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O lobo do cáucaso

Ao norte, na Ciscaucásia, existem oito repúblicas e regiões autônomas que integram a Federação Russa, entre elas a República da Chechênia, a Inguchétia e o Daguestão.

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Atualizado em 31 out 2016, 18h23 - Publicado em 30 nov 2002, 22h00

Edward Pimenta Jr. e Celso Miranda

No último dia 26 de outubro, o mundo assistiu atordoado a mais um capítulo na guerra suja entre o governo russo e os separatistas chechenos, que lutam pela independência da pequena república do Cáucaso. A tensão na região da Chechênia já dura 500 anos e se explica por duas vertentes: uma religiosa, outra econômica. O palco da tragédia, uma área montanhosa na Ásia Central, entre os mares Negro e Cáspio, é o ponto de contato entre duas civilizações: de um lado, a eslavo-ortodoxa, representada por populações de origem russa, do outro, a islâmica, composta por mais de 20 povos. A parte sul (Transcaucásia) inclui a Geórgia, a Armênia e o Azerbaijão, países conhecidos como Repúblicas do Cáucaso. Ao norte, na Ciscaucásia, existem oito repúblicas e regiões autônomas que integram a Federação Russa, entre elas a República da Chechênia, a Inguchétia e o Daguestão.

O interesse econômico externo sempre foi, desde o século 14, pelo controle dos vales, das águas e das raras passagens entre as montanhas, rotas do comércio entre a Ásia e a Europa. Hoje, são os oleodutos que atravessam o Cáucaso, ligando as reservas de petróleo e gás no Azerbaijão e Cazaquistão a Moscou e aos portos da Europa, que se tornaram assuntos estratégicos.

Com picos superiores a 5 mil metros, as montanhas do Cáucaso também ajudam a explicar o conflito. As poucas vias de acesso induziram o isolamento político e as rivalidades que caracterizam a região.

1761 a 1791

Os russos estabeleceram bases na região para dividir as zonas de influência entre seu território e o Império Turco. A chamada Linha Caucasiana serviu de base para o expansionismo russo. Apoiados pelos turcos, os chechenos resistiram, liderados pelo muçulmano Shaikh Mansour, que chegou a comandar 25 mil soldados, mas foi derrotado em 1791, em Tatar-Toub.

1817 a 1864

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A anexação da Geórgia pelos russos reacendeu a revolta dos caucasianos. Em 1830, o exército do czar Nicolau I invadiu a região e encontrou a resistência de Imam Shamil. A campanha deixou pelo menos 77 mil russos mortos e causou o êxodo da população do Cáucaso para o Império Otomano.

1917 a 1944

Unidos pelo fervor religioso, os caucasianos derrotaram o Exército Vermelho, em 1919. Com a ascensão de Stálin ao poder, a perseguição aos muçulmanos aumentou. No final da Segunda Guerra, os soviéticos ocuparam a região e expulsaram a população local, acusada de colaborar com o nazismo: 400 mil chechenos e inguchetianos foram deportados para a Ásia Central.

1994 a 2002

Com o fim da União Soviética, a Chechênia declarou independência em 1991. Os tanques russos interromperam a breve etapa de negociações diplomáticas quando invadiram Grozny, em 1994. Após acordos que nenhum dos lados cumpriu, as ações recomeçaram em 1999. Mais de 240 mil pessoas morreram nesse período.

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Faces do conflito

Personagens de uma guerra sem fim

Shaikh Mansour (1732 – 1794)

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Liderou a primeira resistência contra a presença russa no Cáucaso, tornando-se herói nacional na Chechênia ao proclamar a jihad (guerra contra os infiéis). Camponês e analfabeto, proclamava-se profeta. Capturado em 1791, passou seus últimos dias na prisão

Catarina II (1729 – 1796)

Imperatriz da Rússia, foi grande propagadora da fé ortodoxa, em nome da qual expandiu as fronteiras russas. Estabeleceu as linhas de defesa no Cáucaso e travou a guerra contra os turcos (1768-1792). Em 1783 conquistou a Criméia, abrindo o mar Negro para os russos

