Quem é Han Kang, a primeira sul-coreana a vencer o Nobel de Literatura
A autora já tem três livros publicados no Brasil – incluindo o aclamado "A Vegetariana" –, e mais um está previsto para 2025.
Nesta quinta-feira (10), a Academia Sueca honrou a escritora sul-coreana Han Kang, de 53 anos, com o Prêmio Nobel de Literatura de 2024. Ela foi laureada por “sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.
Kang é a primeira pessoa da Coreia do Sul a ganhar um Nobel de Literatura, a maior honraria do mundo literário. O prêmio vale 11 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 6 milhões. Seu livro mais famoso, A Vegetariana, foi publicado originalmente em coreano em 2007. Ela precisou escrever o livro a mão, porque estava com o punho machucado de tanto digitar.
O livro foi traduzido para o inglês só em 2015, e publicado nos EUA em 2016. No mesmo ano, a autora ganhou o International Booker Prize, grande prêmio literário do Reino Unido. Depois do sucesso no mundo anglófono, A Vegetariana de Kang rodou o globo. Ele foi publicado em 2018 no Brasil, pela Todavia. A editora também publicou outros dois livros da autora: O livro branco e Atos humanos.
A Vegetariana conta a história de uma mulher que teve um sonho sinistro que a levou a tomar uma decisão: nunca mais comer, cozinhar ou servir carne. A decisão, aparentemente inofensiva, serve de gatilho para diversas consequências extremas na sua vida pessoal e familiar. O livro é um marco na ficção contemporânea, e foi primeiramente recebido como bizarro pelos leitores coreanos, mas depois reconhecido como impressionante.
Quem é Han Kang
Kang nasceu em 1970 em Gwangju, a sexta maior cidade da Coreia do Sul. Seu pai, Han Seung-won, também é escritor, e tanto ele quanto a filha já ganharam alguns dos principais prêmios literários da Coreia do Sul. O irmão de Kang, Han Dong-rim, também é escritor.
A família literária se mudou para Seul, a capital do país, quando Kang ainda era uma criança de dez anos. Ela estudou literatura coreana na Universidade Yonsei, e deu aulas de escrita criativa no Instituto de Artes de Seul. Ela também faz obras de artes visuais e música: um de seus livros de ensaios foi publicado junto de um CD com dez canções que ela compôs, gravou e interpretou.
Kang – que é relativamente jovem em comparação com os autores que costumam ganhar o Nobel – também escreve poesia e trabalhos de não-ficção, mas seu destaque na literatura vem por causa dos romances. Ela já escreveu oito desde 1998. O mais recente saiu em 2021 na Coreia do Sul, e está sendo preparado pela Todavia para um lançamento em 2025.
A literatura de Kang se inspira na história e na política da Coreia do Sul. Ela trabalha com traumas do país como a ocupação japonesa na Coreia, entre 1910 e 1945, e a violência colonial que aconteceu a partir disso, ou como o levante estudantil de Gwangju, em 1980, quando mais de 600 jovens morreram massacrados pelo exército por protestar contra a ditadura.
Nobel de Literatura
Kang era uma azarona para ganhar o prêmio. Até ontem, as principais casas de apostas – sim, as pessoas apostam no Nobel de Literatura todo ano – tinham alguns claros favoritos. Alexis Wright, uma autora indígena australiana, e Can Xue, escritora experimental da China, eram as mais cotadas para ganhar.
Além delas, alguns nomes estão todo ano na conversa para ganhar. Haruki Murakami, escritor japonês com livros surrealistas pop, Michel Houellebecq, polêmico autor francês, e o mestre do romance pós-moderno, Thomas Pynchon, estão sempre entre os dez mais apostados.
Da América Latina, se falava de um possível prêmio para o chileno Raúl Zurita, poeta militante, e para César Aira, autor argentino com mais de oitenta livros publicados. Quando estava na universidade, a laureada deste ano, Han Kang, tinha entre seus favoritos o mexicano Octavio Paz e o mestre argentino Jorge Luis Borges, como contou em entrevista à Veja.
Nos últimos anos, o prêmio tem aumentado a lista de mulheres laureadas. Dos 121 autores agraciados, só 18 são mulheres. Metade dessas foram premiadas depois de 1995.
Desde 2018, o Nobel de Literatura vem alternando entre homens e mulheres. A polonesa Olga Tokarczuk ganhou naquele ano, e a poeta americana Louise Glück foi a homenageada de 2020. Em 2022, foi a vez da francesa Annie Ernaux, estrela da autoficção que se propõe a fazer uma sociologia da própria vida.