Como era o treino de animais para serem enviados ao espaço?
Macacos, cachorros e chimpanzés costumavam ser as cobaias favoritas. Eles passavam por centrífugas, câmaras de pressão e muitos outros aparelhos
ILUSTRAWillian Santiago
Heróis de quatro patas
Até meados do século 20, cientistas não sabiam como organismos vivos se comportariam no espaço. Era impossível até afirmar se sobreviveriam à baixa gravidade. Para tirar essas dúvidas, recorreram a cobaias, como chimpanzés, macacos e cães. A maioria sacrificou sua vida para que avançássemos em áreas como engenharia espacial, aeronáutica e medicina
O astronauta quer banana
Nos EUA, na década de 1940, macacos foram escolhidos como primeiros astronautas por serem muito semelhantes e quase tão espertos quanto os humanos. Um dos testes neurológicos provou que seu tempo de reação é semelhante ao nosso: após ver uma luz azul piscar, eles tinham cinco segundos para puxar uma alavanca. Se conseguissem, ganhavam banana. Caso contrário, levavam choque
Motim na prisão
Era comum macacos atacarem os cuidadores ou fugirem dos centros de treinamento. Por isso, às vezes eram sedados antes dos testes ou treinos. No início, também eram dopados para as missões, mas isso atrapalhava a medição de seus sinais vitais, então a anestesia foi abandonada. Esses dados foram essenciais na criação de espaçonaves capazes de manter tripulantes humanos vivos
Antes de voar
O preparativo para entrar em órbita era dureza. Alguns passavam por cirurgias para implantar sondas e eletrodos que mediam o funcionamento do seu organismo. E às vezes eles eram acondicionados nas cápsulas espaciais horas ou até dias antes do lançamento. Elas eram minúsculas, feitas de alumínio, seladas a vácuo e com sistemas que forneciam O2 e absorviam CO2 e vapor de água
Todos os cães merecem o céu
A União Soviética, maior rival dos EUA na Corrida Espacial, preferiu usar vira-latas, pois achava que eles eram mais fáceis de adestrar (e mais acostumados a se adaptar a condições difíceis do que cães de raça). Eles foram separados em duas categorias: os “cães-foguete”, enviados em voos mais curtos e balísticos, e os “cães-satélite”, para voos orbitais e mais longos
Pequena, magra e loira
A seleção era rígida. Eram sempre fêmeas, porque tinham comportamento mais dócil e porque o sistema de coleta de fezes e urina se adaptou melhor ao corpo delas. Tinham que ser pequenas (para caber na cápsula de 2,7 m3), ter entre 1,5 e 6 anos e pesar entre 5 e 7 kg. Ah, e tinham que ter pelagem clara para aparecerem bem nas filmagens durante o voo! A cadela russa Laika foi o primeiro ser vivo a entrar em órbita, em 1957, no Sputnik II. Sua cápsula minúscula tinha 80 cm de altura e 63 cm de diâmetro
VIDA DE CACHORRONAUTA
O treinamento cruel adiantava como seria a jornada no espaço
1) Imobilização em caixas metálicas
Simulava as cápsulas. As sessões ficavam cada vez mais longas e as caixas cada vez menores
2) Centrífuga
O giro em alta velocidade gerava a sensação de aumento da gravidade dos lançamentos
3) Câmara de pressão
Para que a cadela não estranhasse as súbitas mudanças barométricas
4) Voos parabólicos
Aviões que despencavam de grandes alturas para simular gravidade zero
5) Mesa vibratória
Para se acostumarem com a tremedeira nas cápsulas durante a decolagem
PIONEIROS DO COSMOS
O primeiro voo de diferentes espécies
– Moscas-das-frutas: 1947 (EUA)
– Macacos-rhesus: 1948 (EUA)
– Cadelas: 1951 (URSS)
– Gatos: 1963 (França)
– Sapos: 1970 (EUA)
– Aranhas: 1973 (EUA)
– Salamandras: 1985 (URSS)
– Tardígrados: 2007 (Rússia)
– Lagartixas: 2014 (Rússia)
FONTES Livro Animals in Space: From Research Rockets to the Space Shuttle, de Colin Burgess e Chris Dubbs, e sites da Nasa, da BBC, SpaceeSpaceAnswers