Você deve fazer exercício se o corpo ainda está dolorido do treino anterior?
Não consegue nem lavar o cabelo depois do primeiro dia de treino? Saiba o que a ciência diz sobre – e o que fazer para aliviar.

A prática de exercícios físicos é essencial para a saúde do corpo. Deixa o corpo mais forte, apto, libera endorfinas, alivia o estresse. Parece tudo de bom até a dor do dia seguinte, ou dor muscular tardia, que vem algumas horas depois da sessão de exercícios e pode durar alguns dias.
Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu humilhado pela duração das dores depois de iniciar uma nova modalidade. E aí, nessa hora, bate a dúvida: é melhor praticar novamente na data programada ou esperar a dor passar? Como aliviar? Pode tomar remédio?
Por que o corpo fica dolorido depois de um treino?
Vamos começar do começo. O esforço físico pode provocar minúsculas lesões nas fibras dos músculos – e isso não é um problema. Começa ali um pequeno processo inflamatório, que, depois de finalizado, faz com que a fibra muscular fique mais forte do que antes.
“Isso faz parte do processo normal de recuperação e ajuda a estimular o aumento da força e do tamanho dos músculos”, explica Hunter Bennett, pesquisador de educação física da Universidade de South Australia em um texto no site The Conversation.
É essa mesma inflamação que produz a sensação de dor. Ela é mais comum quando você está treinando pela primeira vez após um longo intervalo, fazendo um novo exercício ou aplicando uma carga mais pesada nos músculos.
É a resposta muscular a uma exigência maior do que a média. Por isso, é normal que, com a regularização da atividade, o corpo “se acostume”, e a dor muscular tardia seja menor.
Mesmo assim, essa dor não deve ser utilizada como um indicador de progresso. Ela não garante que você está fazendo exercícios eficazes e seguros, ou melhorando mesmo sua aptidão física. Você pode avançar sem dor, e pode sentir dor sem fazer avanços.
“O que vai indicar se você está fazendo o exercício corretamente e progredindo é se você está tendo progressão nas cargas”, explica a fisioterapeuta e professora de pilates Bruna Aguiar. A qualidade da execução dos movimentos e o aumento da consciência corporal também são bons medidores de resultados, ela explica.
E afinal, devo fazer exercícios mesmo com o corpo ainda dolorido?
Não há nada que impeça. Estudos apontam que a dor pode diminuir um pouco o seu desempenho – ou seja, você pode ter mais dificuldade para levantar pesos ou executar certos movimentos com a mesma amplitude ou velocidade. Mesmo assim, não faz mal: é melhor fazer exercícios, mesmo que em menor quantidade ou intensidade, do que não fazer nada.
Mas Aguiar deixa a dica: varie os grupos musculares para poupar os doloridos. Apesar de não ser necessariamente ruim, exagerar no esforço na região dolorida pode piorar a situação – e sem grandes ganhos para o condicionamento.
A dor muscular tardia atinge o seu pico entre 24h e 48h após o exercício, e passa naturalmente. É importante estar atento aos sinais do corpo e não forçar o exercício sob desconforto ou dor intensa, já que isso pode favorecer lesões mais sérias.
Como diminuir a dor muscular depois do treino?
“Quando a dor está muito intensa e a pessoa está se sentindo muito incomodada, o que pode aliviar é fazer alongamentos leves, não fazer exercícios de força no mesmo grupo muscular e relaxar com água quente”, explica Aguiar.
A profissional explica que, nesses casos, o uso de relaxante muscular é contraindicado. “Sentir dor muscular e o processo de microfissuras nas fibras musculares são processos naturais. Eles têm que acontecer para conseguir treinar o músculo”, explica Aguiar. “Quando você toma um relaxante muscular, está mascarando os sintomas de dor e atrasando o processo.”