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Como o cancelamento do Natal no século 17 levou à execução de um rei

Após a primeira guerra civil inglesa, na década de 1640, os protestantes tomaram o poder e acabaram com todos os feriados religiosos. A resposta popular envolveu pancadaria, explosões e até decapitação.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 22 dez 2020, 14h03 - Publicado em 18 dez 2020, 18h07

Para muitos, o Natal de 2020 vai ser bem diferente do convencional. As clássicas reuniões de família regadas a comidas e bebidas devem se converter em encontros pequenos e limitados. Pelo menos, é isso que autoridades de saúde e outros líderes de governos ao redor do globo têm recomendando aos seus cidadãos como forma de evitar o crescimento da pandemia de Covid-19.

Espera-se apenas que as restrições festivas não deem origem a um evento similar ao que ocorreu na Europa do século 17. Nessa época, o cancelamento do Natal (e de outros feriados religiosos) causou uma grande revolta que ocasionou, inclusive, a morte de um rei.

Na década de 1640, a Guerra Civil Inglesa estava próxima de acabar. Havia uma disputa entre os seguidores do rei Carlos I, que comandava a Inglaterra, Escócia e Irlanda, e os apoiadores do Parlamento britânico, liderado por Oliver Cromwell. 

Não eram só os modelos de governo que entravam em discussão, mas também as preferências religiosas de cada lado. A monarquia era ligada ao catolicismo, enquanto o Parlamento se voltava ao sistema presbiteriano. No final das contas, o segundo grupo levou a melhor. 

Até então, o Natal dos ingleses era mais animado que o nosso: a festa se estendia por 12 dias, de 25 de dezembro a 5 de janeiro. No feriado propriamente dito, o comércio fechava, as ruas eram decoradas e as pessoas celebravam com suas famílias e amigos. Nos 11 dias seguintes, as lojas abriam, mas por menos tempo, e a farra continuava em algumas casas – o tamanho da festa dependia, claro, do bolso do anfitrião.

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Mas os protestantes, que haviam tomado o poder, achavam que a celebração era excessiva. Então, o novo governo definiu que os feriados religiosos deveriam ser um momento de oração e reflexão, sem toda aquela bebedeira. Dentro dos novos moldes, o Natal de 1644 seria usado para jejuar e pensar nos pecados daqueles que transformaram o nascimento de Jesus em um dia de promiscuidades. 

“Acabou a mamata”

O decreto oficial veio em 1647. A partir dali, o Natal ficou estritamente proibido. Não poderia haver decoração na rua e os comércio deveria ficar aberto – festas, então, nem pensar.

Claro que a lei no papel não significou muita coisa para os europeus. Eles já estavam fartos das restrições e dificuldades econômicas que acompanharam a chegada do sistema protestante. Sendo assim, a revolta pelo Natal virou também um ato político. 

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Para se ter uma ideia, a história foi tão insana que os guardas da Igreja de Santa Margarida em Westminster, Londres, foram presos por não conseguirem impedir a celebração. Nas cidades de Ipswich e Bury St Edmunds, jovens armados com pedaços de madeira com pregos nas pontas patrulharam as ruas para forçar os comerciantes a se manterem fechados.

No condado de Kent, foi necessário acionar o exército para conter a farra que se espalhara ao longo daqueles 12 dias. O grande júri de lá decidiu que os festeiros deveriam ser punidos perante à lei, mas o veredito só fez com que os cidadãos se rebelassem ainda mais contra o Parlamento.

Cenário parecido, porém mais dramático, ocorreu na cidade de Norwich. Em abril de 1648, o prefeito foi a Londres para explicar seu fracasso na contenção do Natal, mas a multidão fechou os portões para que ele não saísse. Soldados foram mobilizadas novamente e pelo menos 40 pessoas morreram na confusão devido a uma explosão em um depósito de munições. 

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Cortem-lhe a cabeça

Os motins e rebeliões que aconteceram entre o final de 1647 e início de 1648 levaram a uma segunda guerra civil. O estopim foi a ação do rei Carlos I, até então refugiado na Escócia, país que era majoritariamente protestante. Ele aproveitou o momento para negociar um acordo com os escoceses, decretando que, caso voltasse ao trono, reconheceria o presbiterianismo como religião oficial de ambos os reinos. 

A atitude do monarca foi considerada como traição por seus partidários, o que levou Carlos I a ser decapitado em janeiro de 1649. O Natal só voltou a ser o mesmo em 1660, quando as monarquias inglesa, escocesa e irlandesa foram restauradas e todos os atos de Parlamento foram desconsideradoss. Naquele ano, quem assumiu o poder foi Carlos II, filho do rei executado.

Nem é preciso dizer que, depois dessa confusão, ninguém mais mexeu no Natal.

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