Como foi gravada a cena do elevador em “O Iluminado”?
Sem ajuda de efeitos especiais, tudo precisou ser pensado nos mínimos detalhes para evitar que o set fosse inundado por sangue de novo
Se você procurar pelos dez maiores filmes de terror de todos os tempos, provavelmente “O Iluminado” estará na lista. O longa de 1980, dirigido por Stanley Kubrick, é uma adaptação do livro homônimo de Stephen King e ficou famoso, dentre outras coisas, pelo clima tenso, pelas filmagens repetidas à exaustão e pela atuação de Jack Nicholson.
Dentre as cenas do suspense, está a da explosão de sangue que sai do elevador do Hotel Overlook – uma das mais lembradas pelos fãs. Sem nenhum recurso de efeitos especiais, realizá-la deu um grande trabalho para a produção.
“Passamos diversas semanas tentando obter a qualidade e a cor do sangue o mais natural possível”, disse o cineasta Leon Vitali, assistente de Kubrick por décadas. De acordo com ele, a produção tomou todo o cuidado para que o sangue não fosse vermelho demais e que sua consistência fosse ideal.
Uma vez que centenas de litros seriam despejados no set, havia o perigo de a porta do elevador ceder com a pressão do líquido. A preparação foi intensa, segundo Vitali, para que eles acertassem a cena em uma única tomada – o que deve ter deixado Kubrick bem estressado, já que o diretor era conhecido por repetir dezenas (até centenas) de vezes a mesma cena até que se chegasse no que ele queria.
Veja o resultado final no trailer de “O Iluminado”
Uma única chance
No dia da filmagem, a produção precisou trabalhar muito rápido, pois as portas não segurariam o líquido por muito tempo. “O elevador estava começando a vazar antes que as portas se abrissem, acho que é possível ver isso no filme”, lembra o assistente.
Quatro câmeras foram posicionadas para acompanhar a enchente. Ninguém pôde ficar no set, dado o volume de sangue falso, então o resultado só foi visto depois que tudo aconteceu. E valeu: Kubrick gostou tanto do efeito que escolheu mostrá-lo apenas com a câmera frontal – e elegeu a cena como a sua favorita.
A parceria entre o diretor e Vitali é tema do documentário Filmworker, lançado em maio deste ano. Antes de virar o braço direito de Kubrick, Vitali trabalhava como ator.
Vale dizer que o “banho de sangue” não está presente no livro de Stephen King. No original, o que sai do elevador são lembranças e enfeites de uma festa ocorrida há muito tempo no hotel. Mas o esforço valeu a pena, segundo Vitali: “todo esse sangue saindo do elevador, de certa forma, diz um pouco sobre o hotel se tornar um personagem”.