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OMS, finalmente, passa a recomendar uso de máscara

Organização estava relutante desde março. Agora abre os olhos para a realidade de que elas são fundamentais. E até indica N-95 ao grupo de risco.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 6 jun 2020, 13h49 - Publicado em 5 jun 2020, 19h23

Demorou. Na sexta-feira (5), a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar o uso de máscaras para toda a população, mudando suas instruções iniciais. Antes, a agência indicava a utilização apenas para profissionais da saúde e pessoas com familiares infectados em casa. A instrução deve ser publicada em breve em um novo manual de combate à doença.

Na Ásia, as máscaras sempre fizeram parte do dia a dia – qualquer resfriado é motivo para usar a proteção, e evitar a transmissão de vírus. No Ocidente, pelo que estamos vendo, a prática pegou. A OMS estava relutante em recomendar o uso, pois não tinha dados certeiros sobre a efetividade. Claro que eles sabem que as máscaras funcionam. O medo era o de que o uso delas atrapalhasse as duas formas mais efetivas de evitar contaminação – lavar as mãos e ficar em casa. Além disso, temia-se que os equipamentos de proteção ficassem indisponíveis para profissionais da saúde.

O advento das máscaras caseiras fez esse argumento cair por terra.

As máscaras caseiras, mesmo cheias de camadas, não são eficientes para barrar gotículas suspensas com o vírus dentro. Se algum infectado desmascarado espirrar na sua frente, você provavelmente vai pegar. Mas elas são boas para evitar que o seu espirro complique a vida de alguém, já que não deixa as gotículas saírem.

Se todos usarem máscara, então, melhor para a saúde pública – é o que todo brasileiro já sabe, dado o uso generalizado de máscaras por aqui (salvo as tristes excessões de quem ainda se recusa a usar, ou que tira a máscara na hora de falar).

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A OMS, de qualquer forma, não está recomendando só o uso de máscara caseira. Para o grupo de risco (maiores de 60 anos e portadores de doenças crônicas) a organização indica as as N-95 mesmo, as que barram de fato vírus vindos do ambiente, e que são usadas nos hospitais. Esperemos que isso não faça elas desaparecerem do sistema de saúde.

A OMS também espera isso, lógico. Então, recomendou máscara caseira mesmo para quem está fora do grupo de risco. Mas foi cuidadosa. Ela indica um tipo de máscara mais complexo do que aquele que você provavelmente tem na sua casa. Um com três camadas: a mais próxima do rosto feita de algodão; a segunda de TNT (tecido utilizado em aventais hospitalares); e a última de algum tecido sintético resistente a fluidos, como o chiffon.

Mas por que a OMS tomou essa decisão só agora, que todo mundo já está usando máscara? Porque viu que não tem outro jeito.

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A maior parte dos países começou sua saída gradativa das quarentenas, mesmo sem ter baixado tanto a curva de mortes. Os protestos anti-racistas após a morte de George Floyd, que se espalharam pelos EUA e parte da Europa, também tiveram sua participação. Ficou óbvio ali que não adianta a OMS dizer “fique em casa” e lavar as mãos (no sentido figurado). Em alguns casos, as pessoas vão mesmo sair às ruas, seja porque um governante temeroso com sua popularidade liberou, seja para protestar contra o governante temeroso que liberou. Que protejam a saúde pública sob essa nova realidade, então.

Não que baste usar máscara e fizer o que der na telha, claro. Maria Van Kerkhove, médica que lidera o braço anti-Covid da OMS, disse ao jornal britânico The Guardian que, ao usar máscaras em protestos, as pessoas sentem uma falsa sensação de proteção. “As máscaras não trabalham sozinhas, ela diz”. “O distanciamento físico de pelo menos um metro fornece alguma proteção. Quanto maior a distância, melhor mas, no mínimo, um metro”.

No Brasil, alguns estados como São Paulo e Maranhão decretaram a obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares públicos, e em escritórios. Na última quinta-feira (4), o Senado aprovou em votação uma lei que torna o uso de máscaras obrigatório em todo o país, e aqueles que não usarem ficam sujeitos a multas. O uso é dispensado para pessoas com deficiências que impeçam o uso – caso de algumas pessoas com transtorno do espectro autista (o contato com o tecido no rosto pode desencadear crises incontroláveis). Pela lei, o poder público deverá distribuir máscaras à população de baixa renda e beneficiários do auxílio emergencial. O Projeto foi modificado no Senado, então deve voltar para avaliação da Câmara antes de seguir para a sanção presidencial.

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