Atletas russos e bielorrussos são banidos das Paralimpíadas de Inverno
O Comitê Paralímpico Internacional bateu o martelo após ameaça de boicote de outras nações. Esportistas russos também foram cortados da Copa do Mundo, do Campeonato Mundial de Atletismo e de pelo menos uma corrida da Fórmula 1, entre outros eventos; veja lista
Após dias de debate, o Comitê Paralímpico Internacional (CPI) optou por banir os atletas da Rússia e Bielorússia das Paralimpíadas de Inverno. A decisão foi tomada apenas um dia antes da cerimônia de abertura dos Jogos. O evento ocorre em Pequim, na China, entre os dias 4 e 13 de março.
Ainda ontem (2), o comitê havia anunciado que não excluiria os atletas russos e bielorrussos dos Jogos. Eles competiriam como neutros, sob a bandeira das Paralimpíadas. Os competidores seriam obrigados a esconder qualquer referência ao nome ou bandeira da Rússia. Não seria uma novidade: desde 2019, quando foram descobertos supostos esquemas de doping financiados pelo governo russo, os atletas do país têm competido em eventos internacionais usando a sigla ROC (Russian Olympic Committee).
No entanto, a decisão do Comitê Paralímpico Internacional foi revista na manhã desta quinta-feira (3), após outros países ameaçarem sair da competição caso os atletas russos e bielorrussos participassem dos Jogos. A razão é a invasão da Rússia à Ucrânia. A Bielorrússia sofre as mesmas punições por apoiar a guerra.
“Nas últimas 12 horas, um grande número de membros entrou em contato conosco […] Eles disseram que, se nós não reconsiderássemos nossa decisão, haveria graves consequências para os Jogos Paralímpicos de Inverno de 2022”, disse Andrew Parsons, presidente do CPI, em nota. “Vários comitês nacionais – alguns que foram contactados por seus governos –, times e atletas estão ameaçando não competir”.
Outro fator que levou à decisão do CPI é a crescente tensão na Vila Olímpica. “Garantir a segurança dos atletas é da maior importância para nós. A situação na vila dos atletas têm escalado e agora se tornou insustentável”, disse Parsons. Segundo ele, não houve casos de confrontos ou agressões na vila.
No total, 83 atletas russos e bielorrussos foram impactados pela decisão. No entanto, caso os comitês da Rússia e Bielorrússia continuassem nos Jogos, outros comitês iriam abandonar a competição, e o evento não seria viável. “Se isso acontecesse, o impacto seria muito maior”, afirmou Parsons.
Outro fato que esquentou o debate foi a morte de um esportista ucraniano. No dia 1 de março, o atleta de biatlo Yevhen Malyshev, de 19 anos, morreu em combate contra a Rússia. Ele havia sido convocado pelo exército da Ucrânia.
A organização Global Athlete, em conjunto com atletas da Ucrânia, emitiu ontem (2) uma nota repudiando a decisão do Comitê Paralímpico Internacional em permitir a participação dos atletas russos e bielorrussos. Segundo a declaração, “as autoridades russas e bielorrussas irão usar a participação dos atletas nesses Jogos como propaganda estatal […] Os regimes irão usar cada grama do sucesso dos seus atletas para justificar e distrair da guerra”.
Ao anunciar a mudança de decisão, o presidente do Comitê Paralímpico Internacional defendeu que esporte e política não devem se misturar. No entanto, pediu desculpas aos atletas da Rússia e Bielorrússia: “sentimos muito que vocês foram afetados pelas decisões que os seus governos tomaram na última semana […] Vocês são vítimas das ações dos seus governos”.
Banimento de outras competições
A Rússia e Bielorrússia não ficaram de fora só das Paralimpíadas de Inverno. Mesmo antes da decisão do CPI, outras organizações já haviam decidido pelo banimento dos atletas. Na última segunda-feira (28), o Comitê Olímpico Internacional recomendou que os atletas russos e bielorrussos fossem barrados de competições internacionais.
A FIFA decidiu banir os times de futebol russos de eventos internacionais. Isso significa que a Rússia não poderá se qualificar para a Copa do Mundo deste ano, que ocorrerá em novembro no Catar. Inicialmente, a FIFA havia optado apenas por banir a bandeira russa, mas decidiu tomar medidas mais drásticas após ameaças de boicote por parte de outros países (como Suécia, França, Inglaterra e Estados Unidos).
A empresa Electronic Arts (EA) – que desenvolve a série de videogames FIFA – também anunciou que irá retirar a seleção nacional russa e outros clubes russos de seus games.
A Federação Internacional de Hockey no Gelo tomou uma decisão semelhante: Rússia e Bielorrússia estão proibidas de competir em quaisquer competições, incluindo o Campeonato Mundial de Hockey no Gelo, que acontece em maio. A Rússia e Bielorrússia também estão fora do game da National Hockey League (N.H.L), desenvolvido pela Electronic Arts.
Ainda nos esportes de inverno, uma das modalidades que mais deve sofrer com a ausência russa é a patinação artística. A União Internacional de Patinação (ISU) também baniu a Rússia e Bielorrússia de competições, o que inclui o Campeonato Mundial de Patinação Artística, que ocorre em três semanas. A Rússia é o país dominante na patinação feminina. No último campeonato mundial, em 2021, todo o pódio feminino foi composto por atletas russas: Anna Shcherbakova (que ganhou ouro nas Olimpíadas de Inverno de 2022), Elizaveta Tuktamysheva e Alexandra Trusova (que levou prata nas Olimpíadas).
A União Internacional de Patinação (ISU) também é responsável pelas competições de patinação de velocidade. Por isso, o banimento também vale para os Campeonatos Mundiais de Patinação de Velocidade em pista longa e em pista curta. Ambos ocorrem ainda este mês.
O Conselho Mundial de Atletismo foi outro que barrou atletas e oficiais da Rússia e Bielorrússia de competições. Os atletas estão de fora do Campeonato Mundial de Atletismo e do Campeonato Mundial de Atletismo em Pista Coberta.
A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) permite que os atletas russos e bielorrussos participem das competições, mas sem a bandeira de seus países. A decisão é importante para o único piloto russo de Fórmula 1, Nikita Mazepin. Por outro lado, a Federação Britânica de Automobilismo proibiu qualquer atleta russo de competir na Inglaterra – o que já deixa Mazepin fora do Grande Prêmio do país.
A lista vai longe. Outros esportes em que os atletas russos ou bielorrussos não poderão competir internacionalmente são tiro ao alvo, remo, badminton, baseball, softball, biathlon, canoagem, curling, basquete, pentatlo, rugby, vela, esqui, surfe, triathlon e vôlei.