Nobel da Paz 2022: conheça os defensores dos direitos humanos que levaram o prêmio
A láurea homenageou um ativista e duas organizações que defendem a democracia nos países vizinhos Rússia, Ucrânia e Belarus.
O prêmio Nobel da Paz de 2022, anunciado nesta sexta-feira (7), foi para um trio de defensores dos direitos humanos e da democracia: Ales Bialiatski, de Belarus, a organização russa Memorial e a organização ucraniana Center for Civil Liberties (ou “Centro para as Liberdades Civis”, em tradução livre) .
Os laureados representam a sociedade civil em seus países de origem e, por muitos anos, trabalharam para documentar crimes de guerra, abusos dos direitos humanos e de poder. Segundo o comitê do prêmio, “[eles] revitalizaram e honraram a visão de Alfred Nobel de paz e fraternidade entre as nações – uma visão mais necessária no mundo de hoje”.
O anúncio aconteceu no mesmo dia do aniversário de Vladimir Putin, mas Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê norueguês do Nobel, disse que o prêmio não é endereçado ao presidente russo – “exceto pelo motivo de que seu governo, assim como o de Belarus, representa um regime autoritário que suprime ativistas dos direitos humanos”.
O Prêmio Nobel dá 10 milhões de coroas suecas (R$ 4,8 milhões) para os vencedores. A quantia será entregue em uma cerimônia realizada em Oslo, em 10 de dezembro – aniversário de morte do químico sueco Alfred Nobel, que faleceu em 1896 e deixou sua fortuna para a criação do prêmio.
A participação do ativista Ales Bialiatski na cerimônia de premiação é incerta, porque ele foi detido em julho do ano passado em meio a uma ampla repressão a grandes manifestações contra o regime bielorusso. Berit Reiss-Andersen pediu a Belarus que o laureado possa participar do evento.
Em 2021, quem levou o Nobel da Paz foram dois jornalistas que atuam em prol da democracia e da liberdade de expressão. Eles são Maria Ressa, que combate o populista Rodrigo Duterte nas Filipinas, e Dmitry Muratov, editor-chefe de um jornal fundado com apoio de Mikhail Gorbatchov (ex-líder soviético, morto em agosto) e alvo da repressão de Putin.
Quem são os ganhadores
Ales Bialiatski fundou a organização Viasna, em 1996, que prestava apoio àqueles que participavam de manifestações antigovernamentais. Ela se tornou uma grande organização em prol dos direitos humanos, que documenta e protesta contra o uso de tortura pelas autoridades contra presos políticos.
Bialiatski é um dos principais nomes da oposição ao atual presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko – aliado de Putin e acusado de violar direitos humanos no país, perseguindo e prendendo opositores ao seu governo.
Já a organização russa Memorial foi criada em 1987 por ativistas de direitos humanos da extinta União Soviética – como o físico russo Andrei Sakharov, que também recebeu um Nobel da Paz em 1975 pela sua luta pelos direitos humanos.
Os membros da Memorial estabeleceram um centro de documentação sobre as vítimas da opressão da era stalinista. Após o fim da União Soviética, ela se tornou a maior organização de direitos humanos da Rússia, compilando e sistematizando informações sobre episódios de opressão política. Segundo o comitê do Nobel da Paz, a Memorial é hoje a fonte mais confiável de informações sobre prisioneiros políticos em centros de detenção russos.
O Center for Civil Liberties atua para a promoção de um governo baseado no Estado de Direito na Ucrânia. A organização surgiu na capital Kiev, em 2007, para promoção dos direitos humanos e da democracia no país.
Os membros do Center trabalham para fortalecer a sociedade civil ucraniana e defendem ativamente que o país se afilie ao Tribunal Penal Internacional (TPI) – um tribunal de justiça permanente de âmbito internacional, do qual o Brasil faz parte, e que foi estabelecido em 2002 na cidade holandesa de Haia.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro deste ano, o Centro para as Liberdades Civis trabalha para identificar e documentar crimes de guerra russos contra a população civil ucraniana.