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Star Wars: como funciona o antigo e o novo universo expandido da saga?

Com a estreia da nova série "The Acolyte", preparamos um guia para você não se perder nas várias histórias de uma galáxia muito, muito distante.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 10 jun 2024, 09h24 - Publicado em 4 jun 2024, 15h17

Nesta terça-feira, dia 4, estreia no Disney +, a mais nova série situada no universo de Star Wars, The Acolyte. É mais uma das várias histórias que se passam na vasta galáxia muito, muito distante daqui, que integra o novo cânone da Disney do universo expandido da saga.

Novo cânone porque, tecnicamente, existem dois universos expandidos de Star Wars diferentes. Calma que a gente explica. 

Em  25 de abril de 2014, após a compra dos direitos de Star Wars pela Disney em 2012, quase tudo o que existia do antigo universo expandido (livros, quadrinhos, jogos etc.) foi desconsiderado para a criação de um novo. 

O que temos desde 2014, então, é o cânone oficial. Tudo o que foi produzido a partir dali integra um universo coeso. O que veio antes recebeu o selo “Legends” (“lendas”). Isso não impede, porém, que personagens, histórias e conceitos pré-2014 possam aparecer nas produções atuais também.

Você deve imaginar, então, que navegar por esse universo, que tem mais de 40 anos de histórias em diversas mídias, é tão difícil quanto pilotar a Millennium Falcon em meio a um cinturão de asteroides. Por isso, em preparação para a nova série, fizemos um mini-guia do antigo e do novo universo expandido de Star Wars, para você poder desfrutar e se divertir, independente do planeta em que estiver.

O Antigo Universo Expandido (Legends)

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Desde que Star Wars estreou em 1977, a saga criada por George Lucas cresceu muito além dos filmes, abrangendo uma vasta coleção de livros, quadrinhos, séries de TV, jogos e por aí vai. Este universo ampliado foi originalmente conhecido como Star Wars Expanded Universe (EU). 

Até 2014, todas as publicações, seja em livros, HQs, games e etc, pertenciam ao cânone oficial de Star Wars, ou seja, todas as histórias e acontecimentos faziam parte do mesmo universo, e em uma mesma linha cronológica. Tudo o que era produzido dentro do universo de Star Wars passava por aprovação da Lucasfilm (a produtora criada por George Lucas, embora nem sempre o próprio George supervisionasse o que era contado).

Lançado alguns meses antes da estreia do próprio filme, alguns consideram a versão novelizada (ou seja, em forma de romance) de Uma Nova Esperança (1977), como o primeiro material do antigo universo expandido. Ele foi escrito por Alan Dean Foster e, nessa época, não se sabia ainda que Star Wars seria o sucesso que viria a se tornar. Assim, vários elementos do livro são diferentes do filme.

Oficialmente, o primeiro material do antigo universo expandido e que conta uma história fora dos filmes é o livro de 1978 Splinter of the Mind’s Eye, também de Dean Foster. A história é focada em Luke e Leia perdidos em um planeta, e se passa entre os Episódios 4 (Uma Nova Esperança), e 5 (O Império Contra-Ataca).

Capa do livro
(Montagem sobre reprodução (Amazon)/Superinteressante)

Após o fim da trilogia clássica em 1983 com o Episódio 6 (O Retorno de Jedi), a franquia espacial entrou em uma espécie de vácuo (rs), perdendo popularidade e espaço na cultura pop ao longo dos anos. Entre as novelizações e o infame especial de TV Caravana da Coragem, o universo expandido da saga começou de verdade nos anos 1990.

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Em 1991, Timothy Zahn lançou o livro Herdeiro do Império, primeiro volume da aclamada trilogia Thrawn. A história acompanha os personagens principais da saga cinco anos após os eventos do O Retorno de Jedi, enfrentando as forças ainda remanescentes do Império, comandadas por um gênio militar conhecido como Grande Almirante Thrawn.

Na época, a trilogia Thrawn acabou funcionando como os episódios seguintes da saga cinematográfica. Ela reavivou a Força e o amor dos fãs pela ópera espacial, que só foi retomada no cinema em 1999 com A Ameaça Fantasma, 16 anos depois de O Retorno de Jedi.

Com o lançamento dos filmes da trilogia prequel, na virada do milênio, várias outras obras passaram a contar histórias no universo de Star Wars, indo desde a períodos longínquos no passado da saga (como a época da Antiga República, milhares de anos antes do Episódio 1) até o futuro (como na série Legacy, centenas de anos após o Episódio 6).

Tudo mudou, porém, após George Lucas vender os direitos de todo o seu universo para a Disney, em 2012. O estúdio do Mickey queria contar novas histórias dentro de um universo tão rico, mas sem se perder no emaranhado construído até então. Foi assim que quase todos os acontecimentos e personagens de mais de três décadas de Universo Expandido foram desconsiderados. 

