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E se… a água dos oceanos fosse doce?

O planeta teria mais geleiras, poderia abrigar menos pessoas e nós seríamos mais deprimidos.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 jun 2019, 14h57 - Publicado em 31 dez 2005, 22h00

Um mar de água doce mexeria com todo o clima da Terra – e com nossa vida também. O planeta teria mais geleiras, poderia abrigar menos pessoas e nós seríamos mais deprimidos. A parte boa dessa coisa toda é que não faltaria água para beber e, talvez, o homem inventasse mais.

As mudanças seriam tão grandes quanto o volume de sais que existe no mar: hoje, se os oceanos secassem, o planeta poderia ser coberto por uma camada de sal com 150 metros de espessura! A maior parte é sal de cozinha (cloreto de sódio). O resto são sais de enxofre, magnésio, cálcio e potássio, entre outros.

O sal é um dos fatores que determinam a movimentação das correntes marítimas – os outros são a temperatura e os ventos. A água do mar com menos sal (menos densa) corre sobre a água com mais sal (mais densa). “Se toda a água fosse doce, provavelmente haveria menos movimentação nos oceanos”, afirma o oceanógrafo Belmiro de Castro Filho, da USP.

E daí? O problema é que o Sol aquece a Terra principalmente pela região do Equador. São os ventos e as correntes marítimas que distribuem o calor para os polos – e o frio para o Equador. A corrente do Golfo (quente), por exemplo, garante que a Inglaterra não seja um bloco de gelo. E a corrente do Peru (fria) permite a boa pesca no litoral do Chile. Com as correntes mais fracas, as zonas frias seriam mais frias e as quentes, mais quentes. Haveria também mais geleiras. “O clima geral da Terra ficaria mais frio e seco”, diz a pesquisadora Leila de Carvalho, do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP. Isso porque o gelo reflete diretamente a radiação solar – e a Terra é aquecida pelos raios absorvidos pelo solo e pela água.

Um consolo nisso tudo: a ecologista Gisela Shimizu, da USP, acha que o frio, por obrigar as pessoas a ficar em casa sem ter o que fazer, poderia estimulá-las a exercitar a criatividade. Quem sabe, vivendo num planeta mais gelado, o homem pensasse mais.

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De volta à Era Glacial

Gelo a perder de vista

A água do mar, salgada, congela a -2 ºC. Se fosse doce, congelaria a 0 ºC. Por isso, haveria mais gelo no mar. O oceano, que hoje é congelado acima da latitude 70º, passaria a ter geleiras até a latitude 60º. Com isso, a América, Ásia e Europa estariam unidas por placas de gelo, no Polo Norte. E a Antártida ficaria mais próxima da América do Sul, da Austrália e da África.

O mar vai virar sertão

Mais geleiras significam um oceano com nível mais baixo. Assim, os continentes teriam mais pedaços de terra descobertos, ou seja, seriam maiores. Algumas ilhas submersas emergiriam e outras seriam ligadas a continentes – Indonésia e Japão, por exemplo, fariam parte da Ásia continental. O mar Vermelho secaria completamente.

Marrom da cor do mar

As espécies exclusivamente marinhas não existiriam. Os corais, por exemplo, necessitam dos minerais presentes nos sais marinhos. E as espécies mais coloridas, como certos peixes e invertebrados, são assim para se camuflar nos corais. A vida nos oceanos seria mais parecida com a dos lagos, onde o chão é lodoso. A cor dominante seria, portanto, o marrom.

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Aridez na Amazônia

Quando a Terra tinha mais geleiras, chovia mais no deserto do Saara, onde viviam até dinossauros. Isso leva a crer que, num mundo de água doce, o Saara seria mais úmido e teria mais plantas e animais. Por outro lado, a Amazônia é tão frágil e seu solo, tão pobre que a floresta não sobreviveria ao aumento da temperatura no Equador, e viraria um deserto.

Menos comida, menos gente

Com clima geral mais frio e seco, a capacidade de produzir alimentos diminui. O número de pessoas na Terra é limitado pela quantidade de comida disponível, então seria menor. Provavelmente o homem teria desenvolvido mais formas de viver em ambientes gelados e um meio de transporte eficiente na neve, para ir facilmente da Europa à América pelo Polo Norte.

É 8 ou 80 no clima do planeta

Com menos correntes marítimas, a tendência é que o calor seja menos distribuído. Assim, a região do Equador seria ainda mais quente e as zonas temperadas, mais frias. No geral, as zonas glaciais avançariam até 10º de latitude sobre as zonas temperadas, que encolheriam. Da mesma forma, as zonas tropicais cederiam alguns graus para as regiões temperadas.

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