André Santoro
Na lata: 32 292. É claro que esse número não passa de uma estimativa – que já deve estar se desatualizando enquanto você folheia esta revista. Ele é o resultado dos cálculos feitos pela ong americana Instituto para a Prevenção do Terrorismo, que considera atentados ocorridos no mundo todo desde 1968. “É o melhor dado disponível, mas não deve ser interpretado de forma definitiva”, diz James Kirkhope, diretor do Centro de Pesquisas sobre o Terrorismo, consultoria que oferece serviços para o governo dos EUA. Para ele, “a quantidade de vítimas deve ser muito maior”.
O número esbarra na própria definição de terrorismo – muito controversa. Para o Centro Nacional Contra o Terrorismo, criado pelo governo Bush, trata-se de um “ato de violência premeditado e perpetrado por grupos subnacionais ou agentes clandestinos contra alvos não-combatentes”. Tal conceito exclui o terrorismo de Estado – a tortura e execução dos que se opunham à ditadura militar no Brasil é um exemplo. A ONU aceita 4 definições, porém aponta a seguinte como “consenso acadêmico”: “Terrorismo é um método de violência empregado por indivíduos, grupos ou agentes do Estado em que as vítimas diretas não são os alvos principais”. Por não-combarentes ou alvos não-principais, entenda civis.
O fato é que não há acordo sobre o que seja terrorismo. “Terrorismo não é ideologia, mas um método de luta, em geral dos que não possuem outras armas”, afirma o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, da UnB. Embora o terrorismo não aplique necessariamente a violência física, ele não engloba todo ato que cause terror. Em 1938, por exemplo, o ator e diretor Orson Welles narrou pelo rádio o livro A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells. O pânico foi geral, pois os ouvintes acreditaram que a Terra era invadida por marcianos. Welles pode ter premeditado a confusão, mas não tinha um objetivo político ou social e, por isso, não pode ser considerado terrorista.
Ódio milenar
O terrorismo não foi inventado porOsama Bin Laden: saiba como os grupos agem desde o tempo de Jesus Cristo
Zelotes
Quem eram: Uma seita judaica.
Quando: Século 1.
Onde: Judéia (atual Israel).
Motivo: Resistir contra a opressão romana.
Tática: Assassinato e seqüestro de soldados romanos e judeus que colaboravam com Roma.
Resultado: Os romanos eram muito mais fortes e sufocaram o movimento.
Motivação: motivação, nacionalista
Tática: assassinato, seqüestro
Inquisição
Quem eram: Clérigos da Igreja Católica Apostólica Romana.
Quando: 1231 a 1781 (para alguns teólogos, continua até hoje).
Onde: Europa.
Motivo: Impedir a proliferação de seitas anticristãs.
Tática: Execução e exílio forçado.
Resultado: Uma mancha na história do cristianismo. E um pedido oficial de desculpas da Igreja durante o pontificado de João Paulo 2º.
Motivação: Religiosa
Tática: Execução
Regime do terror
Quem eram: Revolucionários franceses, liderados por Maximilien Robespierre.
Quando: 1793 a 1794.
Onde: França.
Motivo: Aniquilar aristocratas e defensores do Antigo Regime.
Tática: Execução (principalmente na guilhotina).
Resultado: Mais de 17 mil mortes. Um detalhe importante: o termo “terrorismo” nasce nessa época.
Motivação: terrorismo de estado
Tática: execução
Nazismo
Quem eram: Políticos e militares alemães.
Quando: Durante a 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945).
Onde: Europa.
Motivo: Varrer os judeus do mapa e garantir a supremacia alemã.
Tática: Restrição dos direitos individuais, prisão, tortura e execução.
Resultado: Mais de 10 milhões de mortos – entre os quais, 6 milhões de judeus.
Motivação: motivação
Tática: execução, tortura
Esquerda brasileira
Quem eram: As organizações Movimento Revolucionário 8 de Outubro e Ação Libertadora Nacional.
Quando: 1969.
Motivo: Libertar presos políticos da ditadura .
Tática: Seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick.
Resultado: Os presos foram libertados e o embaixador escapou ileso. O atual deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que participou da ação, ainda é persona non grata nos EUA.
Tática: seqüestro, atentado
Direita brasileira
Quem eram: Militares do Exército.
Quando: 1981.
Motivo: Incriminar os movimentos de esquerda.
Tática: Detonar 3 bombas durante show no Riocentro, no Rio de Janeiro, e pôr a culpa na esquerda.
Resultado: Deu tudo errado: uma das bombas explodiu no carro em que estavam dois militares, matando um e ferindo o outro. O caso foi abafado pelos militares na época, mas eles acabaram desmascarados.
Motivação: terrorismo de estado
Tática: atentado, tortura, seqüestro
Al Qaeda
Quem são: Os seguidores do radical islâmico Osama Bin Laden.
Quando: O pior ato terrorista do grupo – e de toda a história – ocorreu em 11/9/2001.
Onde: EUA.
Motivo: Mandar os americanos, o cristianismo e a democracia para o inferno.
Tática: Explodir aviões comerciais em prédios.
Resultado: Cerca de 3 mil mortos; a inauguração de uma nova (e mais obscura) era mundial; a reeleição de George W. Bush.
Motivação: religiosa, étnica
Tática: atentado
Correio venenoso
Quem foi: Não se sabe.
Quando: Setembro a novembro de 2001.
Onde: EUA.
Motivo: Há quem desconfie da Al Qaeda. Mas algumas investigações sustentam que terroristas americanos ou israelenses teriam promovido os ataques para apressar a invasão do Iraque.
Tática: Contaminação de cartas por antraz, uma bactéria mortífera.
Resultado: 5 mortes e uma paranóia que chegou até o Brasil.
Tática: atentado
Nacionalistas Tchetchenos
Quem são: Milícias que lutam pela independência da Tchetchência, território sob domínio russo.
Quando: O pior atentado ocorreu em setembro de 2004, em uma escola.
Onde: Beslan, Rússia.
Motivo: Expulsar os russos a qualquer custo.
Tática: Seqüestro e execução (explosões e fuzilamento).
Resultado: 339 mortes (a maioria, crianças).
Motivação: nacionalista, étnica
Tática: execução, seqüestro, atentado
Nacionalistas Europeus
Quem são: Exército Republicano Irlandês (IRA) e Pátria Basca e Liberdade (ETA).
Quando: Desde 1959 (ETA) e 1919 (IRA).
Onde: Reino Unido (IRA), Espanha e França (ETA).
Motivo: O IRA quer o fim do domínio inglês na Irlanda do Norte. O ETA luta pela autonomia do país Basco, na fronteira entre a Espanha e a França.
Tática: Assassinato e seqüestro.
Resultado: Milhares de mortos. O IRA entregou suas armas e o ETA continua ativo.
Motivação: nacionalista, étnica
Tática: assassinato, seqüestro, atentado