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Buscas sobre suicídio no Google caíram nos EUA no começo da pandemia

Isso contradiz o aumento esperado por especialistas no começo da crise – mas a história revela que desastres naturais tendem a reforçar laços e redes de apoio, diminuindo o número de suicídios.

Por Bruno Carbinatto
23 jan 2021, 10h40

Contrariando previsões feitas por alguns especialistas, as pesquisas na internet de termos relacionados a suicídio caíram nos primeiros meses da pandemia nos EUA, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (21) no periódico Journal of the American Medical Association. 

Os pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego monitoraram as pesquisas no Google utilizando o Google Trends, uma ferramenta de análise de dados. Foi considerado um intervalo de dez anos (entre 1 de janeiro de 2010 e 5 de abril de 2020).

Eles, então, compararam o número de pesquisas feitas antes e depois de o país declarar emergência nacional por causa da covid-19, o que aconteceu no meio de março de 2020. 

A equipe excluiu do estudo combinações de palavras-chave que não tinham nada a ver com a ideação suicida em si – como buscas por “Esquadrão Suicida” – o não tão popular filme protagonizado pelos antiheróis da DC.

Os resultados mostraram que todas as pesquisas envolvendo o termo caíram em até 22% após 18 semanas da declaração de emergência nacional.

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Os pesquisadores também calcularam, com base nas tendências sugeridas pelos dados dos meses anteriores, quais seriam os números dessas pesquisas caso a pandemia não acontecesse – e descobriram que houve 7,8 milhões de buscas a menos do que o esperado em condições normais.

Quase todos as pesquisas relacionadas ao termo caíram significativamente, incluindo combinações de palavras como carta de suicídio, pensamentos suicidas e ideação suicida; a única pesquisa que teve um aumento relevante foi a busca por uma informação: quantas pessoas cometem suicídio. 

A pesquisa ressalta, no entanto, que essa queda no interesse pelo termo não se traduz necessariamente em uma queda no número de suicídios em si. Para isso, seria necessário cruzar outros dados com os já disponíveis.

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Porém, essa associação entre as pesquisas relacionadas ao suicídio e a taxa de suicídio em si já foi observada por pesquisas anteriores em outros países, como Irlanda e Taiwan.

Esse tipo de dado tem sido defendido e usado por especialistas para complementar e agilizar as estratégias de saúde pública relacionadas à prevenção de suicídios.

Um caso recente que ilustra bem seu uso ocorreu após a estreia da série da Netflix 13 Reasons Why, em que o suicídio é um tema central.

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Na época, o número de pesquisas sobre suicídio – tanto sobre sua prevenção como pesquisas relacionadas à ideação – aumentaram, o que acendeu um amplo debate entre especialistas sobre como o tema deve ser tratado.

Os resultados não estão totalmente alinhados com algumas análises feitas por especialistas no início da pandemia, que elencavam fatores como isolamento social, crise econômica, ansiedade e luto causados pela pandemia como potencializadores da ideação suicida.

O estudo não explicou o porquê dessa aparente contradição, mas levantou uma hipótese.  Na literatura científica, há muitos outros relatos de queda no número de suicídios após desastres naturais.

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Tragédias coletivas estão associados a um maior nível de apoio social entre as pessoas e união nas comunidades afetadas – o que pode, por consequência, refrear a sensação de isolamento e criar redes de apoio (mesmo que, no isolamento social, elas só possam se manifestar online).

“Isso inclui eventos pontuais, como o Grande Sismo de Hanshin-Awaji de 1995, e eventos de longa duração, como a resposta aos ataques de 11 de setembro nos EUA e os esforços de recuperação que vieram depois. Agora, potencialmente, estamos verificando o mesmo efeito com a pandemia de covid-19”, escrevem os pesquisadores.

Os autores do novo estudo lembram que a queda só foi identificada, por enquanto, nos primeiros meses da pandemia – e que, dada a duração descomunal da crise, podem não ser representativos de todo o período. O monitoramento deve ser contínuo, alertam, para que a resposta das autoridades responsáveis seja adequada.

No Brasil, o CVV (Centro de Valorização da Vida) presta apoio emocional e faz prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email e chat, 24 horas por dia, todos os dias. O contato pode ser feito discando 188 ou por meio do site.

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