Imam Shamil (1797 – 1871)

Unificou os povos caucasianos na luta pela independência e chegou a comandar 60 mil homens durante os 30 anos de luta contra Nicolau I. É atribuída a ele a frase que, até hoje, estimula os chechenos à luta: “Covardia e fraqueza nunca salvaram ninguém”

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Stálin (1879 – 1953)

As técnicas que utilizava para enfrentar, intimidar ou eliminar seus adversários aplicaram-se no Cáucaso, durante a Segunda Guerra. Stálin aproveitou as denúncias de que a população local colaborou com os nazistas, para perseguir os nacionalistas

Vladimir Putin (1952)

Tornou-se primeiro-ministro em 1999, em meio ao agravamento dos combates, no Cáucaso, e, no mesmo ano, assumiu a presidência. Após os ataques a Nova York, em 2001, passou a chamar os chechenos de “terroristas ligados a Bin Laden”. Ordenou a invasão ao Teatro de Moscou, em outubro

Aslan Maskhadov (1951)

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Presidente da Chechênia eleito em 1997, vive refugiado nas montanhas. É tido como moderado por defender um governo democrático, em oposição aos extremistas que pleiteiam um Estado islâmico. Não é reconhecido pela Rússia nem pela comunidade internacional

Cartas marcadas

Conheça os principais jogadores e os interesses em disputa

Rússia

Capital: Moscou

População: 148 milhões

Desde o fim da URSS, a região do Cáucaso tem causado problemas para a Rússia. O controle das companhias internacionais de petróleo sobre as jazidas do mar Cáspio põe em risco o domínio russo na região. Além das reservas, o transporte, antes exclusividade do Estado, também tem gerado tensão. Em 1999, um oleoduto ligando Baku (Azerbaijão) a Soupsa (Geórgia), às margens do mar Negro, foi reaberto, atendendo aos interesses ocidentais.

Chechênia

Capital: Grozny

População: 900 mil

Com maioria islâmica sunita, o país é administrado por um governo separatista não reconhecido por Moscou. As tropas russas ocupam a capital e a maior parte de seu território. Os rebeldes habitam vilas nas montanhas. Sem reservas de petróleo, é sua rede de dutos que desperta o interesse externo, dois deles em especial: um que permite escoar a produção do mar Cáspio, no Azerbaijão, para a o mar Negro e outro que transporta o óleo do Cazaquistão para a Europa.

Daguestão

Capital: Makachkala

População: 100 mil

O pequeno território de 50 mil km2 abriga campos de petróleo e oleodutos. Além disso, ali fica o único porto russo no mar Cáspio que pode ser usado o ano todo. A região abriga 32 povos que só se uniram no século 19 para enfrentar um inimigo comum: o Império Russo, contra o qual lutaram durante 30 anos. Em 1999, chechenos avançaram a fronteira do Daguestão, em território russo, para ajudar separatistas islâmicos. No ano seguinte, a Rússia recuperou a área.

Geórgia

Capital: Tbilisi

População: 5 milhões

Ocupada pelos russos em diferentes épocas de sua história, a Geórgia não aceitou, a princípio, fazer parte da Comunidade de Estados Independentes, após o colapso soviético. No entanto, em 1993, quando seus exércitos foram expulsos da Abkházia por separatistas financiados pela Chechênia, o país aderiu à CEI e solicitou apoio militar russo.

Azerbaijão

Capital: Baku

População: 7,7 milhões

A ex-república soviética é hoje uma nação independente e possui enormes jazidas de petróleo e gás natural na costa do mar Cáspio. A maioria da população é muçulmana e sofre com a pobreza. Em 1999, afrontou a Rússia ao assinar com a Turquia um acordo para a construção de um oleoduto ligando Baku ao porto turco de Ceyhan, no Mediterrâneo. O novo oleoduto foi colocado sob a proteção do sistema de segurança da OTAN.

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