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Nos EUA, uso diário de maconha já é mais comum que o de álcool

O número de usuários de cannabis cresce no país desde 1992, resultado de uma maior aceitação social da droga e de mudanças políticas nos estados.

Por Bruno Carbinatto
24 Maio 2024, 18h00

Pela primeira vez na história, o número de pessoas que relatam usar maconha diariamente ou quase diariamente nos EUA superou o total de quem bebe álcool com a mesma frequência, revelou um novo estudo.

O artigo, publicado na revista Addiction, mostra como a cannabis vem se tornando cada vez mais comum nos EUA nos últimos anos, ainda que só seja legalizada em metade do país.

Em termos gerais, o álcool ainda é a droga mais consumida na terra do tio Sam. Isso porque muita gente bebe apenas casualmente – ou algumas vezes por mês ou semana, por exemplo –, aumentando o número total de usuários.

Mas, quando se considera o uso diário de substâncias, o cenário muda: em 2022, o ano mais recente em que se há dados, estima-se que havia 17,7 milhões de americanos que usam maconha diariamente ou quase diariamente. Para o álcool, esse número era de 14,7 milhões.

Isso acontece porque, apesar de haver mais americanos usuários de álcool do que de cannabis, a frequência é diferente: em média, um entusiasta da maconha relata consumir a droga de 15 a 16 vezes por mês. No caso dos etílicos, o uso médio é de cinco a seis vezes/mês.

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Nesse sentido, a frequência relatada por usuários de maconha se assemelha mais com o uso de tabaco do que o de álcool.

O estudo usou como base de dados a National Survey on Drug Use and Health, uma pesquisa de abrangência nacional que entrevista milhares de americanos sobre o uso de drogas lícitas e ilícitas. Os dados são, então, auto relatados pelos participantes.

Essa pesquisa começou em 1971 e acontece anualmente, permitindo traçar um perfil histórico do uso de substâncias no país. Nos 20 primeiros anos de sua existência, é possível ver o que uso de maconha relatado pelos usuários cai vertiginosamente – resultado de uma política linha dura contra a droga por parte do governo federal, a famosa “guerra às drogas” iniciada pelo presidente Richard Nixon na década de 1970 e continuada por  Ronald Reagan na década de 1980.

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A partir de 1992, porém, o número de usuários de maconha voltou a crescer, primeiro timidamente, depois mais aceleradamente. Naquele ano, menos de um milhão de pessoas admitia usar cannabis quase diariamente. Hoje, 30 anos depois, já são quase 18 milhões.

Os pesquisadores lembram que parte desse aumento pode ser explicado pelo fato de que o uso da maconha tenha se tornado mais aceito pela sociedade no período, fazendo com que mais gente que já usava a droga passasse a admitir sem medo.

Mas, é claro, o fato de que a droga é cada vez mais legalizada no país também explica o fenômeno. Foi em 2012 que os primeiros estados, Colorado e Washington, legalizaram o uso recreativo da maconha. Desde então, o número só aumentou: atualmente 24 estados e o Distrito de Columbia, onde fica a capital do país, permitem o consumo da droga para fins recreativos. Outros 38 estados legalizaram seu uso medicinal.

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Em nível federal, o governo Biden recentemente fez uma mudança histórica: trocou a classificação da maconha como uma droga de “Classe I”, categoria que inclui substâncias muito perigosas e danosas, para “Classe III”, grupo de drogas menos perigosas na visão do governo federal.

O novo artigo foca somente em analisar os dados de usuários e a série histórica desses números, sem maiores análises. Mas, nas últimas décadas, outros estudos mostraram que, quanto maior a frequência de uso de maconha, maiores as chances de desenvolver problemas de saúde associadas a ela, como a psicose

Isso é verdade, é claro, para toda droga. Vale sempre o slogan: beba (use) com moderação.

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