Afinal, sereias existem?
O mito existe há milênios - mas ganhou "credibilidade" com documentários falsos
ILUSTRA Ícaro Yuji
Em todo lugar
O mito da sereia é universal: quase todos os povos que dependiam do mar para se alimentar ou sobreviver tinham alguma representação feminina que enfeitiça os homens até se afogarem. Segundo Ari Berk, autor deThe Secret History of Mermaids and Creatures of the Deep, essas lendas serviam para personificar aspectos do mar ou os perigos que ele representa
Meio a meio
Em 2000 a.C., os babilônios louvavam o deus Ea, mistura de homem e peixe. Depois, surgiu a lenda de Astagartis, uma garota que se escondeu no oceano após matar outra pessoa, mas o mar se recusou a esconder sua beleza, transformando-a só parcialmente em peixe. No século 1, o romano Plínio, o Velho, escreveu sobre as nereidas, veneradas como ninfas do mar
Sirena ou sereia?
Quem mais colaborou com o imaginário ocidental foram os gregos. Em 1100 a.C., eles criaram não só as sereias como as sirenas: mulheres-pássaros que causavam naufrágios ao distrair marinheiros com a voz. Diferentemente das mulheres-peixe, nunca se apaixonavam por humanos. Eram filhas do deus-rio Aqueloo, criadas para serem amigas de Perséfone, filha de Zeus e Deméter
Até Colombo!
Falsos relatos já rolam há muito tempo. O próprio Cristovão Colombo afirmou tê-las visto, em 1493, perto do Haiti. Segundo o navegador, elas não eram tão bonitas quanto nos retratos. Cientistas hoje acham que ele pode ter visto um peixe-boi marinho, que vai à superfície respirar, emite sons parecidos com cantos e tem uma cauda achatada que lembra um rabo de sereia
Documentira
Muitos passaram a acreditar nesse folclore após os documentáriosSereias: O Corpo Encontrado(2012) eSereias: A Nova Evidência(2013), do canal Animal Planet. Mas eles eram fakes, com atores interpretando experts e cenas forjadas. Isso era explicado nos créditos e foi dito à imprensa. O canal queria testar novos formatos de programas. Porém, não ficou claro para o público
À la Padre Quevedo
Os documentários tinham várias evidências inventadas. Uma delas, de um porta-voz da NOAA (Agência Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA), que afirmava que 65 pesquisadores concluíram que sereias vivem pacificamente ao nosso redor. Só que a própria NOAA soltou um comunicado posterior dizendo que não há evidência da existência desses seres
(D)Efeitos especiais
As imagens de uma sereia gravada por um garoto com um celular e de outras “flagradas” por pesquisadores próximas do mar foram produzidas em computação gráfica. O “sereiologista” Marcus Plumkin, da Universidade da Flórida, que afirmava que essas criaturas habitam as águas quentes do Caribe e do Mediterrâneo, nunca existiu – era apenas um ator
Mil e uma personalidades
Versões da lenda em outros lugares
Mami Wata
ONDE África
Segundo uma das lendas, quem encontrar seu espelho abandonado terá os sonhos capturados. Ela só os devolve após favores sexuais eternos
Sirena
ONDE Ilhas Guam
Uma jovem que adorava nadar foi amaldiçoada pela mãe a virar peixe. Mas a avó interveio e a transformação só rolou pela metade. A moça se tornou protetora dos marinheiros
Melusina
ONDE França
É a imagem que aparece no logo da rede de cafeterias Starbucks. Quando Melusina era bebê, seu pai a espiou tomando banho e ela se vingou dele. Em retaliação, a mãe a condenou a virar metade serpente (ou peixe) aos sábados
Iara
ONDE Brasil
Em uma das versões, ela era uma índia linda, cujos irmãos queriam assassiná-la porque sentiam inveja. Ela os matou antes e foi punida pelo pai, que a lançou no Rio Solimões
Ningyo
ONDE Japão
Sua aparência é mais demoníaca, com uma cabeça similar à de um macaco. Chora pérolas e sua carne, se consumida, concede juventude eterna
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FONTES NOAA e sites ListVerse, G1, HowStuffWorks e Scientific American
CONSULTORIA R. Michael Ballantyne, professor e secretário da British Columbia Folklore Society, Ari Berk, autor de The Secret History of Mermaids and Creatures of the Deep, Simon Boxall, professor da Ocean and Earth Science na Universidade de Southampton (Reino Unido), e Alexandre Monteiro, professor do Instituto de Arqueologia e Paleociências e da Universidade Nova Lisboa (Portugal)