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O dia em que os médicos aprenderam a lavar as mãos

A história de químicos, médicos e enfermeiras que, no século 19, salvaram milhões de vidas ao disseminar simples (porém revolucionários) hábitos de higiene.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 17 jun 2024, 12h58 - Publicado em 12 jun 2024, 10h00

Na década de 1840, o húngaro Ignaz Semmelweis chefiava a maternidade do Hospital Geral de Viena, na Áustria. E algo o intrigava: as grávidas internadas na ala A contraíam mais infecções do que as que ficavam na ala B do hospital. Por quê?

Ignaz percebeu que, na ala A, quem atendia as pacientes eram doutores e estudantes que passavam boa parte do dia no necrotério. Na ala B, por outro lado, quem cuidava das mulheres eram enfermeiras que não tinham contato com os cadáveres.

Semmelweis supôs que os médicos transmitiam as doenças dos mortos para as pacientes, mas não sabia explicar exatamente como isso acontecia. Por garantia, exigiu que os funcionários passassem a lavar as mãos durante o expediente. E as infecções logo diminuíram.

Seus colegas do hospital, porém, permaneceram céticos. Eles não aceitavam que a falta de higiene deles era a causa de tantas mortes. Semmelweis perdeu o emprego e nunca mais conseguiu se encaixar na área. Publicou suas descobertas em 1861 – e morreu quatro anos depois.

Ignaz foi um dos pioneiros da revolução sanitária que tomou forma na segunda metade do século 19. Nessa época, o francês Louis Pasteur  – que, junto com o alemão Robert Koch, foi um dos arquitetos da teoria dos germes – começou a disseminar a ideia de que existem microrganismos por todo canto, e que eles são responsáveis por diversas doenças.

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Pasteur estudou como essas bactérias e fungos estragavam comida e desenvolveu o método que leva o seu nome: a pasteurização (um choque térmico que mata bactérias e aumenta a validade dos alimentos). Exterminar os micróbios que entravam em contato com os humanos, porém, era um pouco mais complicado.

Inspirado pelas ideias de Pasteur, o cirurgião inglês Joseph Lister começou a estudar infecções em fraturas ósseas. Lister dava aulas em Glasgow, na Escócia, e gastava horas mergulhado em microscópios (uma paixão que ele herdou do pai, que fez importantes descobertas no desenvolvimento de lentes). Não era um hábito comum: naquela época, a maioria dos médicos não via utilidade no equipamento.

Lister percebeu que fraturas expostas infeccionavam mais do que as que não rasgavam a pele. “A culpa deve estar em algo suspenso no ar”, pensou. O médico, então, procurou por desinfetantes que pudessem ser aplicados em humanos. Em 1865, ele experimentou uma versão diluída do fenol, um químico usado para tratar esgotos, e a usou para higienizar mãos, equipamentos, feridas e curativos.

Lister havia acabado de criar o primeiro antisséptico, que reduziu drasticamente as infecções pós-operatórias. O médico estabeleceu um rígido protocolo de higienização para cirurgias, e desenvolveu também sabonetes e sprays desinfetantes.

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Lister publicou suas descobertas em 1867. Nos anos 1880, a teoria dos germes já era amplamente aceita, e a assepsia tornou-se o padrão-ouro em procedimentos cirúrgicos. Lister virou cirurgião particular da Rainha Vitória, e seu nome serviu para batizar um enxaguante bucal lançado em 1895: o Listerine.

Semmelweis, Pasteur e Lister não são os únicos personagens desta história, claro. A revolução sanitária é também mérito dos profissionais de saúde que desafiaram o status quo e implementaram métodos mais higiênicos. É o caso da enfermeira Florence Nightingale, pioneira no ensino moderno da enfermagem, que obrigou todos os médicos do exército britânico a lavar as mãos.

Em meados do século 19, a expectativa de vida mundial era de 30 anos, em média. Hoje, é de 72. Um salto que começou graças a sabonetes e antissépticos. Valeu, Merthiolate.

Consultamos os livros: Medicina dos Horrores, de Lindsey Fitzharris, Medicina Macabra, de Thomas Morris, e A Fabulosa História do Hospital, de Jean-Noël Fabiani.

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A Fabulosa História do Hospital

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