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Um novo nome para o planeta azul

Foi o mar o grande desafio que incitou os navegadores do século XV a sair rumo ao desconhecido e descobrir novos continentes.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 mar 2023, 12h04 - Publicado em 31 mar 1998, 22h00

Gabriela Aguerre

Olhe bem para o globo terrestre e repare: mais de dois terços de sua superfície estão cobertos de água. Então respire fundo e seja bem-vindo ao planeta… Oceano.

Foi no mar que surgiu o primeiro ser vivo, 3,9 bilhões de anos atrás. Foi o mar o grande desafio que incitou os navegadores do século XV a sair rumo ao desconhecido e descobrir novos continentes. É o mar que gera quase todo o oxigênio que respiramos e que rege as temperaturas na maior parte do mundo.

É também o mar que cobre 71% da superfície do planeta. Por que será, então, que o nosso planeta não se chama Oceano, em lugar de Terra? A resposta é simples: até poucos séculos atrás, nossa civilização não sabia quase nada sobre o mar. O horizonte conhecido era o da terra firme, rodeado por aquele mundaréu de água que ninguém sabia onde acabava. Ainda hoje, os oceanos são menos conhecidos do que vários planetas. Mas, aos pouquinhos, a Ciência está desvendando os seus mistérios.

Um desenho que muda o tempo todo

O mapa-múndi que você viu na página anterior mostra como estão distribuídos os oceanos e os continentes no planeta, atualmente. Nem sempre o mapa foi assim. Há 200 milhões de anos, o mundo era bem diferente. Havia só um bloco de terra, Pangéia, o continente universal, rodeado por um superoceano, Pantalassa. Um único e gigantesco oceano, sem fronteira nem divisões. Como num quebra-cabeças que se faz e desfaz o tempo todo, a imensa massa continental começou a se dispersar. Acompanhe, ao lado, como isso aconteceu.

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Cerca de 180 milhões de anos atrás, começaram a se formar dois blocos continentais. Eram a Laurásia, o bloco do Norte, e Gonduana, que reunia os continentes do Hemisfério Sul. Foi nesse momento também que ocorreu a primeira cisão de Pantalassa, com o aparecimento do Mar de Tétis, entre Laurásia e Gonduana. Os oceanos, tal como os conhecemos hoje, surgiram há 65 milhões de anos. A partir dessa época, os continentes passaram a ter seus endereços atuais.

A teoria da separação dos continentes e, conseqüentemente, do surgimento dos oceanos, foi elaborada em 1915 pelo geofísico e astrônomo alemão Alfred Wegener. Em sua época, ele não foi levado a sério. Wegener enxergava os continentes como imensas massas de terra flutuando sobre as placas da crosta terrestre. Ele estava certo. Na década de 60, evidências geológicas fizeram com que Wegener saísse da lista dos cientistas malucos. E entrasse para o clube dos gênios.

E assim surgiu o oceano

No início, o mar era uma sopa quente, com gosto de vinagre.

Imagine o cenário. Há 4 bilhões de anos atrás. Um planeta novo, a Terra, formado a partir de uma nuvem de poeira e gás. Vulcões expelindo vapor de água. A atmosfera, formada por vapor, metano e amônia. À medida que a Terra começa a esfriar, 200 milhões de anos depois, o vapor é condensado e cai na forma de chuvas torrenciais. Formam-se rios, que deságuam nas partes baixas que viriam a ser os oceanos. Naquela altura, as águas não eram salgadas e frias como hoje. Formavam um sopão quente, de gosto ácido como o vinagre. O sal é originário do fundo da terra. Veio parar no oceano por causa das erupções vulcânicas, que o espalharam pela superfície até ser levado, com a água da chuva, para o mar. A partir daí, o ciclo da água se encarrega de manter os oceanos salgados e… molhados. A energia solar evapora a água e os ventos transportam o vapor, até que ele condense e volte à superfície, na forma de chuva ou de neve. Daí, a água volta a fluir para os rios, que se dirigem para o mar. Se pudéssemos seguir uma molécula de água durante o seu ciclo, veríamos que, a cada 100 anos, ela passa em média 98 no oceano.