A partir dali, as únicas coisas consideradas partes do novo cânone oficial da Disney foram os seis filmes originais (A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones, A Vingança dos Sith, Uma Nova Esperança, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi) e o filme e a série em animação 3D The Clone Wars, de 2008

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Todo o resto do antigo universo expandido recebeu o selo de Legends, ou seja, os acontecimentos não eram mais oficiais, mas lendas no universo de Star Wars. Antes de partirmos para o novo universo expandido, valem algumas recomendações de ótimas obras do universo Legends.

Livros

Não tem como fugir do óbvio aqui. A porta de entrada definitiva para qualquer fã da saga no antigo universo expandido deve ser a trilogia Thrawn, de Timothy Zahn (republicada no Brasil pela Editora Aleph). Além de serem as obras que tornaram Star Wars vivo durante um bom período, foi nessa saga que que surgiram personagens famosos e queridos dos fãs, como o próprio Almirante Thrawn, o contrabandista Talon Karrde, e a assassina imperial Mara Jade (que, spoiler, no futuro viria a se casar com Luke Skywalker).

Enquanto a Aliança Rebelde, agora conhecida como Nova República, tenta estabelecer sua autoridade, Thrawn reúne novos aliados, e através de uma nova arma (não, não é outra Estrela da Morte), lidera uma campanha para destruir a Nova República e restaurar o domínio do Império na galáxia.

Algumas coisas criadas nessas histórias acabaram inclusive fazendo parte dos filmes oficiais (como a capital da república Coruscant, que apareceu primeiro aqui nos livros). Mesmo com alguns elementos até um tanto esquisitos, é inegável a importância dessa obra, sendo considerada para muitos fãs (inclusive para este repórter que vos escreve) como a verdadeira continuação de Star Wars.

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Trilogia Thrawn
(Montagem sobre reprodução (Amazon)/Superinteressante)

Jogos

Duas dicas boas aqui Se você curte um RPG e quer jogar em um período fora de todo o rolê da família Skywalker, confira os jogos da série Star Wars: Knights of the Old Republic. Lançado em 2003 e desenvolvido pela BioWare (de Mass Effect e Dragon Age), a história se passa cerca de 4.000 anos antes dos eventos dos filmes, na era de ouro dos Jedi e da República. 

Através de três jogos (Knights of the Old Republic,  Knights of the Old Republic II: The Sith Lords e The Old Republic) a série conta a história da guerra da antiga República Galáctica contra uma grande armada Sith. 

Agora se você quer algo mais no estilo God of War, e quer usar a força e descer o sabre em geral sem dó, a dica fica para os dois jogos da série Star Wars: The Force Unleashed. Os jogos se passam entre os episódios 3 e 4, e contam a história de Starkiller, aprendiz secreto de Darth Vader.

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Outras mídias

O antigo universo expandido também tinha algumas ideias discutíveis (como a clonagem que serviu de inspiração para os filmes do novo cânone). Uma delas está na série de HQs Star Wars: Dark Empire. Aqui, vemos Luke sendo seduzido pelo lado sombrio e o retorno do Imperador Palpatine através de um clone (pois é).

Já na série de HQs Star Wars: Legacy, acompanhamos Cade Skywalker, um descendente direto de Luke, mais de 100 anos depois dos eventos da trilogia clássica.

Por fim, a série de curtas de animação em 2D do Cartoon Network Clone Wars (disponível no Disney +), é uma ótima para quem quer assistir algo diferente durante o almoço. Ela se passa entre os episódios 2 e 3 e contam histórias do começo do período da Guerra dos Clones. A série foi criada por Genndy Tartakovsky (de Samurai Jack e o Laboratório de de Dexter), e foi premiada com o Emmy de Melhor Programa de Animação.

O novo Universo Expandido

Em 30 de outubro de 2012, George Lucas decidiu vender a Lucasfilm para a Disney, em um negócio de US$4 bilhões. Assim como a Marvel, a empresa passou a ser uma subsidiária do grupo do Mickey. Kathleen Kennedy, produtora de vários filmes da Lucasfilm e do amigo de Lucas, Steven Spielberg, tornou-se a presidente do estúdio.  

Após a aquisição da Lucasfilm, houve um esforço, em teoria, para criar uma continuidade coesa e consistente no universo da saga. Assim, em 2014, foi decidido que tudo publicado anteriormente àquela data receberia o selo Legends, e então foi criado o Lucasfilm Story Group

O grupo foi estabelecido para supervisionar todas as novas histórias e garantir que estivessem alinhadas com o novo cânone dos filmes e outras mídias. Através do Lucasfilm Story Group, o novo universo expandido busca criar uma narrativa interconectada entre todas as obras da franquia, entre filmes, séries, livros etc..

Todos os materiais lançados após a reformulação em 2014 são considerados cânone oficial, com o primeiro material sendo a HQ Darth Maul: Filho de Dathomir, lançada em maio de 2014. Juntamente com os seis filmes originais e a animação 3D The Clone Wars, tudo o que viria a ser lançado a partir dali passava a fazer parte da nova cronologia.

