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As ilhas de Darwin

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h00 - Publicado em 31 jul 1998, 22h00

Flávio Dieguez

Novas leis de proteção ambiental asseguram a sobrevivência dos animais das Galápagos, onde o inglês Charles Darwin buscou inspiração para escrever a Teoria da Evolução.

Visitar Galápagos é, até certo ponto, como fazer uma viagem a outro planeta. Primeiro, porque é um mundo novo. As ilhas foram criadas por erupções vulcânicas submarinas há apenas quatro milhões de anos – um tempo muito curto, em termos geológicos. Em segundo lugar, elas abrigam animais que evoluíram só lá, em mais nenhum lugar da Terra. Das 5 000 espécies, quase 2 000 constituem uma fauna exclusiva, que provoca a admiração dos turistas e dos pesquisadores. O primeiro a perceber isso foi o criador da Teoria da Evolução, o inglês Charles Darwin (1809-1882). Em 1835, Darwin estudou os habitantes do lugar, concluindo que, há milhões de anos, espécies do continente teriam migrado para as ilhas recém-formadas. Então, ao se readaptar num ambiente isolado e tranqüilo, a fauna migrante gerou espécies novas, que não se desenvolveriam em nenhuma outra parte. Daí a importância das leis editadas agora pelo governo do Equador, que tem a soberania sobre essa região. Elas asseguram que esse mundo fantástico, perdido no Pacífico, poderá continuar a evoluir sem ser perturbado.

Terra de vulcões

O arquipélago é um dos pontos mais jovens do planeta. Algumas ilhas, como a Isabela, na foto, se formaram há cerca de um milhão de anos e ainda apresentam atividade vulcânica

Répteis do mar

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Os iguanas marinhos, que só existem em Galápagos, mergulham a 40 metros de profundidade e seguram a respiração por 20 minutos, à caça de algas, caranguejos e até filhotes de leão-marinho

Direto das profundezas do planeta

O Arquipélago de Galápagos é um dos lugares mais jovens do planeta, com mais ou menos quatro milhões de anos de existência. Brotou direto do fundo do mar, num período em que o leito oceânico foi sacudido por erupções particularmente violentas. Os vulcões cresceram até despontar acima da superfície e, com o tempo, se acalmaram, transformando-se em ilhas. Até hoje, as ilhas mais jovens, como Fernandina e Isabela, com cerca de um milhão de anos, têm vulcões ativos. O motivo é que o arquipélago fica bem na divisa de duas massas rochosas gigantes, chamadas de Placa do Pacífico e Placa de Nazca. Entre as placas há uma fenda por onde sobe lava ardente do interior do planeta. Foram esses vazamentos que produziram os vulcões, há cerca de quatro milhões de anos. E eles continuam a gerar calor. Mas, agora, seu principal efeito é empurrar a Placa de Nazca, sobre a qual ficam as ilhas, na direção do continente americano. Aí, a massa bate na Placa da América do Sul, que a vai engolindo lentamente. Estima-se que, dentro de vinte milhões de anos, o arquipélago vai mergulhar inteiro de volta para os subterrâneos do planeta, de onde saiu.

Campeão vegetal

O arbusto chamado palo santo está em toda parte. Um herói. Brota no solo pobre que se criou sobre a lava desde a formação das ilhas

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Almoço colorido

Caranguejos são essenciais na cadeia ecológica. Abundantes, são um dos pratos principais dos vários iguanas adaptados às ilhas

Visitantes assíduos

Leões-marinhos (à esquerda) não são moradores fixos, mas aparecem para pescar os peixes cirujanos (no detalhe), que são fartos no arquipélago

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Navegantes de alto Mar

As ilhas são um dos poucos lugares onde as tartarugas-verdes ainda podem pôr ovos com segurança e tranqüilidade. Grandes nadadoras, entre uma desova e outra elas passeiam por vastas áreas do Pacífico

Répteis em família

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Os iguanas são todos descendentes de um mesmo bicho, que é o iguana da América do Sul. Só que, depois de migrar para as ilhas, o réptil original evoluiu e gerou nove espécies diferentes. Cinco se adaptaram à terra e quatro ao mar, como os desta foto

Um mundo feito de bichos desgarrados

Depois que o choque das placas tectônicas levantou as primeiras ilhas, elas começaram a receber migrantes vindos do continente americano. Os pássaros, os insetos e as sementes das plantas devem ter sido arrastados pelo vento. Já os iguanas e as tartarugas podem ter sido transportados por correntes marinhas, flutuando em troncos perdidos. Apanhados de surpresa pela cheia de um rio, teriam terminado no mar. Aí, uma vez nas ilhas, essa fauna perdida se readaptou com rapidez. Alguns biólogos estimam que os pássaros chamados tentilhões de Darwin evoluíram em apenas 100 000 anos. É uma mudança bem rápida, em termos evolutivos. Ainda mais porque, a partir de um único ancestral vindo do continente, surgiram nada menos que treze espécies novas. E algumas metamorfoses foram radicais, como a dos iguanas. Uma das espécies das Galápagos é hoje a única do mundo capaz de procurar comida no mar, em mergulhos de até 40 metros de profundidade. Gostaram tanto do novo estilo de sobrevivência que sua população atual está estimada em 200 000 a 300 000 répteis.

