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Como funciona o colégio eleitoral? Entenda a eleição americana de uma vez

O que são delegados? Por que o candidato mais votado nem sempre vence? Explicamos a disputa presidencial dos EUA em 7 pontos.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 5 nov 2024, 02h15 - Publicado em 30 out 2024, 10h00

Na próxima terça-feira (5), a atual vice-presidente Kamala Harris, do Partido Democrata, enfrenta o ex-presidente republicano Donald Trump na disputa presidencial americana para suceder o atual presidente, Joe Biden. Em vários estados, a votação antecipada já começou, e milhões de americanos já depositaram seus votos, seja presencialmente ou por correio.

As pesquisas apontam para uma disputa apertada, difícil de prever. A dificuldade só aumenta no caso americano porque a eleição por lá é totalmente diferentona. Na maioria dos países, incluindo o Brasil, o presidente é eleito por voto popular – soma-se todos os votos e aquele que ficar em primeiro lugar leva, podendo haver segundo turno caso ninguém atinja maioria.

No país do tio Sam, o modelo eleitoral usado é o chamado colégio eleitoral. Previsto na constituição americana, esse modo de votação funciona como uma espécie de eleição indireta, em que eleitores dos 50 estados americanos apontam a sua preferência, e, mais tarde, um grupo seleto de 538 pessoas escolhe o próximo presidente (e vice) seguindo as escolhas da população.

Ficou confuso? Tudo bem: é confuso mesmo. Mas te explicamos aqui em 7 pontos simples.

1 – A eleição americana é um esquema de pontos

Talvez você já tenha ouvido falar que quem escolhe o presidente americano são os chamados “delegados”, e é verdade. Delegados são pessoas de carne e osso mesmo, mas, por ora, vamos pensar neles como pontos em uma disputa.

A eleição americana é uma disputa por 538 pontos. Assim, vence o candidato que conquistar, no mínimo, 270 pontos, a maioria simples. Fácil, certo?

(A título de curiosidade, o número não é totalmente aleatório: há 100 senadores no país e 435 deputados federais. O colégio eleitoral, então, teria 535 pontos, mas, na década de 1960, foram adicionados mais 3 para representar o Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington, que não é um estado propriamente dito, mas abriga quase 700 mil pessoas.)

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2- Cada estado vale um número de pontos

Os 538 delegados em disputa são distribuídos entre os 50 estados americanos, mais o Distrito de Columbia. A distribuição é mais ou menos proporcional, ou seja, quanto mais gente mora no estado, mais pontos ele recebe. Grandalhões como a Califórnia (39 milhões de habitantes) e Texas (30 milhões) valem mais (54 delegados e 40 delegados, respectivamente), enquanto locais pouco habitados como Alaska, Vermont e Wyoming possuem só 3 delegados cada.

Essa divisão, porém, não é totalmente proporcional. Isso porque nenhum estado pode ter menos que 3 delegados, por menor que seja. Algumas unidades federativas são tão pequenas que, se o critério fosse apenas matemático, ganhariam só um ou dois delegados, mas isso não é possível. Para compensar, esses pontos “extras” para estado pititicos são removidos dos estados grandões. O colégio eleitoral, então, favorece um pouco os estados menores.

3 –  51 eleições, não uma.

Ok, mas como os candidatos conquistam os pontos para atingir os 270? A disputa é feita estado a estado.

Na verdade, as eleições americanas são 51 disputas distintas, uma em cada estado (mais o Distrito de Columbia). O voto popular, nacional, não significa nada. É dentro do limite dos estados que os resultados importam. Por isso é possível ser o candidato mais votado no país e ainda perder – isso aconteceu, por exemplo, em 2016 e em 2000.

Só cidadãos americanos com mais de 18 anos podem votar.

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4 – “Winner takes it all”

Já dizia ABBA…

Com exceção de dois estados (Maine e Nebraska), as eleições funcionam no esquema “o vencedor leva tudo”. Isso significa que o candidato mais votado dentro de um  estado ganha todos os delegados que o local tem a oferecer.

Ou seja: a vantagem da vitória não importa. Ganhar na Carolina do Norte com 70% dos votos do estado ou com só 50,01% não importa: você leva todos os seus 16 delegados do mesmo jeito.

Repita isso por 51 vezes e, no final, um dos candidatos terá atingido os 270 pontos – sendo assim eleito o próximo presidente.

5 – Os “swing states”

Em teoria, os candidatos precisam fazer campanha em todo o país. Afinal, é preciso vencer a eleição em vários estados para atingir o número mágico de 270 pontos.

