Desde quando o homem fala?
Como a linguagem oral não deixa rastros, existem apenas algumas pistas indiretas que pouco ajudam a comprovar qualquer especulação
Provavelmente desde que ele se tornou homem. A grande maioria dos lingüistas e dos estudiosos da pré-história humana considera impossível encontrar alguma resposta mais precisa do que essa. Como a linguagem oral não deixa rastros, existem apenas algumas pistas indiretas que pouco ajudam a comprovar qualquer especulação. Um exemplo são as estruturas do corpo ligadas à fala encontradas nos fósseis. Nossos ancestrais australopitecos, surgidos há quatro milhões de anos, possuíam as áreas de Broca e Wernicke, dois centros cerebrais fundamentais para a linguagem. “Mas os chimpanzés também têm essas áreas e não falam”, afirma o antropólogo Walter Neves, da USP. Outra pista poderia estar nos vestígios do chamado aparelho fonador. Pela curvatura da base do crânio, estima-se que há 500 mil anos o homem passou a ter laringe comprida e alta, essencial para emitir a grande variedade de sons que caracteriza a fala.
“Mas essa característica some no homem de Neanderthal, 150 mil anos atrás, e só reaparece no Homo sapiens, a nossa espécie”, diz Walter. Já os lingüistas enxergam a questão por outro ângulo: “A fala só se torna uma linguagem quando os sons adquirem significados e viram palavras”, afirma Eduardo Junqueira Guimarães, da Unicamp. Nesse contexto, alguns cientistas preferem vasculhar a produção intelectual na pré-história. Em três períodos distintos – há 1,5 milhão de anos, 250 mil e 40 mil – ocorreu uma maior padronização na fabricação de ferramentas, talvez porque a fala tenha aparecido ou sido aperfeiçoada nessas ocasiões. Há ainda quem defenda que a linguagem possa ter surgido junto com a arte, há cerca de 40 mil anos, época dos primeiros objetos artísticos de que se tem notícia. Com tudo isso, o mistério continua longe de ser desvendado.