Nos cinemas, esse passo se deu em 2015 com o lançamento do Episódio 7, O Despertar da Força. Entre alguns altos e muitos baixos (alô, A Ascensão Skywalker), os novos filmes expandem e continuam as histórias após os eventos vistos em O Retorno de Jedi

A nova trilogia de filmes expandiu a saga Skywalker e introduziu novos personagens, como Rey, Finn, Poe Dameron e Kylo Ren. Mas para além dessa trilogia sequel,  outros materiais lançados que fazem parte do novo cânone oficial e merecem destaque são o excelente filme Rogue One e a série The Mandalorian

Rounge One
(Netflix/Divulgação)

Apesar de ainda pequeno em comparação com o antigo universo Legends, o novo universo expandido já cresceu bastante, e conta com várias obras que expandem a nova mitologia da saga e que merecem a atenção para quem quer se aprofundar mais nesse universo. 

Livros

De primeira, a dica seria o livro Estrelas Perdidas, de Claudia Gray. Publicado no Brasil pela Seguinte, da Companhia das Letras, o livro é uma espécie de romance galáctico no melhor estilo Romeu e Julieta. Ele conta a história de Ciena Ree e Thane Kyrell, dois jovens de origens distintas que possuem, desde criança, um sonho de se tornarem pilotos do Império. 

Conforme vão crescendo dentro da Academia Imperial, sua amizade vai se transformando em algo diferente, tal como as suas divergências políticas. Assim, Thane decide abandonar o império e se junta à Aliança Rebelde, enquanto Ciena se torna uma leal integrante das forças do mal.

Capa do livro Estrelas Perdidas
(Montagem sobre reprodução (Amazon)/Reprodução)

Jogos

A dica fica para dois games: Jedi: Fallen Order e sua sequência, Jedi: Survivor. A história se passa após os eventos do Episódio 3 (A Vingança dos Sith), com a ascensão do Império de Darth Sidious e Darth Vader e a extinção da Ordem Jedi. O jogador acompanha o jovem padawan Cal Kestis, em um período em que os Jedi sobreviventes são caçados e exterminados pelos Inquisidores e outros agentes do Império, dedicados a erradicar qualquer vestígio do lado luminoso da Força.

Outras mídias

Aqui temos dicas para adultos e crianças. Dentro das HQs, uma imperdível é a história de Star Wars: Império Despedaçado. Situada após os eventos do Episódio 6, a história conta o empenho das forças rebeldes para eliminar os remanescentes do Império após a destruição da segunda Estrela da Morte na Batalha de Endor.

Agora, se você quer assistir a algo mais tranquilo, a recomendação fica para a série de animação em 3D The Clone Wars. Ao longo de um filme animado e sete temporadas, a série expande os eventos da Guerra dos Clones entre os episódios 2 e 3, complementando algumas brechas deixadas pelos dois filmes da saga.

Outra boa dica em animação são as duas temporadas de Star Wars: Visions. A série é uma antologia de histórias animadas de Star Wars, produzida por diferentes estúdios de animação do mundo. Cada episódio é um conto feito em um estilo diferente de animação.

Já se você quer assistir a uma história de espionagem e intriga política dentro no universo de Star Wars, vale assistir à série Andor. Ela se passa anos antes dos eventos de Rogue One, onde vemos o surgimento da famosa Aliança Rebelde.

Tanto os filmes quanto as séries estão todos disponíveis no Disney +.

Afinal, cânone importa?

Ao longo dos anos, com lançamentos de obras bastante questionáveis para dizer o mínimo (olá, Obi-Wan, Boba Fett, Solo e aquela coisa chamada de Episódio 9), os fãs vêm debatendo sobre qual o verdadeiro universo expandido de Star Wars – e o que deve ser considerado canônico ou não.

“As pessoas entram em todos esses debates sobre o que é canônico e o que não é, e às vezes esquecem a natureza especial de contar uma boa história e criar grandes personagens”, disse em entrevista ao Screen Rant Dave Filoni, novo diretor criativo da Lucasfilm.

Mesmo que cada fã da saga tenha uma interpretação própria do que é considerado oficial ou não na cronologia, na prática isso não é algo tão relevante assim. Com o passar do tempo, por exemplo, diversos personagens e elementos do Legends foram sendo incorporados ao novo cânone oficial.

Em resposta a alguns fãs sobre reclamações do novo cânone, Matt Martin, um dos novos executivos criativos da Lucasfilm, respondeu em um tweet: “Há uma razão pela qual precisamos internamente saber o que é e o que não é canônico, para que possamos manter nossa linha de narrativa oficial o mais alinhada possível, mas isso não significa que os fãs não possam individualmente escolher o que querem aceitar como verdadeiro. É tudo ficção, de qualquer forma, então você pode escolher aceitar o que quiser como parte da história.”

Mesmo sabendo no nosso próprio mundo que algumas lendas são melhores do que as histórias reais, no fim o que importa são as próprias histórias. O que é cânon ou não é relativo, e no fim é tudo Star Wars. Já dizia Obi-Wan Kenobi em O Retorno de Jedi, “Muitas das verdades às quais nos apegamos dependem do nosso ponto de vista.”

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