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Na prática, porém, a eleição acaba sendo focada em apenas alguns locais. Isso porque estados americanos costumam ser ideológicos: historicamente, acabam gostando mais de um partido do que do outro, devido às preferências da sua população. É praticamente uma certeza, por exemplo, que Califórnia, Nova York e o Havaí votarão no candidato democrata. Já o Texas, o Alabama e o Kansas são republicanos, por exemplo.

Não faz sentido você gastar tempo e dinheiro fazendo campanha em um local que é uma vitória garantida para seu lado. Da mesma forma, não tem porque tentar virar alguns votos num estado que será derrota certa – afinal, por conta do “vencedor leva tudo”, o importante é ser o mais votado; diminuir a margem de derrota não significa nada, já que continua se traduzindo em zero pontos.

O foco dos candidatos, então, acaba sendo nos locais que não são tão ideológicos assim. Esses são os chamados “swing states” ou “estados-pêndulo”, porque podem pender para qualquer um dos lados. Em geral, o resultado acaba sendo muito apertado nesses locais, e os dois partidos lutam ferozmente para conquistar o voto dos indecisos.

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Um exemplo clássico é o estado da Pensilvânia, que possui 20 delegados – um número grande, que pode ser a diferença crucial entre atingir ou não os 270 pontos. Em 2016, Donald Trump levou o estado por 0,7%, menos de 50 mil votos de um total de mais de 6 milhões. Em 2020, o democrata Joe Biden recuperou o estado, vencendo por 1,2%. 

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É por conta disso que o noticiário só fala desses estados, e o foco no dia da eleição será acompanhar a apuração deles. Quando as urnas fecharem, todo mundo já vai presumir que Trump levou a Dakota do Norte e que Kamala venceu Massachusetts. O que importa são os pêndulos.

A definição de quais estados se encaixam nesse grupo varia um pouco, mas especialistas concordam que, para 2024, são sete os principais: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Arizona, Nevada e Carolina do Norte.

6 – Por que demora tanto para apurar?

Outro fator que diferencia a eleição americana das outras é que não há um órgão federal organizando o processo. As decisões são descentralizadas para os estados e condados (subdivisões dos estados).

Isso significa que o modo de votar e contar votos varia pelo país. Em alguns locais, há o uso de urnas eletrônicas, mas a maior parte do país vota em cédulas de papel. Vários estados aceitam voto antecipado e também por correio.

A apuração também é descentralizada e a velocidade varia de estado para estado. Sem padronização, os resultados oficiais dependem da divulgação de autoridades de alguns locais específicos. Veículos de imprensa acompanham os dados e fazem projeções do resultado. Quando calculam que a vantagem de um candidato já está grande demais para ser superada, decretam um vencedor. Oficialmente, porém, um estado pode demorar semanas depois do dia da votação para terminar de tabular todos os votos.

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7 – A verdadeira eleição

Lembra que os delegados são pessoas de carne e osso? Pois bem: são elas que formam o colégio eleitoral, e que, oficialmente, escolhem o presidente.

O grupo se reunirá em 17 de dezembro; na data, cada estado mandará o número correspondente de delegados comprometidos a votar pelo candidato que venceu naquela unidade federativa.

Na prática, a cerimônia é mais uma formalidade, apenas para oficializar os resultados dos estados. De qualquer forma, é essa votação que vale.

Mas há um detalhe curioso nessa história. As pessoas enviadas para o colégio eleitoral não são obrigadas a votar em quem venceu em seus respectivos estados. Pelo menos não há nenhuma lei federal sobre isso (alguns estados possuem leis próprias que instituem essa obrigação). A votação popular, então, seria uma espécie de consulta pública, um direcionamento, mas o delegado ainda teria a liberdade de escolher votar no candidato perdedor.

Isso, porém, é extremamente raro. Poucos foram os delegados que deram votos distintos, e em nenhuma ocasião foi o suficiente para alterar o resultado do pleito.

As pessoas selecionadas para o cargo de delegado, aliás, são escolhidas pelo próprio partido vencedor naquele estado. Em geral, são pessoas de confiança – filiados de alto nível ou mesmo políticos ou ex-políticos de cargos locais. Por isso, dificilmente trairão o próprio partido para votar no adversário.

Bônus: E se a eleição americana empatar?

Se você prestou atenção, viu que isso é possível. São 538 pontos em jogo, um número par. Caso a eleição acabe nos 268 x 268, a Constituição prevê um modelo especial (e bizarro). Explicamos aqui.

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