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Extrato de cannabis mostra eficácia contra dor lombar crônica em estudo clínico

Pacientes apresentaram melhora no sono e na mobilidade, sem sinais de dependência ou abstinência.

Por Luiza Lopes
4 out 2025, 18h00

A dor lombar crônica é hoje a principal causa de incapacidade no mundo, atingindo mais de meio bilhão de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para esses pacientes, as opções medicamentosas são limitadas. 

Há tratamentos não farmacológicos recomendados, como fisioterapia, exercícios e mudanças de estilo de vida, mas quando o uso de fármacos se torna necessário, eles oferecem eficácia restrita ou apresentam riscos importantes.

Os anti-inflamatórios não esteroides (como ibuprofeno e diclofenaco) podem provocar efeitos colaterais graves quando usados por longos períodos, enquanto os opioides – prescritos em muitos casos – carregam alto risco de dependência.

Diante esse cenário, um novo ensaio clínico publicado na revista Nature Medicine trouxe resultados inéditos. Pela primeira vez, um extrato de cannabis chamado VER-01 demonstrou eficácia e segurança no tratamento da dor lombar crônica em um estudo de fase 3, considerado o padrão-ouro para avaliar medicamentos.

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A pesquisa envolveu 820 pacientes na Alemanha e Áustria, todos com dor lombar que durava por mais de três meses e que não obtiveram alívio com analgésicos comuns não-opioides. Os voluntários foram divididos aleatoriamente para receber VER-01 ou um placebo durante 12 semanas.

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O extrato deriva da planta Cannabis sativa e contém 5% de tetrahidrocanabinol (THC), principal composto psicoativo da cannabis, em doses padronizadas de 2,5 mg. Cada frasco foi produzido em condições industriais controladas para garantir consistência química entre os lotes – um ponto essencial, já que produtos de cannabis disponíveis no mercado costumam variar muito em concentração e pureza.

Ao final das 12 semanas iniciais, os pacientes que usaram o extrato relataram uma redução média de 1,9 pontos na escala de dor de 0 a 10, contra 1,4 pontos no grupo placebo. Embora a diferença pareça pequena, especialistas ressaltam que, em casos de dor crônica, mesmo reduções modestas podem ser clinicamente relevantes.

Nos participantes que continuaram o tratamento por mais seis meses, a queda chegou a 2,9 pontos. Além disso, mais da metade dos pacientes (54%) alcançou pelo menos 30% de redução da dor, contra 39% no placebo. A taxa dos que tiveram redução pela metade foi de 32% no grupo tratado, versus 23% entre os que receberam placebo.

Outro ponto importante foi a melhora em qualidade do sono, função física e qualidade de vida. “Mesmo uma redução relativamente pequena da dor pode ajudar os pacientes a voltarem a se exercitar”, explicou Winfried Meissner, do Hospital Universitário de Jena, em entrevista à New Scientist.

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O benefício foi mais evidente em pessoas com dor de origem neuropática – causada por danos nos nervos – e entre aqueles que apresentavam dor mais intensa no início. Não foram observados sinais de dependência, abstinência ou necessidade de aumentar as doses ao longo do tempo – problemas frequentes no uso de opioides.

Os efeitos adversos mais comuns foram tontura, fadiga, boca seca, náusea e sonolência, geralmente leves e concentrados nas primeiras semanas de uso. Cerca de 17% dos pacientes interromperam o tratamento devido a reações adversas, índice considerado menor do que o registrado em estudos com opioides para dor lombar crônica.

Matthias Karst, professor de medicina da dor na Escola de Medicina de Hannover e autor principal do estudo, disse à agência AFP que os pacientes não relataram “sensação de estar chapado” durante o ensaio clínico.

Até hoje, a maior parte das evidências sobre o uso de cannabis para dor era considerada fraca, em razão de estudos pequenos, de curta duração ou sem padronização do produto. “Este é um dos primeiros estudos de alta qualidade sobre cannabis medicinal, aguardado por muitos pesquisadores e pacientes”, disse Meissner à New Scientist.

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Especialistas independentes também destacaram a relevância dos achados. Andrew Moore, ex-pesquisador de Oxford, afirmou à AFP que o ensaio foi “incrível” e que traz “o melhor nível de evidência que se pode ter”. Já Marta Di Forti, do King’s College London, ressaltou à New Scientist que a ausência de sinais de dependência foi impressionante e pode abrir caminho para prescrição clínica.

No entanto, os próprios autores alertam que os resultados não devem ser extrapolados para todos os produtos de cannabis disponíveis no mercado, cuja composição é variável. O extrato VER-01 foi desenvolvido especificamente para fins médicos, com controle rígido de dose e pureza. 

Os cientistas consideram que o VER-01 pode se tornar uma alternativa segura e eficaz aos opioides no tratamento de dor lombar crônica, especialmente em uso prolongado. Um estudo adicional já está em andamento para comparar o extrato diretamente com opioides em pacientes com dor na coluna.

Apesar dos resultados positivos, os pesquisadores reconhecem limitações, como o fato de não terem medido formalmente impactos cognitivos do uso prolongado do extrato. Ainda assim, diante do enorme contingente de pessoas que convivem com dor crônica e da escassez de opções seguras, o estudo representa um marco. Como resumiu Di Forti: “Num mundo onde se afirma que a cannabis trata tudo, pelo menos aqui temos um ensaio clínico randomizado mostrando eficácia real para a dor. Isso é uma notícia maravilhosa”.

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