Pescadoras exclusivas

As garças-azuis são parentes próximas das que moram nas Américas do Norte e do Sul. As migrantes originais geraram uma subespécie que só pesca nas ilhas

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Predadores do ar

As corujas se deram bem nos hábitats oceânicos. Como não há grandes mamíferos com que concorrer na caça, essas caçadoras carnívoras dividem o posto de predadores máximos com os iguanas terrestres

No reino dos céus

Estas, sim, são aves raras. Espécies como a gaivota cola de golondrina (no detalhe) são exclusividade em Galápagos. Também é exclusivo o mergulhão, que faz um sapateado de casamento para atrair a fêmea

Artesão alado

Uma das treze espécies de tentilhões aprendeu a manipular espinhos de cactus com o bico. É como se o pássaro fizesse um instrumento, com o qual cutuca troncos podres e arranca larvas para comer

Ar quente e água fria

Até o pingüim (esquerda) se adaptou às condições climáticas, por causa das correntes frias que sobem da Antártida. A calandria (ao lado) mudou tanto em relação a seus parentes do continente que passou para outro gênero. Existem quatro espécies diferentes vivendo em ilhas distintas

Dos incas e piratas aos imigrantes

Não é possível ter certeza de quanto tempo as Galápagos evoluíram isoladas da intromissão humana. O registro histórico assinala que a primeira viagem às ilhas foi feita pelos espanhóis, no século XVI, sob a orientação do inca Tupac Yupanqui, avô do célebre Atahualpa Yupanqui, um grande líder desse povo, no Peru. O fato é que, nessa época e nos séculos seguintes, a região permaneceu deserta. No máximo, serviu como esconderijo de grandes piratas, no século XVII. E depois como posto de reabastecimento para caçadores de baleias (que, por sinal, capturaram um número incalculável de tartarugas para alimentar a tripulação). Ainda assim, a ocupação humana só começou para valer no início deste século. Daí para a frente, a presença humana tornou-se uma ameaça para as Galápagos, que já abrigam 15 000 habitantes. Tanto é assim que esse foi o ponto mais importante das leis aprovadas este ano: elas agora proíbem a migração, numa tentativa extrema de evitar o povoamento desordenado das ilhas. Os cientistas agradecem, pois ainda estão longe de aprender tudo o que a natureza tem para lhes ensinar em Galápagos.

Símbolo lerdo

Galápagos significa “tartarugas”, em espanhol, e dá nome a essas gigantes, que são um símbolo das ilhas. Elas chegam aos 270 quilos e a 1,5 metro de ponta a ponta (passando sobre o casco). Sua digestão demora três semanas

Roedores penetras

Os ratos entraram nas ilhas de contrabando, escondidos nas embarcações. Proliferaram muito, alterando em parte o ecossistema natural. Mas, até onde se saiba, não representam uma interferência significativa

Fogo cercado de mar por todos os lados

As Galápagos nasceram das lavas lançadas por vulcões submarinos. Oito deles são ativos ainda.

No meio do Oceano Pacífico há uma fenda no subsolo marinho, por onde escapa lava do interior do planeta. Foram elas que formaram as ilhas, há quatro mihões de anos.

A área total das oito ilhas grandes e cinco menores é de 8 000 quilômetros quadrados, equivalente a 1,5 vez o tamanho do Distrito Federal.

De acordo com as circunstâncias

Os bichos migrantes se adaptaram ao ambiente das Galápagos criando novas espécies.

O tentilhão vindo das Américas deu origem a treze espécies novas.

Uma delas tem o bico próprio para catar sementes…

… Outra, para colher frutos…

… E uma terceira, para caçar insetos.

As tartarugas que comem capim mantiveram a cabeça baixa

As que devoram plantas mais altas espicharam o pescoço

Das nove espécies de iguana, cinco são terrestres…

… E quatro são marinhas.

Um paraíso longe do mundo

As Galápagos permaneceram em isolamento quase completo até o início do século XX.

Século XVI

Colonizadores espanhóis tornam-se os primeiros europeus a pisar em Galápagos.

Século XVII

No meio do mar, as ilhas servem de esconderijo ideal para os piratas.

Século XVIII

Caçadores de baleias tiram proveito da fauna excepcional para se reabastecer de carne.

1832

O Equador toma posse do território e estabelece a primeira colônia permanente.

1835

Charles Darwin chega em setembro e passa cinco semanas estudando a fauna do lugar.

1959

O governo do Equador resolve transformar as ilhas em parque nacional.

1979

A Organização das Nações Unidas declara Galápagos um patrimônio da humanidade.

1998

Novas leis de proteção proíbem a pesca comercial e limitam a entrada de novos colonizadores.

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