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A variante do Sars-CoV-2 que chegou com a Copa América é perigosa?

A B.1.621 ainda não ganhou uma letra grega e parece não ter vingado no Brasil – embora se espalhe rápido pela Colômbia. A questão é: ela é mais transmissível que a média ou se está se multiplicando por estar no lugar certo, na hora certa?

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 16 jul 2021, 21h04 - Publicado em 16 jul 2021, 20h39

No último ano, muitos eventos foram cancelados ou tiveram suas datas postergadas devido à pandemia de covid-19. O vírus segue circulando ao redor do globo, mas algumas aglomerações voltaram a ocorrer sob a justificativa de que os protocolos de segurança estariam sendo respeitados. É o caso da Copa América. Os jogos estavam programados para ocorrer na Argentina e Colômbia entre junho e julho deste ano, mas os países não aceitaram sediar o evento devido a crise sanitária. 

Sobrou para o Brasil, o país com o segundo maior número de mortes do mundo (atrás apenas dos EUA). O anúncio foi feito pela Conmebol no final de maio, que descreveu a Copa América como o “evento esportivo mais seguro do mundo”. O torneio, que acabou no dia 10 de julho, pode ter contribuído para a entrada de uma nova variante do Sars-CoV-2 no país, a B.1.621, além de intensificar a transmissão da variante Gama. 

Variante B.1.621

Nesta semana, o Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, confirmou a presença da variante B.1.621 no Brasil. Ela foi identificada em dois homens de 37 e 47 anos que integravam as delegações da Colômbia e do Equador, respectivamente. Os times se enfrentaram na Arena Pantanal, em Cuiabá, no começo de junho. Os pacientes foram colocados em quarentena em um hotel em Cuiabá e voltaram para seus países de origem assim que receberam alta médica.

A variante B.1.621, ainda não nomeada com letras do alfabeto grego, foi identificada pela primeira vez na Colômbia em janeiro deste ano. Ela já foi detectada em 19 países; depois da Colômbia, os campeões de casos são EUA, Espanha, México e Holanda. Atualmente, a variante representa 24% de todos os casos identificados entre colombianos. Em algumas regiões, como Córdoba, Bolívar, Atlântico e Choco, o número chega a 60%.

A B.1.621 é classificada como Variante de Interesse (VOI), quando aparece em diversas pessoas e diferentes lugares repetidas vezes. Ela passaria a ser considerada como Variante de Preocupação (VOC) caso se mostrasse mais transmissível, surgisse com mais frequência em determinados grupos (como jovens ou idosos) ou se fosse mais letal.

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De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) da Europa, a variante possui pelo menos cinco mutações na proteína spike – as estruturas em forma de espinho que funcionam como chave de entrada do vírus nas células. Quatro destas mutações (E484K, N501Y, D614G e P681H) já foram identificadas em outras variantes, como a Alfa, Gama e Delta, todas classificadas como Variantes de Preocupação (VOCs). A quinta mutação (R346K), no entanto, é inédita. 

Luiz Almeida, microbiologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e membro do Instituto Questão de Ciência (IQC), explica que as mutações ocorrem aleatoriamente e acabam sendo selecionadas pelo ambiente. O ambiente, no caso do coronavírus, são os próprios seres humanos. “Essa seleção pode ocorrer porque o vírus realmente tem uma capacidade de entrada nas células melhor ou simplesmente porque houve uma oportunidade dessa variante de se disseminar”. 

O pesquisador explica qual seria esta oportunidade: “Pode ter acontecido de, no momento de relaxamento das medidas de contenção, do uso de máscaras, por exemplo, ser esta a variante que estava presente. O comportamento das pessoas pode ter propiciado o aumento de casos”.

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Em outras palavras: por enquanto, não sabemos se a B.1.621 é de fato mais transmissível ou se ela só estava no lugar certo, na hora certa. Só o tempo dirá. Apesar da maior parte de suas mutações serem iguais às encontradas em outras VOCs, é preciso observar o comportamento da B.1.621 para estudar seu nível de transmissão. Até o momento, nenhum brasileiro foi detectado com essa variante, então não há motivo para alarde. 

Variante Gama

A variante Gama também garantiu presença nos jogos. Só no estado do Rio de Janeiro foram registrados 50 casos de covid-19 relacionados ao torneio, todos causados pela variante. O número representa 28% dos casos totais ocorridos nas quatro cidades-sede (Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia e Cuiabá) durante a Copa América. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, 38 dos pacientes eram homens e 12 mulheres.

O Instituto Adolfo Lutz, responsável por confirmar os dois casos da variante B.1.621, identificou no mesmo período outros dez casos de covid-19 causados pela variante Gama. Essa, detectada pela primeira vez em Manaus, no Brasil, já é considerada como Variante de Preocupação (VOC).

Durante os 28 dias de Copa América, foram realizados 28.766 testes de RT-PCR entre jogadores, membros das delegações e prestadores de serviços contratados pela Conmebol. Ao total, 179 pessoas envolvidas nos jogos testaram positivo para a covid-19. Os principais atingidos foram os trabalhadores terceirizados, como os motoristas de ônibus das delegações e funcionários de hotéis.

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