Conheça a história real por trás de “Gladiador 2”
Lucius, o protagonista do filme, realmente existiu, mas morreu cedo demais para poder lutar pelo destino de Roma (e não usava pulseiras de couro).
Gladiador 2 é mais uma história de vingança na Roma Antiga do diretor britânico Ridley Scott. O filme, estrelado por Paul Mescal e Denzel Washington, conta a história de Lucius, herdeiro do Império Romano que precisou virar um gladiador depois de ter a casa invadida pelo próprio exército romano, num golpe dos co-imperadores de Roma, Caracala e Geta.
O filme, que entrou nos cinemas brasileiros no dia 14 de novembro, é uma sequência direta de Gladiador, a obra vencedora do Oscar estrelada por Russell Crowe. Lucius quer seguir o exemplo de Maximus – o protagonista do primeiro filme – e lutar na arena pelo destino de Roma.
Os filmes são épicos históricos, mas não são obras de divulgação científica. Fato e ficção se misturam constantemente. Maximus, por exemplo, nunca existiu: é um personagem ficcional criado a partir de várias figuras reais, como Espártaco e Narciso. Os fatos históricos estão mais no contexto e na ambientação do que no enredo.
Ridley Scott não parece se preocupar muito com precisão histórica. Em resposta a um historiador que apontou alguns erros de seu último filme, Napoleão – como o ditador francês atirando com canhões contra as pirâmides do Egito, algo que nunca aconteceu –, Scott disse em entrevista à The New Yorker que ele deveria “arranjar o que fazer”.
O diretor tem toda liberdade artística para não seguir a história, mas a curiosidade sobre o que é verdade ou fantasia continua. Por isso, vamos te ajudar a desvendar a história real por trás de Gladiador 2 – sem spoilers, claro.
Lucius realmente existiu?
Já no trailer de Gladiador 2, uma cena empolgou os nerds de história: uma batalha aquática acontecendo dentro do Coliseu de Roma, que vira uma piscina gigante para comportar navios. É absurdo, mas é verdade. Essas simulações de batalhas navais realmente aconteciam no Coliseu, e eram chamadas de naumaquias.
Scott mostra alguns tubarões ali no meio. Não há registros históricos disso, e é bem improvável que tenha rolado. O diretor também incluiu uma cena de batalha de rinocerontes, que ele já queria fazer desde o primeiro filme. Segundo o historiador Ray Laurence, da Universidade Macquarie, essas batalhas aconteciam, mas não há registros de homens montando os animais, como aparecem no filme.
Lucius Verus, o protagonista interpretado por Paul Mescal, realmente existiu. Ele foi filho de Lucilla com o imperador Lúcio Aurélio Vero, que governou Roma de 161 d.C. a 169 d.C. ao lado de seu irmão adotivo, Marco Aurélio. Porém, sua história de vingança não tem nada de real, já que ele morreu cedo, antes mesmo de seu tio, Cômodo, chegar ao poder do império em 176.
Cômodo é a base histórica para o personagem interpretado por Joaquin Phoenix no primeiro filme, que luta contra Maximus num duelo até a morte. O novo filme, portanto, toma algumas liberdades cronológicas, alongando a vida de Lucius Verus – que, no máximo, viveu até os 15 anos, mas em Gladiador 2 aparece chegando à vida adulta anos depois da morte do tio.
O arqui-inimigo de Lucius, o general Marcus Acacius (Pedro Pascal), é inteiramente fictício. Já os co-imperadores Geta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger) realmente existiram, mas governaram em constante rivalidade. Caracala chegou a ordenar o assassinato do próprio irmão em 211.
Macrinus, o personagem interpretado por Denzel Washington, também tem um correspondente histórico, mas as semelhanças se resumem ao nome e à vontade de controlar Roma. Enquanto a figura histórica era um advogado importante, que chegou a ser imperador por 14 meses, o personagem do filme é um ex-escravo que treina Lucius para a vida de gladiador.
A caracterização dos personagens carrega alguns anacronismos. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o historiador Alexander Mariotti explica que nenhum gladiador usava pulseiras de couro. Essa peça de armadura provavelmente apareceu séculos depois, com arqueiros medievais. Porém, os braceletes aparecem nas telas desde a versão muda de Ben Hur, de 1907. Às vezes a história que vence é a do cinema.