Inteligência artificial identifica obra do renascentista Rafael Sanzio
Pesquisadores creem ter confirmado hipótese de 40 anos depois de investigarem a pintura com ferramenta de reconhecimento facial.
Em 1981, o empresário inglês George Lester Winward adquiriu mais uma obra de arte para sua coleção: um retrato circular de autor desconhecido, que retrata o Menino Jesus no colo de Maria. Winward comprou uma série de pinturas criadas entre os séculos 16 e 19 – e acreditava que o responsável por tal retrato, que ficou conhecido como “De Brécy Tondo”, era o renascentista Rafael Sanzio.
Acontece que, 40 anos depois, essa hipótese continua em aberto. Desde então, historiadores analisam o retrato e tentam desvendar quem está por trás das pinceladas, sem conseguir atribuí-las definitivamente ao pintor italiano. Agora, um grupo de pesquisadores acredita que resolveu o mistério com a ajuda da inteligência artificial.
O professor Hassan Ugail, da Universidade de Bradford (Reino Unido), imaginou que uma boa forma de investigar a autoria do retrato seria compará-lo com a Madona Sistina, pintura que Rafael fez em 1512, provavelmente encomendada pelo Papa Júlio 2º. É também uma representação de Maria e Jesus, muito parecida com o retrato anônimo, como você pode ver na imagem abaixo.
“Observar os rostos com o olho humano mostra uma semelhança óbvia”, o professor disse em comunicado. “Mas o computador pode ver muito mais profundamente do que nós, em milhares de dimensões.” Ele fez, então, uma comparação das figuras a partir de uma ferramenta de reconhecimento facial que desenvolveu em 2002. Trata-se de um algoritmo treinado com milhões de imagens, capaz de reconhecer e quantificar a semelhança entre dois rostos.
A ferramenta considera formas, cores e texturas que aparecem nas imagens. Quando ela aponta mais de 75% de semelhança, Ugail considera que os rostos são idênticos. No caso das pinturas, a porcentagem foi ainda maior: as duas Marias tinham 97% de semelhança, enquanto as duas versões do menino Jesus tinham 86%.
Para a equipe envolvida na investigação, a tecnologia confirmou que os rostos que aparecem nas duas pinturas são idênticos – e que, portanto, é altamente provável que ambas sejam criações do mesmo artista, Rafael.
Isto é apoiado por pesquisas anteriores, como a de Howell Edwards, outro professor de Bradford, que fez análises espectroscópicas do retrato circular e mostrou que seus pigmentos eram característicos da arte renascentista dos séculos 16 e 17. Estes resultados descartaram a hipótese de que a pintura fosse uma cópia posterior da Madona Sistina.
O trabalho de Ugail, ainda não publicado em uma revista científica, é mais uma das investigações acerca do retrato misterioso – considerado uma das obras renascentistas mais comentadas e estudadas por pesquisadores. Atualmente, ele faz parte do acervo da De Brécy Trust, organização que cuida da coleção de Winward.