Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Origem, networking e ser homem são decisivos para ganhar um Nobel

97% dos vencedores das láureas de ciência são de mesma família extendida de pupilos acadêmicos — e a maioria esmagadora, homens norte-americanos e europeus.

Por Bela Lobato
13 out 2024, 12h00

O Prêmio Nobel foi criado em 1901 par+a premiar pesquisadores por grandes descobertas em cinco categorias: literatura, paz, física, química e fisiologia ou medicina. A premiação aconteceu em quase todos os anos desde então, salvo  interrupções durante as guerras mundiais.

Hoje, o Prêmio ocupa um lugar icônico na ciência e na divulgação de ciência: é a cerimônia mais importante para a área, equivalente ao Oscar para o mundo do cinema. Esse atestado de dedicação, relevância e criatividade valida décadas de pesquisa e trabalho duro de até três pessoas por categoria.

Além do prêmio de aproximadamente R$ 6,44 milhões — essa é a cifra de 2024, mas o valor variou ao longo da histórica —, pesquisas mostram que as equipes dos vencedores de Nobeis ganham mais investimentos, visibilidade e oportunidades depois da premiação.

Um artigo do portal o periódico científico Nature analisou toda a história do Nobel para entender o que é necessário para se tornar um ganhador. Realizada antes das premiações de 2024, a pesquisa estudou o perfil de 646 vencedores dos 346 prêmios de ciência (ou seja: paz e literatura ficaram de fora).

Anote aí: sua melhor chance de ganhar o prêmio é ser um homem de meia idade norte-americano ou europeu. Em toda a história do prêmio, apenas dez vencedores nasceram em países de baixa ou média renda, na classificação do Banco Mundial. E a maioria deles já havia se mudado para a Europa ou a América do Norte na época do prêmio.

Compartilhe essa matéria via:

Os vencedores tinham, em média, 58 anos quando receberam as láureas. Mas, em geral, os prêmios se referem a descobertas feitas entre 15 e 30 anos antes. Ou seja: se você tiver entre 28 e 43 anos, pode ser que ainda dê tempo de fazer alguma descoberta merecedora do Nobel.

Só não se esqueça de achar um emprego no Velho Mundo antes. E tem mais uma coisa importantíssima para multiplicar suas chances: você precisa arranjar um emprego com uma certa turma. 

Muitos ganhadores do Nobel foram orientados por outros ganhadores ou por colegas deles, e eles treinam e orientam pesquisadores que mais tarde também ganharão o Prêmio. Essa teia de relações é chamada previsivelmente de “família acadêmica”. 

Continua após a publicidade

Não são várias panelinhas. É uma grande panela: uma pesquisa analisou os 727 vencedores das categorias de física, química, medicina e economia e mostrou que 696 deles pertencem a uma única família acadêmica. 

Talvez a empreitada já não pareça muito promissora, mas independentemente da qualidade da sua pesquisa, ela compensa menos ainda se você for uma mulher. Em toda a história, apenas 3% dos prêmios das categorias de ciência foram para mulheres.

Parte disso é um reflexo dos vieses antigos, de dinâmicas sociais que não permitiam que mulheres estudassem, por exemplo. Mas é verdade também que, embora o Nobel se coloque em uma posição de premiar as melhores descobertas do mundo, ele parece enxergar só um pequeníssimo mundo.

Continua após a publicidade

Pegue o exemplo da China, por exemplo. A potência mundial abriga sete das dez maiores instituições acadêmicas do mundo por volume de produção, de acordo com o Nature Index, que mede as contribuições para revistas de ciências naturais e da saúde. Entretanto, até hoje, apenas dez cientistas chineses foram premiados com Nobeis de ciências.

Em 2019, a Academia Real das Ciências da Suécia, responsável pelo Prêmio, indicou que implantaria medidas para que mais mulheres e pessoas de outras origens fossem indicadas.

Mas é um processo complexo: ao que parece, o que foi feito foi diversificar um pouco as instituições que são chamadas para indicar candidatos ao prêmio e incluir, nas instruções da indicação, um pequeno texto sugerindo que se levasse em conta a diversidade de gênero e origem dos cientistas.

Continua após a publicidade

“Temos que encontrar um equilíbrio aqui. Alfred Nobel declarou explicitamente que não deveríamos considerar a nacionalidade ao conceder o prêmio. Ele escreveu em seu testamento que o indivíduo mais digno receberia o prêmio, independentemente de ser escandinavo ou não.”

“Portanto, nunca introduziremos cotas para nações, etnias ou, por falar nisso, gênero.” disse o biomédico sueco Göran Hanssonem, secretário-geral da Academia em entrevista ao portal da revista Nature em 2019. “É importante que a pessoa receba o prêmio Nobel por ser a mais digna. E nunca deve haver dúvidas quanto a isso.”

O nome dos indicados fica em sigilo por cinquenta anos, então é difícil saber medir se houve mudança na diversidade das indicações. O fato é que, apesar de alguma flutuação nos últimos anos, na maioria esmagadora dos casos, os Nobeis ainda terminam nas mãos de homens brancos norte-americanos e europeus.

Continua após a publicidade

É verdade que os números têm melhorado no século 20 inteiro, foram 11 mulheres premiadas nas categorias de ciência, e só nos 24 anos do século 21 já tivemos 17. Mas a lista não cresceu esse ano: em 2024, todos os prêmios dessas categorias foram para homens – cinco norte-americanos, um inglês e um canadense.

Até para os mais geniais dos pesquisadores, pode ser que a melhor alternativa para receber um Nobel seja nascer de novo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.