Antes de você terminar de ler a primeira frase deste texto, leítor, seu coração provavelmente vai falhar. Mesmo sendo mais perfeito que todas as máquinas, ele tropeça a todo momento, não sem certo risco para o dono. Mas não se preocupe: os circuitos elétricos do coração estão preparados para esses “defeitos” de rotina. Quando o músculo cardíaco sai do passo, as artérias injetam cargas elétricas positivas nas células musculares, fazendo o batimento voltar ao ritmo. As correções são feitas com ajuda dos chamados canais de íons. Íons são átomos eletrificados, ou seja, portadores de carga elétrica, e canais são buracos minúsculos nas células. Pelos canais, as cargas entram e saem, fazendo o coração bater. O mecanismo corretivo emprega canais especiais, denominados HERG, e foi explicado recentemente num trabalho do neurobiologista americano Gary Yellen, da Escola de Medicina Harvard, Massachusetts.
Marcando o passo certo
Os batimentos cardíacos acontecem porque as células recebem pequenos choques.
Músculo relaxado
Entre uma batida e outra, as células têm carga elétrica negativa.
Os canais de cálcio e sódio, fechados, não deixam entrar nenhum átomo com carga positiva. O coração não pode se contrair.
Os canais de potássio, abertos, retiram qualquer átomo de carga positiva que ainda poderia restar lá dentro, garantindo o relaxamento.
A contração
O músculo se contrai quando a carga elétrica das células muda.
Os canais de sódio e cálcio se abrem e deixam passar íons que tomam positiva a carga elétrica. Só vão se fechar de novo para descontrair.
Os canais de potássio se fecham, retendo os átomos positivos. Para descontrair, eles se abrem, tornando a carga negativa de novo.