem, em 1948, os irmãos McDonald reformularam a loja. Sem garçonetes servindo no carro, a lanchonete perdeu parte do seu apelo para os adolescentes mas em compensação conquistou as famílias. Logo dezenas de pequenos empresários começavam a imitar o novo conceito de lanchonete. Em 1954, Ray Croc, um ex-vendedor de máquinas de milkshake, associou-se aos irmãos McDonald e comandou a internacionalização da companhia.
O Brasil foi um dos pioneiros. Ainda em 1952 o tenista americano Robert Falkemburg abria o primeiro Bob’s em Copacabana, no Rio. E o resto é história.