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Novo estudo descobre o que causou surto de Peste Negra na Idade do Bronze

Pesquisadores identificaram, pela primeira vez, vestígios da Yersinia pestis em um animal que viveu há cerca de 4 mil anos.

Por Luiza Lopes
14 ago 2025, 18h00

Há cerca de 5 mil anos, uma linhagem hoje extinta da bactéria Yersinia pestis se espalhou por toda a Eurásia, região formada pelos continentes da Europa e da Ásia.

Durante quase três milênios, ela percorreu milhares de quilômetros e infectou diversas comunidades humanas antes de desaparecer.

Apesar de pertencer à mesma espécie que, muitos séculos depois, causaria a Peste Negra, essa cepa antiga não possuía as adaptações genéticas que permitiam a transmissão por pulgas de ratos. Na Idade Média, foram esses insetos que permitiam que a bactéria circulasse por longos períodos e infectasse humanos. Como aconteceram os surtos antes disso, então?

Agora, um estudo publicado na Cell traz uma pista importante: pela primeira vez, cientistas identificaram o DNA dessa linhagem em um animal – uma ovelha domesticada que viveu há cerca de 4 mil anos, encontrada no sítio arqueológico de Arkaim, na Rússia. Até então, todos os registros da bactéria eram de restos humanos.

“Temos mais de 200 genomas de Y. pestis de humanos antigos, mas os humanos não são hospedeiros naturais da peste”, explicou Ian Light-Maka, doutorando no Instituto Max Planck de Biologia da Infecção e autor principal do estudo, em comunicado

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A descoberta foi feita a partir da análise de dentes e ossos de 23 animais da Idade do Bronze. Um dente de ovelha, identificado como ARK017, apresentou sinais da bactéria.

A cepa encontrada era praticamente idêntica à que infectou um humano da mesma região e período, ambos ligados à cultura Sintashta-Petrovka – sociedades pastoris conhecidas pelo manejo extensivo de gado, cavalos e ovelhas.

As análises genéticas indicam que tanto humanos quanto ovelhas foram infectados pela mesma população bacteriana.

Os cientistas acreditam que as ovelhas tenham funcionado como “hospedeiros-ponte”, adquirindo Y. pestis possivelmente ao entrar em contato com carcaças de roedores ou outros animais selvagens contaminados.

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Esse cenário, explicam os autores, ainda é observado hoje em partes da Ásia Central: ovelhas podem ingerir ou lamber carcaças de marmotas infectadas e, mesmo sem apresentar sintomas claros, transmitir a bactéria para humanos pelo consumo da carne ou pelo contato durante o manejo.

Diferentemente das pandemias históricas, em que pulgas de ratos desempenharam um papel central, esta peste provavelmente se espalhou por rotas mais variadas, incluindo contato direto com animais infectados. 

Isso também explica por que, no registro arqueológico, não há sinais de grandes covas coletivas associadas a surtos dessa linhagem, mas sim de enterros individuais, sugerindo episódios localizados.

O contexto cultural ajuda a entender como a peste pré-histórica podia se espalhar por milhares de quilômetros. As comunidades Sintashta-Petrovka eram nômades ou semi-nômades, usavam cavalos para tração e transporte, e conduziam grandes rebanhos por extensas áreas. Essa mobilidade aumentava o contato com animais selvagens que poderiam carregar a bactéria.

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Além disso, esses pastores não cultivavam cereais, o que os poupava de atrair roedores urbanos como os que, séculos depois, seriam cruciais na Peste Negra. Ainda assim, tinham contato com roedores em áreas de pastagem, criando oportunidades para infecções.

“Daí em diante, foi apenas mais um pequeno salto para os humanos”, disse Christina Warinner, professora de Arqueologia Científica em Harvard e coautora do estudo.

A análise revelou que a linhagem manteve-se geneticamente estável ao longo de milhares de anos e de uma área que se estendia da Europa Ocidental à Mongólia.

Ela não apresentava as adaptações que tornaram a peste medieval tão letal, mas ainda assim era capaz de causar alta mortalidade.

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Os cientistas detectaram sinais de seleção purificadora – um tipo de pressão evolutiva que elimina mutações prejudiciais – e padrões genéticos semelhantes em infecções de humanos e da ovelha, sugerindo que nenhum dos dois era o reservatório original da bactéria. 

O hospedeiro principal, capaz de manter a linhagem por tanto tempo e espalhá-la em tão larga escala, permanece desconhecido. Entre as hipóteses estão aves migratórias, capazes de transportar patógenos a grandes distâncias.

Embora esta linhagem específica esteja extinta, a Y. pestis continua existindo em focos endêmicos na África, Ásia, Américas e, em menor escala, na Europa. Hoje, são registrados de mil a dois mil casos por ano no mundo.

Não há motivo para alarme em relação ao contato com gado ou animais de estimação. Mas o estudo serve como lembrete de que a domesticação de animais sempre esteve ligada à emergência de doenças humanas. 

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“A lição é que os humanos nunca estiveram sozinhos nas doenças, e isso é verdade há milhares de anos”, disse Light-Maka à CNN. “As formas como estamos mudando drasticamente o meio ambiente e a conexão entre animais selvagens e domesticados podem alterar como as doenças chegam até nossas comunidades.”

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