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Café ou chá? Seus genes decidem qual você gosta mais

Pesquisadores descobriram que, quanto mais amargo você sente seu café, maior a chance de você bebê-lo

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 nov 2018, 21h22 - Publicado em 20 nov 2018, 20h00

Em 1655 o holandês Johann Nieuhof trabalhava como oficial da Companhia Holandesa das Índias Orientais, em uma viagem de trabalho à China. O país asiático passava por um surto de tuberculose e Nieuhof notou um delicioso tratamento que os locais davam aos seus doentes: misturavam uma porção de chá com um tanto de leite. Johann gostou da receita, mas não era lá tão fã da bebida da rainha, então propôs uma troca. Ao voltar à Europa apresentou ao compatriotas uma nova versão do drink: substituiu o chá pelo café. Assim nasceu o mundialmente famoso “pingado”.

Agora, quase 400 anos depois, um grupo de pesquisadores está tentando entender porque eu, você, e Nieuhof temos uma preferência na hora de escolher entre o chá e o café. Por que diabos aquele seu primo ama um cházinho e passa longe da cafeteira, enquanto seu chefe não consegue viver sem aquele café – mas torce o nariz pro chá da estagiária? A resposta, de acordo com a pesquisa, está não só embaixo do seu nariz, mas no que o forma: no nosso DNA.

Para chegarem a essa conclusão pesquisadores da Universidade Northwestern, em Illinois (EUA), cruzaram dados de duas pesquisas.

A primeira analisava a genética de 1757 irmãos gêmeos. A pesquisa em questão havia conseguido traçar um paralelo entre alguns genes específicos e uma sensação de amargor após o consumo de determinadas substâncias. Os portadores do gene conhecido pelo apelido nada carinhoso “rs2597979”, por exemplo, costumam sentir um maior gosto amargo na cafeína; ao mesmo tempo, quem tem o gene “rs10772420” percebia mais amargor quando provava quinina (uma molécula encontrada em algumas bebidas, como a água com gás). Vale ressaltar que o ato de serem gêmeos era importante: isso ajudava a eliminar quesitos pessoais dos participantes, já que ambos compartilhavam o mesmo DNA.

A segunda base de dados foi ainda maior. Os pesquisadores se aproveitaram da base de dados do Biobanco britânico (uma iniciativa público-privada que coleta e disponibiliza centenas de milhares de dados sobre a genética do Reino Unido). O DNA e os hábitos de 502 mil habitantes da terra-do-chá-das-cinco foram analisados nesta etapa.

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Ao cruzarem os dados os pesquisadores encontraram algo curioso. Quando os analisados possuíam o gene que trazia amargos à cafeína, maior era a chance deles se afogarem em café – e rejeitarem o chá. O oposto acontecia quando se analisava o gene da quinina, seus portadores tendiam a curtir mais um chazinho da tarde, do que uma dose de café forte.

O resultado contra intuitivo, de acordo com os pesquisadores, tem a ver com o nosso conhecimento sobre o cafezinho nosso de cada dia. “Como humanos geralmente evitam sabores amargos, interpretamos esses resultados como um possível comportamento aprendido: se podemos perceber bem a cafeína, associamos isso às propriedades psicostimulantes dela, e então procuramos por mais café”, afirmou, ao The Guardian, Marilyn Cornelis, professora de Nutrição na Universidade, e co-autora da pesquisa.

Mas, se o amargor nos ajuda a perceber a cafeína – e bebemos o café pensando exatamente nisso, por que quem possui os genes relativos à quinina tomam mais chá? De acordo com os pesquisadores, por mero fator de exclusão: como não há muita vantagem perceptível em tomar café, a bebida se torna menos atraente e, consequentemente, abre mais espaço na agenda para bebidas como o chá.

Na próxima vez que for saborear um pingado, então, agradeça à genética de Nieuhof. Se o DNA dele tivesse achado o café um pouco menos interessante, é capaz que você bebesse um não tão delicioso chá-com-leite na padaria. Um, legítimo, negócio da China.

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