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Obesidade: Terra de gigantes

A obesidade é uma epidemia mundial que tende a se agravar nos próximos anos. Para combatê-la, não há mágica: só com exercício e alimentação adequada

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 28 fev 2005, 22h00

Cláudia de Castro Lima

Nos próximos anos, se nada for feito para mudar o quadro atual, estaremos fritos. E em óleo cheio de gordura trans, aquela que faz bastante mal à saúde. Tudo por conta da epidemia de obesidade, que alcança níveis alarmantes no mundo todo. Até países com grande número de subnutridos, como a Índia, vêm assistindo a um salto gigantesco na quantidade de obesos – lá, 55% das mulheres entre 20 e 69 anos estão acima do peso. Aqui no Brasil as coisas não são muito diferentes. Uma pesquisa divulgada em dezembro de 2004 pelo IBGE mostra que a obesidade já atinge mais brasileiros do que a desnutrição. Segundo o levantamento, 40% dos brasileiros adultos, ou 38,8 milhões de pessoas, estão pesando mais do que deveriam. Desse total, 10,5 milhões podem ser consideradas obesas. No mundo todo, de acordo com uma estatística da Força-Tarefa Internacional de Obesidade, 1,7 bilhão de pessoas – ou uma em cada cinco – estão com sobrepeso ou obesas.

O problema resume-se a uma equação simples, que todos estão cansados de saber: comer alimentos gordurosos, aliado à falta de atividade física, resulta no aumento de peso. É exatamente isso que vem acontecendo nos últimos anos. E, se quisermos culpar alguma coisa pela epidemia de obesidade, culpemos nossos genes. Ao longo da evolução, enquanto nos transformávamos de macacos em seres humanos, vivemos durante milhões de anos num mundo escasso em comida. Para compensar a falta de alimentação, nossas células adquiriram a capacidade de armazenar gordura – assim, poderíamos sobreviver um tempo maior caso não encontrássemos alimento. O problema é que o mundo mudou e, hoje, não há mais escassez de comida.

Não há milagres

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Quem espera que a situação se reverta com o auxílio da medicina pode ir tirando o cavalo da chuva. “Milhões e milhões de dólares são investidos todos os anos na pesquisa genética da obesidade. Mas não se acredita mais que o remédio mágico vá ser encontrado. Ao menos não nos próximos dez anos”, afirma o endocrinologista Walmir Coutinho, chefe do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares, serviço público que atende 400 pessoas por mês.

De fato, desde a década de 50, medicamentos ditos “milagrosos” aparecem nas prateleiras como a salvação dos gordinhos. As anfetaminas, que aceleram o metabolismo e inibem o apetite, foram as grandes vedetes dos anos 50 e 60 – até descobrirem que elas causavam dependência química. Substâncias como fenfluramina e fertemina, que provaram realmente serem eficazes no emagrecimento, também causavam reações colaterais e podem estar ligadas a problemas cardíacos. Novas drogas, como orlistat, causam desconforto intestinal. “A médio prazo, entrará no mercado um novo medicamento. Mas ele não irá solucionar o problema”, afirma o endocrinologista gaúcho Giuseppe Repetto, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade). “Precisamos muito mais do que uma droga mágica.”

Qual, afinal, é o prognóstico para os próximos anos? Se os Estados Unidos servem de parâmetro, a perspectiva não é nada animadora. “Atualmente, entre 65% e 80% dos americanos estão acima do peso ou obesos”, afirma o especialista David Katz, diretor de estudos médicos de saúde pública da Universidade de Yale e autor de The Way to Eat (algo como O jeito de comer, sem tradução para o português). “A maior parte deles não era obesa quando criança. Mas muitas crianças são obesas hoje em dia. Por isso, a tendência é que no futuro o número de americanos acima do peso aumente ainda mais, chegando perto dos 100%.” E no Brasil? De acordo com o endocrinologista Walmir, a situação aqui pode ser ainda pior, se é que isso é possível. “O tipo étnico do latino-americano favorece o aparecimento de problemas de saúde já com níveis menores de obesidade”, diz.

