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A morte do Sol

Daqui a 7,5 bilhões de anos o Sol vai se apagar. Mas, antes disso, vai crescer, brilhar muito mais e quase derreter o sistema solar.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h32 - Publicado em 31 mar 1997, 22h00

Thereza Venturoli

Ano 1 500 001 997 d.C. Um Sol gigantesco se levanta sobre o horizonte leste da Terra. Se você pudesse acordar nessa manhã, daqui a 1,5 bilhão de anos, não encontraria nada do mundo que conhece hoje. Nossa estrela está 10% mais brilhante e parece ocupar um pedaço enorme do céu, que por sinal não é mais azul. A atmosfera, opaca, úmida e abafada, é dominada por uma luz cor-de-laranja e amarela. Sobre o solo árido não há água, nenhuma planta ou animal. Enorme, brilhante e abrasador, o Sol está começando a morrer. E os primeiros sintomas da sua longa agonia já eliminaram a vida da Terra. Essa é a previsão da equipe de astrônomos liderada por Juliana Sackmann, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Alguns cálculos que definem o cenário que você vai conhecer a seguir foram feitos pelos pesquisadores especialmente para a SUPER.

Esgotamento perigoso

Como todas as estrelas, o Sol brilha porque tem massa demais. Os átomos de hidrogênio do seu núcleo não suportam o peso sobre eles e se fundem, causando ininterruptas reações nucleares. A cada segundo, são queimadas 700 milhões de toneladas de hidrogênio, liberando 386 bilhões de bilhões de megawatts de energia como calor, luz visível e outras radiações. Compare: a potência da Usina de Itaipu é de 12 600 megawatts por ano! Apesar de tanto vigor, o Sol perde hoje uma fração mínima de matéria. Mas daqui a cerca de 7 bilhões de anos, o hidrogênio terá se esgotado e o astro começará a queimar hélio. Aí, a energia liberada será tão maior que ele se transformará numa gigante vermelha – uma estrela que pulsa, variando seu diâmetro em milhões de quilômetros. Mercúrio será engolido e destruído.

Planeta duro de matar

O tamanho e o brilho solar chegarão ao máximo daqui a 7,5 bilhões de anos. Segundo Juliana Sackmann, seu raio ficará mais de 200 vezes maior, chegando muito perto da Terra. E seu brilho, 5 000 vezes mais intenso. Isso quer dizer que a estrela estará lançando sobre o sistema solar 5 000 vezes mais energia do que hoje. O calor na Terra será muito superior ao de Vênus atualmente, que é de 500 graus Celsius. O antigo planeta-água virará uma imensa caldeira, com temperatura capaz de derreter chumbo. “De acordo com a quantidade de matéria ejetada pelo Sol, a Terra pode ficar muito mais quente ainda”, previram Juliana e seu colega Arnold Boothroyd, da Universidade de Monash, na Austrália. E poderia até ser destruída nesse inferno dantesco. Mas vai acabar fugindo para longe (veja na página seguinte).

O carrossel enlouquece

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À medida que o brilho for aumentando, o vento solar lançará mais e mais energia e matéria da estrela moribunda espaço afora. Esse efeito reduzirá muito a massa do astro e, conseqüentemente, sua força gravitacional. “Até o ponto em que as amarras da gravidade estarão tão frouxas que os planetas correrão para mais longe”, explicou à SUPER Walter Maciel, do Instituto Astronômico e Geofísico da Unversidade de São Paulo. “Mas não escaparão do sistema solar.” Para saber exatamente quanto cada planeta se deslocará, seria necessário medir a quantidade precisa de massa perdida pelo Sol. “Mas calculamos que Vênus se moverá para a órbita atual da Terra e nosso planeta, para a de Marte”, disse Juliana. Os planetas exteriores, como Júpiter e Saturno, também entrarão no enlouquecido carrossel. Suas órbitas deverão dobrar de diâmetro.

Depois do suspiro final

Com os planetas girando mais longe, a solitária estrela agonizará por mais alguns milhares de anos. Na tentativa de reacender a fornalha em seu interior, ela terá se expandido e contraído quatro vezes, no total. A cada expansão, mais matéria será jogada fora. O Sol irá se enfraquecendo e se apagando aos poucos, até o suspiro final. Aí, o que um dia foi astro-rei amarelo e gigante vermelha não passará de uma anã branca – um corpo carcomido, com metade da massa atual espremida numa esfera com diâmetro 17 vezes menor que hoje e sem forças para liberar energia. Uma nebulosa, nuvem de poeira e gases resultante do desgaste estelar, envolverá o sistema solar mumificado. Os planetas, com exceção de Mercúrio, continuarão a longa e fria jornada em torno da carcaça estelar.

