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Escrito nas estrelas

Stephen Hawking, o cientista que mais conhece os mistérios do Universo, pergunta: se tempo e espaço não têm começo nem fim, faz sentido acreditar no Criador?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Texto Tarso Augusto

O cientista britânico Stephen Hawking, 67 anos, talvez seja o cara que mais entende de Universo no mundo. O que ele tem a dizer sobre Deus? E sobre design inteligente – teoria segundo a qual certas características do Cosmos e dos seres vivos, de tão complexas, só poderiam ter sido “projetadas” por um Criador? Hawking já falou e escreveu bastante sobre os dois temas. Às vezes, tem-se a impressão de que ele é ateu. Outras vezes, que admite a possibilidade de um ser sobrenatural. Pouco importa. O importante são os argumentos do cientista – e as reflexões que eles suscitam.

No livro Uma Breve História do Tempo, sua obra mais famosa, o doutor em cosmologia Stephen William Hawking usa a física teórica para responder à maioria das questões sobre a origem e os mistérios do Universo. Ele defende, entre outras teses, que o espaço e o tempo não têm começo nem fim – um conceito que desafia o dogma teológico da Criação divina. “Desde que o Universo tenha um começo, podemos supor que ele teve um Criador”, escreve o cientista. “Mas, se o Universo é completamente autocontido, não tendo fronteiras ou bordas, ele não poderia ser nem criado nem destruído… Ele simplesmente seria. Que lugar haveria, então, para um Criador?”

Deus também é colocado contra a parede em Buracos Negros, Universos-Bebês e Outros Ensaios (Editora Rocco). Nesse livro, Hawking defende que, se o Criador existe, é Ele quem obedece às leis do Universo, e não o contrário. “Se Ele existe.” O cientista admite, portanto, a possibilidade da existência de Deus. Será? A julgar por uma entrevista concedida ao jornal alemão Der Spiegel, parece que sim, Hawking admite. “O que tenho feito é demonstrar que o surgimento do Universo pode ter sido determinado pelas leis da ciência”, declarou. “Mas isso não prova que Deus não existe. Prova apenas que Ele não é necessário.”

Línguas diferentesIndependentemente do que pense sobre Deus, Hawking demonstra um profundo respeito pela fé das pessoas comuns. E, apesar de ter ajudado a estabelecer teorias que afrontam a versão bíblica para a origem de tudo, mantém uma boa relação com a Igreja Católica. Em 1975, chegou a ser condecorado pessoalmente pelo papa Paulo 6º, em reconhecimento aos “notáveis” trabalhos no campo da cosmologia. Mais tarde, em 1981, foi recebido por João Paulo 2º, depois de conferir uma série de palestras sobre astrofísica no Vaticano. Nessa ocasião, ouviu uma reprimenda do pontífice.

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“Ele me disse que tudo bem estudar a evolução do Universo, mas que não deveríamos investigar o big-bang, porque aquele era o momento da Criação, a obra de Deus”, conta o cientista no documentário O Universo de Stephen Hawking. “Naquele momento, ciência e religião caminhavam juntas, mas ainda não estavam falando a mesma língua.”

Hawking acredita que estamos perto de encontrar uma resposta científica para uma das perguntas mais inquietantes da história da humanidade: como e por que existimos? O caminho para chegar lá talvez seja o que se convencionou chamar de Teoria de Tudo – aquela que, num futuro não tão distante quanto se imagina, vai explicar todos os fenômenos físicos observáveis no Universo (leia mais no quadro ao lado). “Se encontrarmos a resposta para essa pergunta, isso seria o triunfo final da razão humana”, escreve o cientista nas últimas linhas de Uma Breve História do Tempo. “Então, nós conheceríamos a mente de Deus.”

 

 

Brincando de Deus
O acelerador de partículas LHC pode obrigar a ciência a encontrar outra explicação para a origem do Universo

Você já deve ter ouvido falar do LHC (Large Hadron Collider, ou Grande Colisor de Hádrons) – o mais poderoso acelerador de partículas já construído. Ele chegou a ser inaugurado em setembro de 2008, mas um defeito obrigou os cientistas a desligá-lo. Estima-se que volte a funcionar até o fim deste ano. Sua missão: explicar a origem das partículas elementares – aquelas que formam todas as outras partículas encontradas na natureza. Será que o acelerador vai provar que Deus não tem nada a ver com a criação do Universo? Pouco provável. Fato, porém, é que a ciência pode ser obrigada a rever seus conceitos, dependendo dos resultados obtidos com a experiência. O LHC vai acelerar hádrons (partículas subatômicas) a 99,9% da velocidade da luz e, ao colidi-los, criará mini-big-bangs em seu interior – um túnel circular a 100 metros de profundidade e com 27 metros de circunferência, na região de fronteira entre a França e a Suíça. De todas as partículas que serão produzidas na colisão, a que mais interessa aos cientistas é o bóson de Higgs, que o Nobel de Física Leon Lederman apelidou de “partícula de Deus”. Teoricamente, foi ela que deu origem à matéria primordial do Universo. O problema é que ainda não existem provas da sua existência – apenas indícios. Caso o acelerador não consiga provar que o bóson de Higgs realmente existe, os físicos terão de encontrar outra explicação para o Universo como o conhecemos. “Todo o nosso modelo de física de partículas se baseia no Higgs”, declarou à revista Veja o físico Andy Parker, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. “Sem ele, precisaremos encontrar algo novo para pôr em seu lugar.”

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Para saber mais

• Uma Breve História do Tempo
Stephen Hawking, Rocco, 2002.

• O Universo de Stephen Hawking (dvds)
Philip Martin (direção), BBC/Superinteressante, 2008.

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