A discórdia da maçã
Empresa cria maçã transgênica que não escurece, mas produtores são contra; estudo revela que fruta está ficando menos gostosa
Maurício Moraes
Sabe quando você não come a maçã inteira? Exposto ao oxigênio do ar, o pedaço que sobrou logo fica escurecido – e imprestável. Um desperdício. A empresa canadense Okanagan Fruits diz ter a solução: uma maçã geneticamente modificada, que se chama Arctic e não fica marrom depois de cortada. A empresa desativou um gene que produz a enzima polifenoloxidase, que deixa a maçã escura. Segundo ela, a nova versão é mais saudável. “A reação química do escurecimento destrói nutrientes importantes, como antioxidantes e vitamina C”, diz Neal Carter, presidente da Okanagan. Mas a Associação de Produtores de Maçãs dos EUA é contra. “Não apoiamos esse produto. Os consumidores gostam das maçãs que já existem”, diz. A entidade odeia a nova maçã porque ela é patenteada, ou seja, quem quisesse cultivá-la teria de pagar royalties. A fruta está sendo analisada pelo Ministério da Agricultura, que irá decidir se libera ou não.
Essa não é a única cizânia no reino da maçã. Cientistas da Universidade de Fuji, no Japão, constataram que as maçãs estão menos gostosas do que nos anos 70 – porque têm menor teor de ácido málico, substância responsável pelo sabor. A suposta razão é o aquecimento global, que antecipa a floração e submete as frutas a temperaturas mais altas durante o amadurecimento. Se o planeta ficar mais quente, o que deve ocorrer nas próximas décadas, as maçãs terão cada vez menos gosto.