Codex Atlanticus: 6 curiosidades sobre o álbum de manuscritos do Da Vinci
Trata-se da maior coleção de desenhos e notas do gênio renascentista. Spoiler: você pode ver todas as páginas online – incluindo o currículo de Da Vinci.
Codex Atlanticus é um álbum com 1.119 manuscritos. São papéis amarelados, cheios de esboços e textos escritos de modo estranho e incompreensível – com a grafia de Leonardo Da Vinci. É a maior coleção existente de desenhos e notas do gênio renascentista.
As páginas abrangem um período que vai de 1478 (quando Da Vinci estava na sua terra natal, Toscana) até 1519, quando ele morreu na França. Como era de se esperar, os manuscritos incluem uma variedade de assuntos – da física à arquitetura –, além de invenções curiosas como paraquedas, máquinas de guerra e bombas hidráulicas.
Separamos seis curiosidades para você conhecer melhor o cadernão do inventor italiano.
1. Da Vinci não montou o Codex
Da Vinci deixou todos os manuscritos que formam o Codex (e outras centenas deles) para um de seus alunos, o pintor italiano Francesco Melzi (1491–1570). Depois de herdá-los em 1519, Melzi passou os 50 anos seguintes tentando colocar o material em ordem. Ele separou os papéis por assunto e extraiu alguns trechos deles para formar o “Tratado sobre a Pintura” (Trattato della pittura, em italiano) – que incluía, claro, uma pequena parcela do trabalho do renascentista.
Depois que Melzi faleceu, o escultor italiano Pompeo Leoni (1533–1608) procurou o filho do pintor, adquiriu a maior parte dos manuscritos e os organizou em dois álbuns. Os desenhos técnico-científicos ficaram no Codex Atlanticus; desenhos artísticos e dedicados à anatomia ficaram em um álbum menor, de 600 folhas. Hoje, este faz parte da Royal Collection Trust, a coleção de arte da família real britânica.
2. Não, “Atlanticus” não tem a ver com o oceano
“Atlanticus” é a palavra em latim para “atlântico”. Mas, neste caso, não se refere ao oceano. Quando Pompeo Leoni montou o álbum, ele colou os manuscritos de Da Vinci em grandes folhas de papel, do mesmo formato que se usava em atlas geográficos. Daí o nome Atlanticus. “Codex”, por sua vez, é outra palavra em latim que designa um antigo texto manuscrito na forma de livro.
Nenhuma dessas palavras, entretanto, está na antiga encadernação do álbum. A inscrição é “Desenho de máquinas e das artes, segredos e outras coisas de Leonardo Da Vinci coletados por Pompeo Leoni”. Um baita título, como era costume antigamente.
3. O Codex está em Milão. Mas já esteve na França
O Codex Atlanticus fazia parte da coleção de arte de Galeazzo Arconati (1580–1649), um nobre e mecenas italiano. Em 1637, ele doou sua coleção à Biblioteca Ambrosiana, fundada 30 anos antes em Milão. Quando as tropas napoleônicas conquistaram a cidade em 1796, o caderno foi levado para Paris.
O Codex Atlanticus ficou no Museu do Louvre por 17 anos, até que o Congresso de Viena decretou, em 1815, que as obras de arte roubadas por Napoleão deveriam ser devolvidas aos seus países de origem. Assim, o álbum voltou à Biblioteca Ambrosiana, onde está atualmente.
4. Já foi confundido com manuscritos chineses
É difícil entender alguma coisa das páginas do álbum. E não só porque estão escritas em italiano antigo: Leonardo Da Vinci escrevia da direita para a esquerda, não acentuava as palavras, ignorava a pontuação e espalhava símbolos enigmáticos nos seus textos. (Saiba mais sobre sua grafia nesta matéria da Super.)
Por isso, um emissário nomeado pela Áustria para o retorno de obras de arte que estavam em Paris confundiu o cadernão do renascentista com um amontoado de manuscritos em chinês. O álbum só não foi para o destino errado porque o escultor italiano Antonio Canova (1757–1822) também estava envolvido na tarefa e reconheceu o Codex.
5. O álbum inclui o currículo de Da Vinci
Por volta de 1483, Da Vinci escreveu uma carta ao Duque de Milão, Ludovico il Moro, listando em nove pontos suas habilidades como engenheiro militar – e, de maneira mais resumida, seu talento como artista e arquiteto em um décimo tópico. O manuscrito que está no Codex é um rascunho; não sabemos se a versão final da carta foi mesmo entregue.
No quarto tópico, Da Vinci afirma: “Eu ainda tenho métodos de bombardeamento muito convenientes e fáceis de transportar. Eles lançam pedras e afins em uma tempestade cheia de fumaça para assustar o inimigo, causando muito dano e confusão”. Assim como outras máquinas citadas na carta, o desenho desses canhões está no Codex.
6. Você pode explorar todo o Codex Atlanticus
Existe uma digitalização completa do álbum, disponível neste site. Os manuscritos estão organizados a partir de cinco assuntos, indicados com cores diferentes: geometria e álgebra; física e ciências naturais; ferramentas e máquinas; arquitetura e artes aplicadas; ciências humanas. Você pode navegar pelas páginas em ordem numérica ou cronológica, além de conferir a ocorrência dos assuntos em cada página.
Existe ainda um manual de instruções para explorar o álbum. É só clicar em “how to read” ou “come si legge”, no topo da página – o site está disponível em inglês e italiano. Se você não entende esses idiomas, não se preocupe: dá para mergulhar nos estudos do renascentista e se divertir do mesmo jeito.