A saga terráquea segue

Que o Sol não duraria para sempre os astrônomos já sabiam. Estudando outras estrelas, eles construíram o modelo tradicional, que prevê o desaparecimento da Terra daqui a 5 bilhões ou 6 bilhões de anos, engolida pelo astro moribundo. A diferença do trabalho de Juliana e Boothroyd é que, nele, o Sol recebe tratamento personalizado. “Levamos em conta a variação de brilho e de tamanho específica da nossa estrela”, disse Juliana. A conclusão é o que você viu nas páginas anteriores: a Terra pode não ser engolida, mas jogada para longe – que bom! Mas toda forma de vida desaparecerá em 1,5 bilhão de anos – que mau!

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Desanimador? Nem tanto. Há gente séria achando que, até lá, o homem pode salvar o planeta. O astrofísico canadense Hubert Reeves, da Universidade de Montreal, vê duas saídas: reacender a fornalha ou empurrar a Terra para longe do inferno estelar (veja o infográfico abaixo). Reeves admite que nenhuma delas seria viável hoje. Mas quem sabe lá na frente dê. “É tudo uma questão de desenvolvimento tecnológico”, disse ele, otimista, à SUPER. Arnold Boothroyd acha mais fácil nos mudarmos para outro mundo. No que ninguém aposta é que a espécie humana sobreviva até lá. “É difícil imaginar um futuro tão remoto”, afirmou Boothroyd. “Seria como se o homem das cavernas pudesse adivinhar a sociedade atual.” Ainda assim, é bom crer que, na falta do Homo sapiens sapiens, outro ser inteligente qualquer leve a saga terráquea adiante.

Para saber mais

NA INTERNET:

Para encontrar o artigo científico de Juliana Sackmann e Arnold Boothroyd, digite o nome dos autores e o título do trabalho (Our Sun. Present and Future) no campo search do endereço: https://adsabs. harvard.edu/abstract_service.html

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Esta será a aparência da Terra daqui a 3,5 bilhões de anos, quando o Sol estará a meio caminho da morte. O que um dia foram os oceanos terá se transformado em vastas planícies. E os antigos continentes terão se tornado planaltos. É que, por aquele tempo, o Sol terá aumentado em 40% o seu brilho, secando de vez o planeta e varrendo a atmosfera para o espaço

Ao emagrecer, ela crescerá

Ao lançar mais energia e matéria, a estrela se espalhará.
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Hoje, o Sol perde, por ano, menos de um trilionésimo de sua massa. Os planetas permanecem estáveis em sua órbita.

Daqui a 7 bilhões de anos, ele comecará a pulsar. Seu diâmetro crescerá milhões de quilômetros e engolirá Mercúrio.

No auge da catástrofe, a Terra não passará de uma bola incandescente, a centenas de graus Celsius, sem atmosfera. As rochas terão se derretido e o relevo, se achatado

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Quanto maior, mais fraco

O Sol perde matéria e solta os planetas.

Daqui a 7,5 bilhões de anos, o Sol começará a pulsar, aumentando e diminuindo de tamanho em mais de 200 vezes.

Em cada expansão ele perderá matéria. Sob menor força gravitacional, os planetas saltarão para órbitas mais distantes.

Passado o desastre, uma nebulosa –nuvem de poeira e gases resultante do desgaste estelar – se dissipará pelo espaço, para muito além dos limites do que foi um dia o nosso sistema solar

Como escapar do fogo cruzado

Além de mudar de planeta, a humanidade tem duas soluções para salvar a Terra.

Reavivar o Sol. Foguetes nucleares ou raios laser seriam lançados no depósito de hidrogênio, próximo do núcleo, que queima hélio. O combustível entra de novo em reação nuclear. O Sol ganha mais alguns bilhões de anos.

Mudar de endereço. Foguetes nucleares empurrariam a Terra para além da região de Saturno. A energia para a operação viria da fusão do hidrogênio retirado da água do mar. Seria preciso esgotar 10% dos oceanos.

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