Plot twist: a história dos países que mudaram de nome
A Macedônia, por exemplo, passou pelos maiores trâmites burocráticos para mudar seu nome para... Macedônia do Norte. E ela não é a única.
Mudar de nome é complicado, mesmo se você for pessoa física. Aqui no Brasil, salvo em casos especiais, como pessoas transexuais, a mudança só é permitida durante o primeiro ano após a maioridade – e a mudança ainda não pode prejudicar o sobrenome.
Mesmo com tudo isso, ainda há o risco do pedido ser negado pela Justiça. E se é difícil para apenas uma pessoa, imagine o que é alterar o nome de um país inteiro!
Há um seleto grupo de nações que já passaram por toda essa burocracia. Um caso recente é o da Macedônia. Em 2018, a população de lá votou em um referendo que propunha um nome novo. O escolhido? Macedônia do Norte.
Um baita trabalho para pouca mudança. Mas a verdade é que a proposta visa encerrar uma disputa com a Grécia, que começou nos anos 90.
Você já foi à FYROM?
A briga é um pouco menos glamorosa do que as travadas por Alexandre, o Grande, certamente o macedônico mais famoso da história. Nem por isso é menos curiosa.
A palavra “Macedônia” sempre em disputa. Isso porque a Grécia possui uma região com esse nome e defende que, historicamente, é a legítima dona do termo.
Tal conflito se intensificou em 1991, quando a Macedônia deixou a Iugoslávia e passou a ser um país independente. Os gregos temiam que, a partir daí, fosse criado um movimento expansionista para anexar a região homônima dentro do seu território – e barraram o ingresso do país recém-criado na ONU. A briga por nomes, no fim das contas, é baseada em uma briga por terra.
Dois anos se passaram e as questões diplomáticas foram apaziguadas com um acordo: a Macedônia entraria para as Nações Unidas, desde que, daquele em ponto em diante, fosse provisoriamente chamada pelo acrônimo FYROM, que em português significa “Antiga República Iugoslava da Macedônia”. A partir daí, a sigla obrigatoriamente aparecia em tudo, de mapas a placas oficiais.
Só que usar o nome de um país que nem existe mais não está com nada. Muito menos um nome que exige uma sigla tão esquisita.
Ao longo dos anos, foi-se acumulando a pressão para dar tchau ao acrônimo e por fim ao conflito com a Grécia. Não era um intuito puramente pacifista: a proposta facilitaria a entrada na Macedônia na União Europeia e na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Em junho, as duas nações assinaram um tratado para que a Macedônia passasse a se chamar Macedônia do Norte. Falta o reconhecimento oficial para ser ratificado, além de um apoio maior da população: apesar do referendo do último domingo contar com mais de 90% dos votos à favor da mudança, apenas 36% dos cidadãos do país compareceram à votação. Para ser válido, o referendo precisa de pelo menos metade dos eleitores.
Mas o caso não é nem um pouco isolado. Na lista abaixo, a SUPER relembra algumas histórias de países que já trocaram de nome (ou que voltaram atrás na mudança).
Chéquia
Chame do que quiser: Chéquia, Tchéquia…Só não chame de República Tcheca. Em 2016, o país do Leste Europeu entrou com pedido nas Nações Unidas para que o novo nome extra oficial entrasse para os registros da organização.
A requisição, aceita pela ONU, não muda o nome oficial do país, mas funciona como estratégia de marketing para promover a sua identidade no cenário nacional. A própria embaixada da República Tcheca (digo, da Tchéquia), aconselha o uso da abreviação para situações que não requerem o nome formal.
A ideia ainda não pegou, mas quem sabe daqui alguns anos. Afinal, ninguém chama a França de República Francesa, certo?
eSwatini
A Suazilândia é uma das últimas monarquias remanescentes do mundo. O pequeno reino, localizado no sul da África, é montanhoso, sem saída para o mar e vive da agropecuária. Grande parte dos seus 1,1 milhão de habitantes possuem HIV, em um dos países com a menor expectativa de vida – apenas 39 anos.
É nesse lugar que mais um caso de mudança de nome aconteceu. Em abril, o rei “Mswati 3º” anunciou que Suazilândia passará a ser chamada de eSwatini, ou “terra dos suazis” (etnia majoritária do país) na língua local siswati.
Alterar o nome do país traz a sensação de recomeço, de se desconectar do passado, qualquer que seja o motivo. Na África, que passou por um intenso período de colonização europeia nos séculos 19 e 20, muitos países, ao conquistar a independência, fizeram a mudança. O próprio eSwatini ficou sob influência britânica até 1968.
Burkina Faso se chama assim desde 1984, quando ainda era conhecido como “Alto Volta”, uma invenção francesa.
A Namíbia eliminou em 1990 sua antiga alcunha, “Sudoeste Africano”, definida pela Alemanha imperialista por pura razão geográfica;
O Djibouti, até 1977, quando deixou de ser uma colônia da França, já tinha sido chamado de “Somalilândia Francesa” e “Território Francês dos Afars e Issas”.
Congo
Esse aí já mudou mais vezes de nome que o Brasil no início da colonização. De 1885, quando foi dominado pela Bélgica, até sua independência, nos anos 1960, o país assumiu variações do nome original: Estado Livre do Congo, Congo Belga, Congo-Leopoldville e República do Congo.
Em 1971, o ditador Mobutu Sese Seko, querendo deixar sua marca, achou que seria uma boa mudar novamente. O país passou a se chamar Zaire, uma outra denominação para o rio Congo. Não pegou, e bastou o governante sair do poder para que, nos anos 90, ele voltasse a se chamar República Democrática do Congo. A palavra “democrática” foi inserida para que a nação não fosse confundida com outro país africano, a República do Congo. Ainda bem que pensaram nisso.