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O quebra-cabeças dos continentes

Conheça Pangéia e Pantalassa, antepassados das terras e mares do planeta de hoje.

Não é preciso muita imaginação para verificar que o litoral brasileiro se encaixa quase perfeitamente à costa africana. Mas este é apenas um indício de que os continentes constituíram, originalmente, um único bloco. A prova foi fornecida, na década de 60, pela paleontologia, a ciência que estuda os fósseis, e pela geologia. Foram encontradas semelhanças entre plantas e animais da América do Sul e da África. E as rochas dos dois continentes formam faixas que se encaixam perfeitamente.

Os “pedaços” da antiga Pangéia se encaixam como um quebra-cabeças. Esse fato, e mais as faixas com o mesmo tipo de rocha em continentes diferentes, reforçam a teoria de que eles estiveram unidos no passado

Pangéia se fragmenta

200 milhões de anos atrás.

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Pangéia, o continente universal, começa a dividir-se em sete grandes blocos de terra, separados por faixas estreitas de água. O conjunto todo ainda está rodeado por um grande e único oceano, Pantalassa.

Gonduana e Laurásia

180 milhões de anos atrás.

O continente universal se dispersa definitivamente, com a formação de dois grandes blocos: Laurásia, ao norte, e Gonduana, ao sul. Entre os dois, surge o Mar de Tétis, a primeira subdivisão de Pantalassa.

Os oceanos atuais

65 milhões de anos atrás.

A América do Sul e a África se separam devido ao movimento das placas tectônicas. A Antártida e a Austrália também se desprendem do resto de Gonduana. Formam-se os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Pantalassa não existe mais.

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E como será o mapa no futuro?

Daqui a 50 milhões de anos.

Se as placas da Terra estão sempre em movimento, é certo afirmar que o mapa-múndi vai mudar outra vez. A África Oriental tende a se separar do resto do continente e a Austrália pode se aproximar da Ásia.

Universo cheio de contrastes

Costuma-se usar indistintamente as palavras oceano ou mar para designar o conjunto de água salgada das praias, das margens dos continentes, do interior de um golfo. Mas mares são porções de água salgada parcialmente circundadas por terra. E oceanos são grandes áreas contínuas de água.

No final das contas, os oceanos e mares da Terra formam um único e imenso conjunto de água. Podem mudar de cor. São verdes nas praias, azuis nos desertos marinhos, turquesa sobre as areias brancas. Podem ter temperaturas diferentes, ser cálidos nos trópicos e gelados nas regiões polares. O fascinante é que a grande “sopa” que compõe o mar constitui um sistema perfeito, harmonioso e propício à existência de plantas e animais.

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Entre os oceanos, cada um tem sua particularidade. Mas todos eles são sistemas que possibilitam a criação e a manutenção de seres vivos. O maior e mais profundo é o Pacífico, que cobre um terço do globo e contém mais da metade da água marinha da Terra. O Atlântico, que banha todo o leste da América Latina e o oeste dos continentes africano e europeu, tem uma imensa importância histórica por ter sido o caminho entre a Europa e a América. O Índico contém o mar mais salgado, o Mar Vermelho, e as águas mais quentes do planeta, no Golfo Pérsico. Já o Oceano Polar Antártico é castigado por ventos fortes que provocam ondas gigantescas sobre o continente. E o menor e mais raso é o Ártico, cerca de 13 vezes menor que o Pacífico.

Um bebida intragável

Em cada 1 quilo de água do mar, há 35 gramas de sal.

Quem prova o sabor da água do mar pela primeira vez, tem sempre uma reação de espanto. Humm… salgado? Sim. Salgadíssimo. Se fervermos um litro de água do mar, ou 1 000 gramas, obteremos 35 gramas de sais. Logo, a salinidade média do mar é de 35 gramas por quilo. Cada quilômetro cúbico de oceano pode conter até 26,6 milhões de toneladas de sais.

