Na 1ª Guerra Mundial, a publicidade foi a alma do negócio
Durante a guerra, campanhas publicitárias viraram armas tão poderosas e decisivas quanto metralhadoras, canhões, tanques e submarinos
Tio Sam aponta o dedo e dispara: “Quero você no Exército dos EUA”. Esse pôster, um dos grandes ícones do século 20, foi criado em 1917, ano em que os americanos entraram na 1a Guerra Mundial ao lado de franceses e britânicos. Bem antes dele, porém, outros tantos já circulavam na Europa e nas colônias da Grã-Bretanha espalhadas pelo mundo, convocando homens para o alistamento voluntário, mulheres para o trabalho nas fábricas ou no campo e a população inteira para a economia de gêneros alimentícios.
Natural que fosse assim. Nas frentes de batalha, milhares de soldados morriam a cada dia e era preciso substituí-los. Além do mais, vivia-se a chamada “guerra total”, em que os países envolvidos mobilizavam todos os seus recursos humanos e econômicos para sustentar o conflito. “Desde a Grécia antiga, o povo sempre foi persuadido a apoiar confrontos militares, mas nunca de uma maneira tão sofisticada e eficaz como na 1a Guerra Mundial”, diz Aaron Delwiche, professor de comunicação estratégica da Universidade de Trinity, nos EUA. Pela primeira vez na história, a propaganda tornou-se uma arma tão importante e decisiva quanto metralhadoras, canhões, tanques e submarinos.
Embora o conflito estivesse concentrado na Europa, na África e no Oriente Médio, foi nos EUA que a propaganda ganhou mais força. Uma semana depois da entrada do país na guerra, uma verdadeira tropa de elite foi convocada para prestar serviços ao Comitê sobre Informações Públicas – cujo setor de publicidade reunia os melhores roteiristas, cartunistas, ilustradores, comunicadores e psicólogos americanos. “A campanha publicitária foi um dos pilares fundamentais para convencer homens e mulheres, ricos ou pobres, a se entregarem de corpo e alma à batalha, fosse guerreando ou racionando alimentos”, diz o coronel da reserva Geraldo Cavagnari, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp). Em valores atualizados, os EUA investiram entre 1917 e 1918 cerca de US$ 4 bilhões nesse comitê – um valor astronômico até para os dias de hoje.
Crianças no front
Garoto de apenas 16 anos virou herói de guerra na Batalha da Jutlândia
O envio de menores de 18 anos para as frentes de batalha foi uma das mais vergonhosas características da 1ª Guerra Mundial. Incentivados pela propaganda de seus respectivos governos, crianças e jovens mentiam sobre a idade na hora de se alistar como voluntários. E as autoridades responsáveis pelo recrutamento, ansiosas para repor as baixas ocorridas no front, deixavam-se “enganar”. Estima-se que, apenas no Exército britânico, cerca de 250 mil jovens abaixo da idade mínima para o serviço militar tenham sido mandados para a guerra.
O caso mais famoso foi o de John Travers Cornwell, incorporado à Marinha britânica em 1915, quando tinha apenas 16 anos. O garoto lutou na Batalha da Jutlândia. Era canhoneiro do navio HMS Chester, cuja tripulação foi dizimada pelos alemães. Apesar do fogo cerrado, Cornwell permaneceu em seu posto e chegou a ser resgatado com vida, apesar de ter o corpo crivado de balas e estilhaços. Dois dias depois, morreu num hospital da Inglaterra. Sua história, relatada pelo comandante do Chester, comoveu o rei Jorge 5o, que lhe concedeu in memoriam a Cruz da Vitória, mais alta condecoração militar britânica.
Mulheres em armas
Batalhões femininos motivaram soldados a continuar lutando na frente oriental
A propaganda de guerra não convenceu as mulheres apenas a ocupar o lugar de seus respectivos maridos nas fábricas ou no campo. Muitas delas acabaram indo parar nas frentes de batalha. Os exemplos mais emblemáticos desse voluntarismo foram os batalhões femininos formados na Rússia em 1917, depois da revolução que derrubou o czar Nicolau 2o e instaurou um governo provisório em seu lugar. A função dos batalhões, além de matar os inimigos alemães, austro-húngaros e otomanos, era reduzir o número de desertores, inspirando os soldados russos a continuar lutando. A primeira dessas unidades femininas, conhecidas como Batalhões da Morte, foi criada em Petrogrado (atual São Petersburgo) e contava com aproximadamente 300 voluntárias lideradas por Maria Bochkareva, uma camponesa que integrava o Exército russo desde o início da 1ª Guerra Mundial. Pelo menos outros 4 batalhões como esse foram criados nos meses seguintes. Até o final do conflito, a Rússia enviaria para as trincheiras do front oriental cerca de 2 mil mulheres.