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Data centers mergulhados no mar são aposta chinesa para refrigeração

A estratégia promete reduzir custos e acelerar avanços de IA, mas levanta dúvidas ambientais e sobre segurança.

Por Luiza Lopes
Atualizado em 26 ago 2025, 18h12 - Publicado em 26 ago 2025, 18h00

A corrida global pela inteligência artificial (IA) está transformando até mesmo o fundo do mar em terreno estratégico. 

Para enfrentar o enorme consumo de energia e água exigido pelos data centers – instalações que armazenam dados e processam cálculos em larga escala – a China decidiu colocar parte dessa infraestrutura dentro do oceano. 

A aposta é ousada: reduzir custos de resfriamento, ganhar eficiência energética e acelerar sua vantagem tecnológica frente aos Estados Unidos. Mas o movimento também levanta preocupações ambientais e de segurança.

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Data centers funcionam ininterruptamente, 24 horas por dia. Cada um pode abrigar milhares de servidores (computadores especializados) que, ao processar informações, liberam muito calor. Se não forem resfriados, os equipamentos superaquececem, perdem eficiência e até podem falhar.

Estudos apontam que a tarefa inglória de manter a temperatura sob controle exige 40% da energia total de um data center convencional. Hoje, grande parte desse resfriamento é feita com água, em quantidades colossais. 

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Uma investigação da organização jornalística sem fins lucrativos SourceMaterial e do jornal britânico The Guardian mostra que perguntas simples a sistemas de IA como o ChatGPT exigem refrigeração intensiva o que constitui uma parcela relevante do consumo hídrico. 

Como os climas mais úmidos aumentam o risco de corrosão nos data centers, os locais escolhidos costumam ser regiões secas. Nessas situações, o impacto do consumo de água é ainda mais crítico, já que os humanos precisam disputar a água escassa com as máquinas.

A solução chinesa é aproveitar o ambiente marinho como um “ar-condicionado natural”. Em vez de consumir água doce, os módulos submersos – grandes contêineres selados que ficam no fundo do mar – usam tubulações para fazer a água oceânica circular por radiadores acoplados. 

Esses radiadores funcionam como trocadores de calor, resfriando os racks de servidores, que são estruturas metálicas parecidas com armários, onde os computadores de alto desempenho ficam empilhados.

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Assim, o sistema reduz a dependência de refrigeração mecânica e, segundo estimativas da empresa Shanghai Hailanyun Technology (também conhecida como HiCloud), corta em pelo menos 30% o gasto energético em comparação com estruturas em terra.

“Essa abordagem sinaliza uma mudança ousada em direção à infraestrutura digital de baixo carbono e pode influenciar normas globais em computação sustentável”, afirmou à Scientific American a analista Shabrina Nadhila, do think tank Ember.

Em Hainan, no sul da China, a Hailanyun já opera comercialmente desde o fim de 2023. Um módulo de 1.300 toneladas foi submerso a 35 m de profundidade em novembro e concluído em 31 de dezembro de 2023; a operação foi considerada estável em janeiro de 2024.

Em fevereiro deste ano, a emissora estatal CCTV noticiou a adição de uma nova cápsula que elevou a capacidade do conjunto para o equivalente a 30 mil computadores de alto desempenho operando ao mesmo tempo – ou 7 mil conversas por segundo com o chatbot chinês DeepSeek.

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Já em junho, a Hailanyun fechou um acordo para instalar um data center debaixo d’água a cerca de 10 km da costa de Xangai. A energia virá quase toda de um parque eólico no mar, e a operação deve começar em setembro.

A tecnologia chinesa conta com com apoio governamental e está se expandindo rapidamente. O pesquisador Zhang Ning, da Universidade da Califórnia em Davis, destacou à Scientific American que o país avançou de testes-piloto em 2022 para operações comerciais em menos de 30 meses – ritmo muito mais acelerado do que experiências semelhantes nos EUA e na Europa.

Antes disso, iniciativas parecidas já haviam sido testadas em outros lugares. A Microsoft, por exemplo, lançou em 2015 o Projeto Natick, afundando cápsulas cheias de servidores na costa da Escócia. Os experimentos mostraram menor taxa de falhas e melhor eficiência energética, mas o programa foi suspenso em 2020 e mantido apenas como plataforma de pesquisa.

Riscos ambientais

No Projeto Natick, o aquecimento da água ao redor das cápsulas foi considerado mínimo apenas alguns milésimos de grau acima da média. Ainda assim, pesquisadores lembram que até pequenas variações podem ter impacto quando ocorrem em larga escala ou durante ondas de calor marinhas, fenômeno cada vez mais frequente com as mudanças climáticas.

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Nessas condições, a temperatura mais alta acelera a queda de oxigênio dissolvido na água, o que pode comprometer espécies sensíveis e alterar cadeias alimentares inteiras.

Além da questão térmica, há preocupações sobre riscos de contaminação. Os módulos submersos utilizam óleos e gases para isolar e resfriar os servidores. Um vazamento, mesmo que raro, poderia liberar substâncias químicas em áreas frágeis do ecossistema.

Também existe o desafio da corrosão: a exposição constante à salinidade exige camadas protetoras complexas e inspeções regulares, sob pena de comprometer a vedação das cápsulas.

Outro ponto é a possibilidade de os sistemas serem vulneráveis a ruídos subaquáticos específicos. Ondas sonoras de certas frequências poderiam afetar o hardware ou causar falhas temporárias um risco que abre espaço para cenários de ataques maliciosos via som.

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A escalabilidade dessa tecnologia também enfrenta entraves. Para que a tecnologia seja mais do que um experimento, seria necessário replicar centenas de cápsulas interligadas, o que envolve logística complexa: cadeias de suprimentos para peças resistentes à pressão e à corrosão, licenciamento em águas costeiras, monitoramento ambiental constante e, principalmente, custos de instalação e manutenção que hoje superam os de data centers convencionais.

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