Os sais além do sal

O cloreto de sódio predomina, mas não é o único sal.

Sais em 1 litro de água do mar

Cloreto 55,2%

Sódio 30,4%

Sulfato 7,7%

Magnésio 3,7%

Cálcio 1,2%

Potássio 1,1%

Outros 0,7%

De onde vem o azul

Cor é efeito da absorção e dispersão dos raios solares.

Quando a luz bate na superfície do mar, grande parte dos raios são refletidos de volta para o céu. A luz que entra na água é parcialmente absorvida. Quanto mais fundo, menos cores. A primeira que desaparece é o vermelho, já nos primeiros 6 metros. A cor azul é a última a sumir. Até 1 000 metros ainda há uma claridade difusa e, a partir daí, a luz não entra no mar. No desenho acima você pode ver como um peixe colorido é visto em diferentes profundidades

Passeio submarino

A tecnologia possibilita ao homem mergulhar cada vez mais fundo.

A 50 metros de profundidade, ainda é possível fazer mergulhos esportivos, como este, com garrafa de ar

Este escafandro parecido com um astronauta é o “Jim”, que permite mergulhos a até 600 metros

Criado na década de 60, o Alvin foi um dos primeiros submersíveis tripulados. Já desceu a 3 900 metros

Os submersíveis Nautile (França), Mir (Rússia) e Shinkai (Japão) atingem profundidades de até 6 500 metros

Sinos de mergulho estão ligados a estações petrolíferas submarinas, a 250 metros

Desses sinos saem mergulhadores, que respiram uma mistura de oxigênio, hélio e nitrogênio

O Jason foi o primeiro veículo controlado remotamente, a até 6 000 metros, a partir de um navio de apoio na superfície

Este braço mecânico é um pequeno robô, que registra imagens com câmeras de vídeo e lâmpadas potentes

A bordo do batiscafo Trieste, o suíço Auguste Piccard atingiu o ponto mais profundo do mundo, a Fossa das Marianas, com 10 916 metros, em 1960

A aquarela líquida

Nomes curiosos e reveladores

Mar Vermelho

Com 300 quilômetros no seu ponto mais largo, o Mar Vermelho recebeu esse nome pela cor dos corais que aparecem em sua superfície. Cerca de 350 espécies diferentes de corais já foram catalogadas nas suas águas claras.

Mar Negro

Possui grande concentração de sulfeto de hidrogênio, que forma uma camada lamacenta quase inabitável. Só alguns tipos de bactérias conseguem sobreviver. A salinidade do Mar Negro é quase 50% menor que a dos demais mares.

Mar Morto

Situado em uma grande depressão, 400 metros abaixo do nível do mar, não recebe a água de rios nem tem comunicação com algum oceano. Como é muito castigado pelo sol, a água evapora e os sais são concentrados, formando colunas.

Estranho mundo seco

Sem os mares, a Terra seria intoleravelmente quente durante o dia e gelada à noite. Além de muito feia.

Vulcões submarinos

O Pacífico Ocidental está cravejado de montanhas vulcânicas, como a cadeia do Havaí

O fundo do fundo

O ponto mais profundo da Terra é a Fossa das Marianas

Quebradeira tectônica

O Pacífico Oriental é cheio de fraturas. Essas rachaduras no fundo do mar são causadas pelo movimento das placas

A formação do solo

O deslocamento das placas renova o leito dos mares.

O solo oceânico, assim como a superfície terrestre, está em constante movimento. Cada vez que uma fenda se abre, por um terremoto ou atividade vulcânica, a lava é expelida e o solo, comprimido. Isso provoca a formação de vulcões no continente.

Altos e baixos

Compare o pico mais alto do planeta, o Everest, com o ponto mais profundo, a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico.

