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Quem foi a Ritalina, que deu nome ao medicamento usado por pessoas com TDAH

Margarita Panizzon foi a primeira a usar metilfenidato, sintetizado pelo marido nos anos 1940. Saiba mais sobre a história desse estimulante.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 13 ago 2024, 13h19 - Publicado em 12 ago 2024, 19h00

Em 1937, o médico Charles Bradley trabalhava como diretor do primeiro hospital psiquiátrico infantil dos EUA, fundado cinco anos antes pelo seu tio-avô no estado de Rhode Island. Dentre as suas funções, ele conduzia um tipo de exame de imagem cerebral que costumava causar enxaqueca nos pacientes.

Para aliviar a dor, Bradley resolveu testar um remédio então recém-aprovado nos EUA, a benzedrina. Tratava-se de um estimulante anfetamínico vendido inicialmente como um descongestionante nasal – mas que, ao ser comercializado em comprimidos, virou remédio para casos de fadiga, narcolepsia (sonolência excessiva) e depressão.

Pouco tempo depois da decisão de Bradley, enfermeiras e professores do hospital notaram um efeito inesperado: crianças que haviam tomado a medicação apresentaram melhora no comportamento e no desempenho escolar. Os jovens, por conta disso, apelidaram o remédio de “a pílula da matemática”.

As crianças do hospital não eram as únicas. Nos EUA, os tabletes de benzedrina (apelidados de “bennies”) viraram febre nos anos 1940 e 1950 entre artistas, matemáticos e cientistas que queriam aumentar a sua produtividade. Os bennies, por exemplo, aparecem ao longo de toda a história do livro On The Road (1957), de Jack Kerouac – que provavelmente usou a droga enquanto escrevia.

Bradley publicou a descoberta ainda em 1937, mas ela só se disseminou na segunda metade dos anos 1950. Foi quando ganharam tração os estudos levariam, anos mais tarde, ao diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – o TDAH.

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Desde então, os derivados anfetamínicos, caso da benzedrina (hoje em desuso) têm sido largamente usados para tratar quadros de desatenção e hiperatividade. Mas esse não é único tipo de estimulante para esses casos. Hora de conhecer o metilfenidato – mais conhecido como Ritalina.

Oi, Rita

Na virada da década de 1930 para 1940, o laboratório suíço CIBA tentava desenvolver um novo tipo de estimulante. O objetivo, claro, era surfar na moda desse tipo de substância, que estava em alta. Não apenas por causa dos artistas aficcionados por bennies: anfetamínicos foram usados na Segunda Guerra Mundial para “elevar a moral” dos soldados.

Em 1944, o italiano Leandro Panizzon, funcionário da CIBA, sintetizou uma substância chamada metilfenidato. Ele resolveu levá-la para casa e testá-la com sua esposa (algo impensável com as atuais medidas sanitárias e de segurança).

Logo após começar o tratamento com metilfenidato, a mulher de Leandro, Margarita Panizzon, percebeu que havia melhorado os seus jogos de tênis. Estava mais disposta e focada na partida. A CIBA, então, patenteou o novo estimulante em 1950. E Leandro batizou o remédio em homenagem à sua esposa: Ritalina.

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Os EUA aprovaram a Ritalina em 1954, e ela foi inicialmente usada com pacientes se recuperando de comas. Também era a escolha em manicômios no tratamento de casos psiquiátricos mais severos.

No final dos anos 1950, porém, manicômios estavam em declínio no país. Foi quando a CIBA decidiu investir em propagandas para mudar o público-alvo do remédio, que passou a ser, sobretudo, mulheres donas de casa. Os anúncios prometiam que a Ritalina curaria a depressão e a fadiga crônica que elas pudessem estar sentindo. Assim, elas poderiam continuar com os seus afazeres domésticos numa boa.

A farmacêutica também fez anúncios para mães pós-parto, executivos que se sentiam cansados e pacientes que se recuperavam de alguma doença ou lesão. Mas isso mudou no começo dos anos 1960, quando a Ritalina passou a ser estudada para tratar crianças com TDAH (que, na época, era chamada de “reação hipercinética na infância”).

Hoje, o metilfenidato e os anfetamínicos compõem a primeira linha de tratamento medicamentoso para TDAH. Os estimulantes melhoram, em algum grau, 70% dos casos desse transtorno, que afeta 5% das crianças e adolescentes do mundo e 2,5% dos adultos.

Mas vale ressaltar: eles possuem diversos efeitos colaterais e contraindicações. Não à toa, são remédios tarja preta, vendidos apenas sob recomendação médica (ainda que algumas pessoas comprem sem receita para um suposto aumento de produtividade). Se você suspeita possuir TDAH, não recorra a autodiagnósticos: consulte um psicólogo e/ou psiquiatra que seja especialista no transtorno.

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