Como é o teclado de computador no Japão?
Eles digitam usando silabários (que são, grosso modo, alfabetos de sílabas). E o PC traduz as palavras "soletradas" em logogramas conforme necessário.
Primeiro, precisamos entender como funciona o sistema de escrita japonês. Nos países da Europa e suas ex-colônias, nos habituamos a alfabetos em que cada símbolo individual, a letra, corresponde a uma unidade mínima de som, um fonema. No Japão, não existem letras.
Há dois tipos de símbolos. Os mais conhecidos por nós são os kanjis, desenhos que representam palavras inteiras. Eles existem aos montes: o governo japonês assegura que cada estudante saia do ensino básico conhecendo no mínimo 1.026 símbolos básicos; no ensino médio, o ideal é alcançar a marca de 2.136. Acredita-se que haja, no mínimo, 50.000 kanjis, a maiora em desuso.
Além do problema óbvio de que um teclado de computador com todos os kanjis básicos seria impraticavelmente grande, esses logogramas são desafiadores para os estudantes porque não dizem nada sobre a maneira como as palavras são pronunciadas.
Em português, somos capazes de ler em voz alta um texto antiquado de José de Alencar mesmo ignorando o significado de metade do vocabulário empregado, porque os símbolos no papel são instruções para você fazer uma coreografia com a boca e as cordas vocais. Em japonês, por outro lado, se um estudante encontra um kanji antigão e rebuscado em um texto, ele não saberá quais sons ele tem.
Outro problema é que os kanjis não dão conta de todos os elementos necessários para escrever um texto. Você pode até ter um logograma universalmente conhecido para o verbo “comer”, mas como vai diferenciar “eu como” de “tu comes” ou “ele come”? Seria impossível decorar todas as pessoas e tempos de um verbo se cada flexão tivesse um kanji próprio.
É por isso que os kanjis geralmente se limitam a substantivos, adjetivos outras palavras que carregam as ideias centrais da mensagem. Quando você precisa escrever um elemento menor de função gramatical, conjugar um verbo ou usar sufixos e prefixos, existem dois silabários, chamados hiragana e katakana.
Um silabário é como um alfabeto em que cada símbolo representa uma sílaba, e não uma letra. Há mais sílabas do que letras, é claro (você pode combinar qualquer consoante com qualquer uma das cinco vogais, criando um montão delas). Esses dois silabários contêm 43 caracteres cada um.
Também é possível usar esses alfabetos para soletrar uma palavra que normalmente é representada por um kanji. Essa é uma saída comum para evitar o uso de kanjis obscuros. E também é o truque usado pelos teclados japoneses.
Cada tecla acessa as sílabas mais comuns do hiragana. Usando o shift, o alt e outras teclas auxiliares, é possível acessar as sílabas mais raras (do mesmo jeito que nós precisamos usar teclas auxiliares para tornar as letras maiúsculas ou adicionar acentos).
As coisas que os japoneses normalmente escreveriam em hiragana permanecem em hiragana. Já os kanjis surgem automaticamente na tela, em uma listinha de sugestões, conforme você soletra a palavra usando o hiragana. Os computadores já vão sugerindo kanjis conforme você digita, principalmente no caso de palavras comuns.
Um exemplo: água, em japonês, é mizu. As duas sílabas, mi e zu, são representadas em hiragana pelos símbolos み e ず. Assim que você digita esses dois símbolos, o computador sugere (ou transforma automaticamente) em 水, que é o logograma para água.
Já pensou os erros de corretor automático?
Um teclado sempre apresenta diferenças de acordo com o idioma para o qual está configurado. O teclado brasileiro, por exemplo, tem teclas para o acento grave (o “`”, que indica crase) e o “ç”, símbolos próprios do português e do francês. O mesmo acontece em outros países: os espanhóis têm a tecla “ñ”, os gregos têm os caracteres que representam letras como “alfa”, “beta” e “gama” e assim por diante.