Montanha submersa

Com 4 000 metros, a Grande Chapada de Meteor é o monte marinho mais alto do mundo

A maior cordilheira

Com 10 000 quilômetros de extensão e 1 500 quilômetros de largura, a Dorsal do Atlântico deixa os Andes no chinelo

Mar tranqüilo

No Atlântico Sul predominam as planícies abissais, como a do Brasil

Monte Everest 8 848 metros

Altura média dos continentes 825 metros

Profundidade média dos oceanos 3 800 metros

Altura média dacrosta terrestre 2 400 metros abaixo do nível do mar

Fossa das Marianas 10 916 metros

Uma química simples – e capaz de tudo

É quase impossível acreditar que exista uma pessoa idêntica a você em algum outro lugar do planeta. A probabilidade de isso acontecer é tão remota, que se torna quase inconcebível. Mas os átomos que compõem o seu corpo são iguais aos de qualquer outra pessoa. Com outros elementos da natureza isso também acontece. Com a água, por exemplo.

O que têm em comum uma onda gigantesca no Havaí, o líquido incolor que mata a sua sede, a fumaça branca que sai do bico da chaleira e a gota de orvalho sobre a folha, de manhã? Moléculas. Elas são sempre idênticas, qualquer que seja o lugar do mundo onde estejam.

A molécula de água é tão simples que é difícil crer que, juntas, elas sejam capazes de tantos e tão variados fenômenos da natureza. Um átomo central de oxigênio ligado a dois de hidrogênio. Parece simples.

A molécula de água é bipolar, ou seja, tem uma carga positiva na extremidade de hidrogênio e uma outra, negativa, na ponta do oxigênio. A carga positiva atrai a negativa. Essa atração se chama ponte de hidrogênio. Ela faz com que uma molécula de água se junte a outra, e a outra, e a outra.

Os mares são um conjunto gigantesco dessas moléculas. Gigantesco, mesmo. São aproximadamente 47 bilhões de milhões de milhões de milhões de milhões de moléculas de água em todos os oceanos do mundo. Ou o número 47 seguido de 33 zeros.

H20, a fórmula mágica

Ponte de hidrogênio torna possível a existência da água.

Uma molécula de água é composta por um átomo de oxigênio e dois átomos de hidrogênio. A carga positiva na extremidade do hidrogênio atrai a extremidade negativa do oxigênio de uma outra molécula de água. Isso se chama ponte de hidrogênio, a ligação que mantém os mares unidos.

Por que o gelo flutua

A água é o único material que fica mais leve em estado sólido.

Uma das características mais curiosas da água é a relação que existe entre sua temperatura e sua densidade. Em estado sólido, a água é menos densa que em estado líquido. Ao se formar, o gelo flutua na superfície do mar (veja ilustração acima). Isso não acontece com a maior parte das substâncias.

O gás costuma flutuar sobre o líquido, que flutua sobre o sólido (veja ilustração abaixo). Nas águas do mar, a densidade ainda depende de outro fator: a salinidade. É que o sal diminui o ponto de congelamento da água. Logo, a água dos mares polares e dos oceanos profundos pode ficar mais fria do que 0ºC.

Plâncton, a comida universal

Ok. Os oceanos parecem ser um excelente abrigo para todas as espécies que ali residem.

Afinal, todas as características físico-químicas dos mares convergem para a plena harmonia. Mas qual o segredo para esses imensos tanques de água serem, na verdade, um grande laboratório de vida? A palavra-chave é plâncton.

Parece mentira que microorganismos invisíveis sustentem toda a cadeia alimentar das espécies que habitam os mares (leia reportagem na página 16). Mas é assim. O plâncton se divide em dois grupos. Aos organismos vegetais dá-se o nome de fitoplâncton. São mais de 10 000 espécies de algas unicelulares que se agrupam em feixes ou cadeias, multiplicam-se e morrem segundo as estações do ano. Essas plantas flutuam na camada mais superficial do mar, pois necessitam da luz solar para fazer a fotossíntese de compostos orgânicos.

O zooplâncton, o plâncton animal, é formado por milhares de milhões de microorganismos, como larvas e peixes microscópicos. Esses bichinhos se alimentam do fitoplâncton, e o transformam em proteínas que vão servir de alimento para os animais superiores na cadeia alimentar. E isso é só o começo da história.

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