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A obesidade pode ser medida de acordo com o IMC (índice de massa corporal), numa conta fácil: o peso do indivíduo dividido pela sua altura ao quadrado. Se o resultado for superior a 25, a pessoa está acima do peso. Se passar de 30, é obesa. A obesidade é considerada um problema de saúde pública porque diversas doenças, como diabetes tipo 2, problemas cardíacos, hipertensão arterial, infarto e até alguns tipos de câncer, estão associadas a ela. Um estudo de 2003 mostra que os custos do excesso de peso no Brasil chegam a 1,5 bilhão de reais por ano, contando internações hospitalares, tratamentos médicos e gastos indiretos, como faltas no trabalho e morte precoce. A previsão é que esse valor deve crescer nos próximos anos.

Aqui no Brasil, assim como no resto dos países em desenvolvimento, quem mais vai sentir os efeitos da epidemia de excesso de peso nos próximos anos serão as pessoas de classe mais baixa. “O nível de sedentarismo é muito maior em populações mais pobres”, diz Coutinho. Entre outras coisas, elas não costumam praticar exercício em academias, por exemplo – principalmente as mulheres. Em oito anos, o número de mulheres obesas das classes D e E cresceu 30% na região Sudeste. No mesmo período, houve queda de 40% no total de brasileiras obesas das classes A e B. Outro fator que contribui é o econômico. Como nos últimos anos a capacidade aquisitiva da população aumentou, quando sobra um dinheiro no final do mês a tendência é comprar alimentos mais calóricos – agora eles podem se “dar ao luxo” de ter uma bolacha ou um chocolate no armário.

Outra camada ferozmente atingida pela epidemia é a das crianças. Segundo a Organização Mundial de Saúde, um em cada dez pequenos está obeso no mundo todo. No Brasil, 15% das crianças estão acima do peso e 5% obesas. Especialistas afirmam que a probabilidade de uma criança com pais magros tornar-se obesa é de 9%. Se um dos pais for obeso, a taxa sobe para 50%. Se os dois forem obesos, a criança terá 80% de chance de seguir os passos deles. Mais do que a herança genética, o problema é do ambiente propício à obesidade.

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Aulas de como comer

Para combater o problema, uma medida eficiente já está em prática no Brasil: o nome dela é Escola Saudável. Uma parceria da Abeso com outras entidades do gênero e com o apoio do Ministério da Saúde, o programa está implantando em escolas do país todo aulas de alimentação saudável como matéria da grade curricular. “É uma tentativa de educar as crianças para que elas não sejam obesas”, afirma Giuseppe Repetto. O programa Escola Saudável já conseguiu que as cantinas de escolas públicas do Rio de Janeiro não vendam guloseimas nem refrigerantes, mas apenas alimentos saudáveis.

Walmir Coutinho acredita que, em 2020, estaremos discutindo medidas para reverter o quadro de epidemia. “O governo federal terá de tomar algumas medidas, como a restrição de propaganda de alimentos que provocam obesidade, principalmente os voltados para o público infantil. Por exemplo, teremos de colocar no rótulo de uma barra de chocolate que, se consumido em excesso, o produto fará mal à saúde.”

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Tendências

• BOLA DE NEVE

Como os filhos de pais obesos têm maior propensão a ficarem também obesos, se nada for feito, o problema deve se agravar nos próximos anos.

• POBRES E NUTRIDOS

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A epidemia da obesidade tende a crescer mais entre pessoas de baixa renda, que, graças ao aumento do poder aquisitivo, passaram a ter acesso a alimentos mais calóricos.

• SEM REMÉDIO

Pelo menos nos próximos dez anos não deve surgir nenhum remédio revolucionário para acabar com a obesidade, apesar dos milhões de dólares investidos anualmente no combate ao problema.

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