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Pode existir um planeta com mais de uma estrela?

Por Marina Motomura e Daniel Rosini
Atualizado em 22 fev 2024, 11h37 - Publicado em 5 nov 2008, 16h20

Sim, e eles existem. Astrônomos já acharam evidências de objetos semelhantes a planetas ao redor de pares de estrelas que “atuam juntas”, chamadas estrelas binárias. Pelo menos 50% das estrelas do Universo são binárias – as solitárias, como o Sol, são minoria. Há sistemas com até seis estrelas juntas! Mas o fato de ter várias estrelas não garante que o planeta ao redor delas possa abrigar vida. Para que isso aconteça, os cientistas calculam a zona habitável, área em que as variações de temperatura da superfície do planeta fiquem entre 0 e 100 ºC. Esse é o intervalo em que a água é encontrada em estado líquido, pré-condição, até onde se sabe, para a vida. Nos sistemas binários, há duas situações possíveis para um planeta existir e, quem sabe, ter água e vida. No primeiro cenário (ao lado), as duas estrelas estão bem próximas uma da outra, e no outro, elas estão distantes. Este é o caso de Alfa Centauri, com três estrelas: Alfa Centauri A, B e C (mas esta última tem massa tão pequena e fica tão distante das outras que não afeta o conjunto). Como são as estrelas mais próximas de nós e têm tamanho semelhante ao do Sol, são bastante estudadas pelos cientistas, que só não encontraram – ainda – um planeta por lá.

SISTEMA SOLAR

Entenda como a estrela afeta a temperatura e a órbita da Terra

Antes de entender os sistemas binários, é preciso saber como funciona o nosso. No sistema solar, a zona habitável varia de 0,95 a 1,37 unidade astronômica (uma unidade astronômica é a distância da Terra ao Sol, cerca de 150 milhões de quilômetros). A Terra, bingo!, é o único planeta dentro dessa área. A atração gravitacional que a massa do Sol exerce sobre nosso planeta provoca pequenas pulsações (de cerca de 0,0001 unidade astronômica) na órbita

DOSE DUPLA CONCENTRADA…

Como seria um sistema “bissolar” com duas estrelas próximas entre si no centro

ÓRBITA ESTÁVEL

Com as duas estrelas a cerca de 0,1 unidade astronômica de distância uma da outra, um planeta consegue ter órbita estável, porque as estrelas se comportam como se fossem uma só, e não há atração gravitacional em sentidos opostos

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ÓRBITA INSTÁVEL

O problema acontece se a distância aumentar, gerando instabilidade no percurso. Com isso, podem rolar duas situações: ou o planeta é engolido por uma das estrelas e morre, ou é expulso do sistema, vai para o espaço interestelar e congela

CALOR

A temperatura média da Terra é de 15 ºC, dentro dos 0 a 100 ºC da zona habitável. Para mantê-la, a distância do planeta à estrela no máximo poderia aumentar para 1,4 unidade astronômica, pouco menos que a distância atual de Marte ao Sol (1,6 unidade)

511 DIAS POR ANO

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Com a órbita mais distante do Sol, o ano teria duração 40% maior. Dos 365 dias atuais, o calendário aumentaria para 511 dias! Já pensou cinco meses de 42 dias e sete de 43? E você reclamando que o mês demorou a passar…

…E DOSE DUPLA A DISTÂNCIA

Como seria um planeta em um sistema parecido com o de Alfa Centauri

ÓRBITA ESTÁVEL…

Para que o planeta tenha uma órbita estável, seria necessário que as duas estrelas estivessem a pelo menos 7 unidades astronômicas de distância uma da outra (a distância entre Alfa Centauri A e B vai de 11 a 35 unidades astronômicas

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…MAS NEM TANTO

Com duas estrelas com massa do tamanho do Sol exercendo atração gravitacional para lados opostos, a elipse do planeta ficaria mais instável. De 0,0001 unidade astronômica de pulsação hoje, esses desvios cresceriam para 0,01 unidade astronômica

NÊMESIS, A IRMÃ DO SOL

Teoria afirma que sistema solar é binário

Nos anos 80, o físico americano Richard A. Muller sugeriu que uma das causas para as extinções em massa que atingem a Terra a cada 26 milhões de anos seria o fato de que vivemos em um sistema binário! Segundo ele, o Sol tem uma estrela companheira, Nêmesis, bem menor, menos brilhante e longe daqui. Mas, a cada 26 milhões de anos, o percurso dela se aproximaria de nós, zoando a órbita de cometas, que cairiam sobre nosso planeta. A última vez que Nêmesis teria passado aqui perto teria sido na extinção em massa dos dinossauros

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DURAÇÃO DOS DIAS

A duração dos dias depende mais do movimento de rotação do planeta em torno de si do que das estrelas ao redor. Mas, dependendo da época do ano e da posição da segunda estrela, pode haver períodos em que nunca escurece, já que as estrelas cercariam o planeta pelos dois lados, iluminando toda sua superfície

547 DIAS POR ANO

Para que a órbita de um possível planeta ao redor de Alfa A fosse estável, ela teria que ter entre 1,2 e 1,5 unidade astronômica de raio. Se a estrela central fosse Alfa B, o raio seria menor, de 0,7 a 1,1 unidade astronômica. Assim, o ano “A” teria de 438 a 547 dias, e o ano “B” de 255 a 401 dias

PORES-DO-SOL

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Já imaginou um dia com dois pores-do-sol? Com duas estrelas, isso seria freqüente! A primeira estrela a se pôr não chamaria muita atenção, já que, enquanto ela se fosse, o céu continuaria claro pelo brilho da segunda. O pôr-do-sol da segunda estrela seria, sim, espetacular, com o céu já escuro

CALOR

Com duas estrelas no céu, a estabilidade climática do planeta já era – as temperaturas mudariam drasticamente dependendo do grau de aproximação entre as estrelas. Microorganismos, mais resistentes, conseguiriam sobreviver. Mas a ciência ainda não sabe dizer se animais complexos conseguiriam agüentar o esfria-esquenta

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